A cada quatro horas, uma pessoa negra foi morta pela polícia brasileira ao longo de 2022. É o que indica o relatório “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, divulgado pela Rede de Observatórios nesta quinta-feira (16).
De acordo com o boletim, que monitora a letalidade policial em oito estados, dos 3.171 registros de morte com informação de cor/raça declaradas, negros somam 87,35%, um total de 2.770 pessoas. Os dados foram obtidos junto a secretarias estaduais de segurança pública de Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Como nos estudos anteriores, o novo monitoramento da Rede de Observatórios da Segurança demonstra o alto e crescente nível da letalidade policial contra pessoas negras. No ano passado, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro no número de casos registrados nos estados incluídos no estudo. Bahia e Rio foram responsáveis por 66,23% do total dos óbitos.
A Bahia lidera tanto em número de pessoas negras mortas por agentes policiais, ao todo foram 1.465, quanto no percentual de pretos e pardos mortos considerando a população de outras cores/raças, 94,76% do total de óbitos.
Em segundo lugar, em número de mortos, vem o Rio de Janeiro, com 1.042 óbitos de pessoas negras, 86,98% do total.
O Pará registrou 631 vítimas negras (93,9%), enquanto, Pernambuco, Piauí e Ceará registraram 91 (89,66%), 39 (88,24%) e 152 (80,43%) óbitos de pessoas pretas ou pardas, respectivamente.
São Paulo registrou 419 mortes de pessoas pretas ou pardas, fazendo de pessoas negras 63,9% das vítimas de letalidade policial. O estado teve uma redução de 48,32% no número de mortes provocadas por agentes de segurança, desde 2019, quando foram 867 vítimas.
O Maranhão, também monitorado pela Rede de Observatórios, não indica cor ou raça nos óbitos ocasionados pela polícia. Mais de 80% da população maranhense se declara preta ou parda. No estado, 92 pessoas foram mortas por agentes policiais.
Este é o quarto ano consecutivo que negros são maioria entre o número de mortos pela polícia.
“Em quatro anos de estudo, um segundo fator nos causa grande perplexidade: mais uma vez, o número de negros mortos pela violência policial representar a imensa maioria e a constância desse número, ano a ano, ressalta a estrutura violenta e racista na atuação desses agentes de segurança nos estados, sem apontar qualquer perspectiva de real mudança de cenário”, diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.
“É necessário tomar a letalidade de pessoas negras causada por policiais como uma questão política e social. As mortes em ação também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população”, completa.
O objetivo da Rede de Observatórios é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos. O grupo atua na produção de dados, com rigor metodológico, nos oito estados em parceria com instituições locais, acompanhando os indicadores de segurança junto aos parceiros.