política

Prefeitura veta projeto que previa acesso público e gratuito às lagoas de Linhares

03 nov 2025 - 14:15

Redação Em Dia ES - por Julieverson Figueredo

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Proposta buscava garantir ao menos um ponto de acesso gratuito em cada lagoa de interesse turístico ou ambiental, mas foi considerada inconstitucional pela Procuradoria do Município. Veto será analisado pela Câmara nesta segunda-feira (3)
Prefeito de Linhares barra projeto que garantia acesso gratuito às lagoas. Foto: Foto: Felipe Reis/PML

O prefeito de Linhares, Lucas Scaramussa, vetou integralmente o projeto que autorizava o Poder Executivo a garantir ao menos um ponto de acesso público e gratuito às lagoas de interesse ambiental, turístico ou recreativo do município. A proposta, de autoria do vereador Juninho Buguiu, foi considerada inconstitucional pela Procuradoria-Geral do Município, que apontou invasão de competência administrativa do Executivo e criação de despesas sem previsão orçamentária. O veto será analisado pelos vereadores em sessão ordinária nesta segunda-feira (3). O projeto havia sido aprovado pela Câmara Municipal em 18 de agosto.

A justificativa do projeto
Apresentado em 21 de maio de 2025, o projeto de lei buscava corrigir o que o autor chamou de “distorção”. Na justificativa, o vereador argumentou que Linhares é conhecida por sua riqueza hídrica, com dezenas de lagoas de grande beleza, mas que a maioria delas está cercada por propriedades privadas. Essa situação, segundo o parlamentar, impede o livre acesso da população e fere a Constituição Federal, que garante a acessibilidade a bens de uso comum do povo, como águas e lagos.

O objetivo da proposta era obrigar o Executivo a criar e manter pelo menos um ponto de acesso gratuito em cada lagoa de interesse, “garantindo o direito de lazer, cultura, esporte e convivência da população de Linhares com seu patrimônio natural”.

O texto original previa que o Executivo seria “obrigado a garantir” o acesso, podendo, para isso, destinar áreas públicas existentes, realizar desapropriações de trechos de terra ou firmar termos de cooperação com proprietários privados. Os acessos deveriam ser sinalizados, seguros para pedestres e mantidos limpos.

Durante a tramitação, os procuradores da Câmara Municipal consideraram o projeto inconstitucional por criar uma “obrigação” e gerar despesas para o Executivo. Para contornar o impasse, o vereador apresentou a Emenda nº 13/2025, substituindo o termo “obrigado” por “autorizado”. Com a alteração, o projeto foi votado e aprovado pelos vereadores.

As razões do veto
Em 17 de setembro de 2025, o prefeito comunicou o veto total por inconstitucionalidade, acolhendo o parecer da Procuradoria-Geral do Município. O documento sustenta que, mesmo com a mudança de “obrigação” para “autorização”, o texto invade a competência privativa do chefe do Executivo para regular matérias administrativas.

A Procuradoria argumenta que a proposta, na prática, cria obrigações ao Executivo, como desapropriação, sinalização e manutenção, gerando encargos operacionais e financeiros e violando o princípio da separação dos Poderes.

O parecer jurídico também rebateu a tentativa de contornar a inconstitucionalidade com a emenda, afirmando que “o caráter meramente autorizativo da lei não afasta, tampouco mitiga, a sua inconstitucionalidade”. O texto cita jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e doutrina que classifica leis autorizativas de iniciativa parlamentar como vícios patentes quando tratam de atos de gestão.

O veto ainda aponta que “inexiste no orçamento municipal previsão para a despesa” que a medida geraria e que o projeto “não está de acordo com as normas orçamentárias”.

Reação e próximos passos
O vereador Juninho Buguiu reagiu à decisão publicando um vídeo nas redes sociais. “Queremos entender o motivo desse veto. Será que é contra quem menos tem? Prefeito, queremos ouvir a sua opinião. O senhor mesmo falou, em seu plano de governo, sobre incentivar o turismo em Linhares. Pois é justamente isso que o nosso projeto propõe: criar espaços públicos e gratuitos para que todos possam ter acesso e lazer”, declarou.

O veto total do Executivo será analisado pelos vereadores na sessão desta segunda-feira (3). Eles poderão manter o veto, o que levará ao arquivamento do projeto, ou derrubá-lo, fazendo com que o texto seja promulgado pela Câmara e se torne lei. Nesse caso, a Prefeitura de Linhares poderá ingressar na Justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) para contestar a validade da norma.

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Atualizado: 03/11/2025 17:18

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