celebridades

Demi Moore e os desafios enfrentados pelas mulheres que ousam envelhecer

08 mar 2025 - 09:00

Redação Em Dia ES

por Julieverson Figueredo

Share
Indústria cinematográfica mantém padrão de glorificar a juventude enquanto descarta a maturidade feminina, como evidenciado na última cerimônia do Oscar
Demi Moore e os desafios enfrentados pelas mulheres que ousam envelhecer. Foto: Getty Images | Arte: Em Dia ES

O que poderia ser uma noite histórica acabou como uma reprise de um filme já ultrapassado. Na noite do último domingo (2), Hollywood mostrou que continua a perpetuar um ciclo que glorifica a juventude feminina enquanto descarta aquelas que ousam envelhecer.

Esse padrão, que há décadas molda a carreira de atrizes, se repetiu quando Demi Moore perdeu a estatueta de Melhor Atriz para Mikey Madison, jovem estrela do longa Anora. A escolha reacendeu debates sobre o preconceito etário e a forma como a indústria trata suas estrelas femininas, e a vitória foi vista como uma surpresa. Mesmo com Madison já tendo vencido o BAFTA – considerado o “Oscar britânico”, Moore era apontada como a favorita da noite. Até mesmo Fernanda Torres, que concorria com elas, revelou em entrevista ao Jornal Nacional, na véspera da premiação, que acreditava que o prêmio deveria ir para Demi Moore.

Não que Madison não merecesse ganhar, pelo contrário. Desde a estreia de Anora em Cannes, em maio de 2024, sua atuação vinha sendo amplamente elogiada, com razão, e desde então seu nome estava no páreo para levar o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas devido a sua incrível performance no longa do diretor Sean Baker, que também levou o Oscar de Melhor Filme, Roteiro, Direção e Montagem. Contudo, a derrota de Moore expôs mais uma vez a dificuldade que atrizes veteranas enfrentam para serem reconhecidas na indústria, mesmo entregando atuações surpreendentes.

Demi Moore, de 62 anos, foi celebrada por sua performance em A Substância, filme que mistura terror e ficção científica para abordar o “prazo de validade” imposto às mulheres na indústria do entretenimento. Dirigido por Coralie Fargeat, o longa já havia conquistado o Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2024 e rendido a Moore um Globo de Ouro, além da indicação ao Oscar e diversos outros prêmios ao longo da temporada. No longa, Moore interpreta Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de cinema que vê sua carreira desmoronar ao ser substituída por uma mulher mais jovem. A trama explora a obsessão pela juventude e os sacrifícios feitos para mantê-la, com Elisabeth ingerindo uma substância que a transforma em uma versão mais jovem de si mesma, interpretada por Margaret Qualley – que também merecia uma indicação a atriz coadjuvante, o que acabou não acontecendo. A narrativa, que mistura elementos de horror corporal e crítica social, reflete a realidade enfrentada por muitas mulheres em Hollywood.

A história de Elisabeth é marcada por sentimentos de comparação, solidão e autodestruição, que se intensificam à medida que sua versão jovem, Sue, começa a tomar o controle de sua vida. O filme não apenas choca com as transformações físicas apresentadas – que incluisve rendeu a vitória na categoria de Melhor Cabelo e Maquiagem no Oscar – mas também com os pensamentos e medos mais íntimos da protagonista. “O monstro já estava lá desde o começo”, sugere a narrativa, apontando para a pressão constante enfrentada pelas mulheres na indústria.

A derrota de Demi Moore no Oscar não pode ser vista apenas como uma questão de mérito artístico, mas sim como um reflexo de um sistema que persiste em privilegiar a juventude em detrimento da maturidade feminina. Moore, que ao longo de sua carreira enfrentou duras críticas, especialmente por papéis como o de Striptease (1996), carrega o estigma de ter explorado sua sexualidade em cena – algo que, infelizmente, a indústria cinematográfica tende a punir severamente quando se trata de mulheres. Ao contrário, atores masculinos como Al Pacino e Robert De Niro, que desempenharam papéis igualmente polêmicos, continuam sendo celebrados em Hollywood.

A vitória de Mikey Madison e a derrota de Moore não apenas alimentam o debate sobre a valorização da juventude na indústria, mas também levantam questões sobre o futuro das mulheres no cinema. Atrizes como Anya Taylor-Joy, Jenna Ortega e Zendaya são apresentadas como as promissoras estrelas da nova geração, mas muitas vezes vistas como substitutas para as mulheres das gerações anteriores. A dúvida é saber até quando elas poderão manter esse lugar de destaque, apesar do talento indiscutível das atrizes citadas. A juventude em Hollywood não é uma dádiva eterna e a pressão sobre essas atrizes para permanecerem relevantes é imensa. A indústria, infelizmente, parece não ter espaço para a longevidade de carreiras quando se trata de mulheres.

Demi Moore, apesar de não ter conquistado o Oscar, continua sendo uma figura importante no debate sobre a representação feminina em Hollywood. Sua performance em A Substância foi aclamada, e seu impacto na indústria continuará sendo discutido, uma prova de relevância e talento não se mede por prêmios ou estatuetas. A sua trajetória, marcada por altos e baixos, serve como um lembrete de que a maturidade não deve ser vista como um fardo, mas como uma riqueza que traz consigo a experiência e a complexidade que a indústria cinematográfica frequentemente deixada de lado.

1
0

Se você observou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, nos avise. Clique no botão ALGO ERRADO, vamos corrigi-la o mais breve possível. A equipe do EmDiaES agradece sua interação.

Comunicar erro

* Não é necessário adicionar o link da matéria, será enviado automaticamente.

A equipe do site EmDiaES agradece sua interação.