Entre os dias 7 e 10 de novembro de 2024, o filme “Ainda Estou Aqui”, do cineasta Walter Salles, alcançou a liderança das bilheterias brasileiras, com arrecadação de R$ 8,6 milhões e público de 358 mil espectadores. Candidato brasileiro a uma vaga no Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional, o longa enfrentou uma tentativa de boicote promovida por perfis de direita nas redes sociais. O filme traz à tona uma narrativa sobre a Ditadura Militar e é protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello.
A campanha de boicote, que começou nas redes sociais antes mesmo da estreia, no último dia 7 de novembro, foi alimentada por internautas contrários à temática do filme, que aborda a luta da viúva Eunice Paiva, interpretada por Torres, em busca de reconhecimento pela morte do marido, Rubens Paiva, vítima do regime militar.
Inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, “Ainda Estou Aqui” narra a trajetória de uma mãe em busca de respostas após o desaparecimento e morte de seu marido em 1971. A temática sensível para muitos apoiadores da direita despertou a reação de perfis nas redes, que acusaram o filme de “revisão histórica” e de abordar supostos “fatos inverídicos” sobre a Ditadura Militar. Internautas conservadores intensificaram a campanha de boicote, alguns utilizando o slogan “Boicote sem dó”. “E Ainda Estou Boicotando… E você? Não vou assistir nem de graça”, disse um usuário nas redes.
Em outra publicação, perfis compartilharam uma foto de Fernanda Torres ao lado do presidente Lula, com afirmações de que a atriz teria “preconceito contra crentes” e pedindo que espectadores conservadores deixassem de assistir ao filme. Uma página identificada como Primeiro Front, também no X (antigo Twitter), questionou os seguidores: “Com medo de boicote, Fernanda Torres, eleitora de Lula que já afirmou ter preconceito contra crentes, agora pede paz e diz que seu filme ‘Ainda Estou Aqui’ é para todos… Você vai boicotar o filme?”.
Outro internauta que compartilhou o selo de “Boicote sem dó”, fez um trocadilho com o nome da obra e disse que não vai prestigiar o filme: “E Ainda Estou Boicotando… E você? Não vou assistir nem de graça”.
Alguns ainda estão propagando a fake news de que, por conta do boicote, Ainda Estou Aqui está fracassando nas bilheterias. “Curiosamente, os artistas brasileiros de esquerda não sabiam que grande parte do público que os apoiava e sustentava em sua maioria eram de direita, logo sua arrogância fez com que perdessem esse público e agora estão ficando em dificuldades”, afirmou o usuário @novakreis.
Outro perfil ainda fez um trocadilho com o título do longa: “E Ainda Estou Boicotando”…. E Você?”. “Não vou assistir nem de graça”, garantiu o internauta, incluindo um selo de “Boicote sem dó” para reforçar que não teria interesse no filme dirigido por Walter Salles.
Como se não fosse suficiente, ainda há perfis bolsonaristas sugerindo que o filme não estaria tendo sucesso nas bilheterias nacionais, embora a realidade nos cinemas seja totalmente oposta às publicações dos internautas. Eles dizem que os atores estariam perdendo prestígio do público.
“Curiosamente, os artistas brasileiros de esquerda não sabiam que grande parte do público que os apoiava e sustentava em sua maioria eram de direita, logo sua arrogância fez com que perdessem esse público e agora estão ficando em dificuldades”, comentou mais um, sem comprovar a teoria.
Apesar das tentativas de desestimular o público, os dados indicam um interesse massivo pelo filme de Salles. “Ainda Estou Aqui” liderou as bilheterias nacionais, superando “Venom: A Última Rodada” (R$ 6,6 milhões) e “Operação Natal” (R$ 5,3 milhões), que ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente.
No total, os dez filmes mais vistos do período arrecadaram R$ 30,2 milhões, levando 1,3 milhão de pessoas aos cinemas no Brasil, sendo o longa de Salles responsável por cerca de 27% dessa cifra.
Confira:
“Ainda Estou Aqui” – R$ 8,6 milhões
“Venom: A Última Rodada” – R$ 6,6 milhões
“Operação Natal” – R$ 5,3 milhões
“Arca de Noé” – R$ 2,6 milhões
“Todo Tempo que Temos” – R$ 2,6 milhões
“Terrifier 3” – R$ 1,7 milhão
“A Forja – O Poder da Transformação” – R$ 1 milhão
“Robô Selvagem” – R$ 733,7 mil
“Não Solte!” – R$ 612,7 mil
“A Substância” – R$ 300,6 mil
O resultado coloca “Ainda Estou Aqui” como a terceira maior estreia nacional de 2024, ficando atrás apenas de “Nosso Lar 2: Os Mensageiros”, que somou R$ 12 milhões e 553 mil espectadores, e “Os Farofeiros 2”, com R$ 9,1 milhões e 447 mil ingressos vendidos em seus respectivos fins de semana de lançamento.
Além do sucesso no Brasil, o filme foi premiado pelo melhor roteiro no Festival de Veneza, o que fortaleceu a expectativa de que ele conquiste a vaga para o Oscar. O papel de Eunice Paiva rendeu a Fernanda Torres uma posição nas apostas internacionais para o prêmio de Melhor Atriz.
A tentativa de boicote a “Ainda Estou Aqui” remonta a outros lançamentos que enfrentaram campanhas de boicote, mas alcançaram grande popularidade entre os espectadores. Filmes como “Marighella” e “Medida Provisória”, ambos com temáticas que questionam períodos e personagens históricos do Brasil, também passaram por boicotes e acabaram virando temas de grande debate nas redes e mídia. Assim como os antecessores, a obra de Salles foi promovida nas redes sociais por aqueles que rejeitaram o boicote.