A riqueza dos bilionários no mundo cresceu US$ 2 trilhões (aproximadamente R$ 12 trilhões) em 2024, um aumento três vezes maior que o registrado em 2023, de acordo com o relatório “Às Custas de Quem: A Origem da Riqueza e a Construção da Injustiça no Colonialismo”, publicado nesta segunda-feira (20) pela Oxfam. Ao mesmo tempo, o número de pessoas em situação de pobreza global permanece praticamente inalterado desde 1990. O relatório foi divulgado durante o Fórum Econômico de Davos, que acontece na Suíça nesta semana.
Segundo a Oxfam, o número de bilionários aumentou de 2.565 em 2023 para 2.769 em 2024. Juntos, eles acumularam uma riqueza total de US$ 15 trilhões (R$ 90 trilhões), frente aos US$ 13 trilhões do ano anterior. Esse crescimento significa que, em média, os bilionários acumularam US$ 5,7 bilhões por dia, cerca de R$ 34 bilhões. Os dez mais ricos, individualmente, ganharam em média US$ 100 milhões por dia, ou R$ 600 milhões.
Mesmo diante desse cenário, o relatório aponta que o número de pessoas vivendo em extrema pobreza não teve alterações significativas nos últimos 34 anos. Dados do Banco Mundial reforçam que os índices de pobreza global permanecem praticamente os mesmos desde 1990.
Trilionários até 2035
A Oxfam alerta para a possibilidade de surgirem cinco trilionários até 2035, caso o ritmo atual de concentração de riqueza continue. A organização destaca que 60% da riqueza dos bilionários atuais tem origem em heranças, monopólios ou conexões políticas, uma realidade que perpetua o domínio de uma minoria sobre a economia global.
“Muitos dos super-ricos, particularmente na Europa, devem parte de sua riqueza ao colonialismo histórico e à exploração de países mais pobres, que continua até hoje”, aponta o relatório.
Segundo a Oxfam, o 1% mais rico nos países do Norte Global extraiu cerca de US$ 30 milhões (R$ 180 milhões) por hora de países de baixa e média renda em 2023.
“Essa crescente concentração de riqueza é possibilitada por uma concentração monopolista de poder, com os bilionários exercendo cada vez mais influência”, declarou a organização. “O auge dessa oligarquia é um presidente bilionário [Donaldo Trump], apoiado e comprado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, governando a maior economia do planeta [EUA]. Apresentamos este relatório como um alerta severo de que as pessoas comuns em todo o mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de um número ínfimo de pessoas”, acrescentou Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam.
Impactos no Sul Global
Os dados apontam que países de baixa e média renda gastaram quase metade de seus orçamentos nacionais em pagamentos de dívidas para credores ricos, principalmente localizados no Norte Global. Entre 1970 e 2023, esses governos desembolsaram US$ 3,3 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões) em juros.
Além disso, a Oxfam ressalta que trabalhadores em países de baixa e média renda recebem apenas 21% da renda global, mesmo contribuindo com 90% da mão de obra que move a economia mundial. O estudo também menciona que os salários no Sul Global são entre 87% e 95% mais baixos do que no Norte para funções de complexidade equivalente.
Como solução, a organização recomenda medidas como a taxação de bilionários, o combate a paraísos fiscais, o desmonte de monopólios e a regulação de grandes corporações para garantir salários dignos. “Os governos precisam se comprometer a reduzir a desigualdade, garantindo que as rendas dos 10% mais ricos não sejam superiores às dos 40% mais pobres”, afirmou Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam.