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Câmara e Senado escalam crise com Lula e põem em risco a agenda do governo

27 nov 2025 - 09:10

Redação Em Dia ES - por Julieverson Figueredo, com informações de Folha de S. Paulo

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Motta e Alcolumbre faltam à cerimônia do Imposto de Renda e articulam derrotas para o Planalto. Anistia a Bolsonaro perde força nos bastidores
Presidentes da Câmara e do Senado rompem com Lula e travam votações cruciais. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A crise institucional entre a cúpula do Congresso Nacional e o governo federal atingiu um novo patamar de tensão nesta quarta-feira (26). A ausência deliberada dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na cerimônia de sanção da isenção do Imposto de Renda, no Palácio do Planalto, simboliza o rompimento das relações políticas e coloca em risco a aprovação de pautas prioritárias para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O boicote, articulado em conjunto pelos dois parlamentares, sinaliza dificuldades imediatas para o Executivo. Entre os temas ameaçados estão a elaboração do Orçamento de 2026, ano eleitoral, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e, principalmente, a aprovação do nome de Jorge Messias para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta quinta-feira (27), o Congresso reúne-se para analisar vetos presidenciais, e a expectativa nos bastidores é de que o governo sofra novas e expressivas derrotas.

O pivô do conflito no Senado
A relação entre Davi Alcolumbre e o Planalto deteriorou-se após a indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, para a vaga deixada pelo ministro Luís Roberto Barroso, aposentado em outubro. Alcolumbre, que era o principal fiador de Lula no Legislativo, defendia a indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Em retaliação, o presidente do Senado tem atuado para minar a aprovação de Messias. Ele marcou a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para o dia 10 de dezembro, impondo um prazo curto para a articulação do indicado. Além disso, Alcolumbre aprovou um projeto que concede aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde, gerando um impacto bilionário nas contas públicas, um recado direto de insatisfação.

Tensão na Câmara e isolamento do PT
Na Câmara dos Deputados, Hugo Motta também acumula queixas. O rompimento tornou-se público após divergências com o líder do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), sobre a escolha de Guilherme Derrite (PP-SP), aliado de Tarcísio de Freitas e oposição ao governo, como relator do projeto antifacção. Motta acusa ministros como Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Fernando Haddad (Fazenda) e a Secretaria de Comunicação Social (Secom) de incentivarem ataques contra ele e a Câmara nas redes sociais e de agirem de forma “desleal”.

Para blindar seu mandato e garantir governabilidade independentemente do Planalto, Motta formou um “superbloco” parlamentar com 275 deputados. A aliança reúne oito partidos, incluindo PSD, União Brasil, PP, MDB e Republicanos, isolando tanto o PT quanto o PL. Com essa maioria, o grupo tem poder para aprovar urgências e ditar o ritmo da pauta legislativa sem depender da esquerda ou da direita radical.

Prisão de Bolsonaro e anistia
Enquanto a crise com o governo escala, a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou em segundo plano no Congresso. Preso preventivamente no sábado (22) e cumprindo pena de 27 anos desde terça-feira (25) por envolvimento em trama golpista, Bolsonaro recebeu apoio tímido. Apenas sete senadores o defenderam na tribuna e não houve obstruções de votações ou protestos significativos.

A pauta da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro segue travada. Hugo Motta sinalizou que só admite levar o texto a plenário se ele se restringir à redução de penas, enquanto o PL insiste na anistia completa. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) admitiu o impasse e sugeriu que o momento exige “mais estratégia e menos radicalidade”.

Reação do Governo
Interlocutores de Lula defendem uma atuação direta do presidente para distensionar o ambiente, alertando que as relações institucionais não deveriam ser contaminadas pelo debate político. No entanto, aliados do governo afirmam que as ações de Motta, como pautar projetos contrários aos interesses do Executivo e escolher relatores de oposição, trazem consequências políticas e acirram os ânimos.

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Atualizado: 27/11/2025 09:31

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