O mês de agosto marca uma importante campanha de conscientização sobre a violência contra as mulheres no Brasil: o Agosto Lilás. Instituída em 2022 pelo Ministério das Mulheres, a campanha visa identificar, combater e interromper a violência de gênero antes que ela culmine em tragédias, como o feminicídio. A escolha de agosto não é aleatória; foi nesse mês, em 2006, que a Lei Maria da Penha foi sancionada, tipificando diferentes formas de violência contra a mulher, incluindo psicológica, física, sexual, moral e patrimonial.
No Espírito Santo, a situação é alarmante. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), o estado registrou, em 2023, mais de 21 mil casos de agressão a mulheres, um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior. Nos primeiros seis meses de 2024, já foram denunciados 11.516 casos de violência doméstica, superando os 10.768 casos do mesmo período do ano passado. Além disso, 35 feminicídios ocorreram em 2023, e em 2024, de janeiro até o início de julho, já foram registrados 21 casos.
O Espírito Santo também se destaca de maneira preocupante em um levantamento nacional. De acordo com a 3ª edição da pesquisa “Estatísticas de Gênero – Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, divulgada pelo IBGE em março de 2024, o estado ocupa a 5ª posição no país em proporção de mulheres com 18 anos ou mais vítimas de violência psicológica, física ou sexual pelo parceiro íntimo, seja atual ou anterior. “Estes números evidenciam uma realidade brutal, que atinge mulheres em diferentes faixas etárias, reforçando a necessidade de uma resposta coletiva e assertiva”, destaca Luana Romero, diretora executiva do Ideias.
Mas o que é exatamente a violência de gênero?
Trata-se da violência direcionada a alguém por pertencer a um determinado gênero, sustentada pela crença de que certos papéis sociais devem ser cumpridos por mulheres. Um exemplo é o homem que acredita ser legítimo agredir sua esposa se ela não desempenhar tarefas domésticas, como cozinhar, perpetuando a ideia de que esse é o “papel” da mulher na sociedade. “Por muito tempo, a violência contra a mulher foi naturalizada e até legitimada por uma estrutura social que coloca os homens em uma posição de poder, inclusive sobre o corpo feminino”, explica Luana Romero.
Além do impacto físico, a violência de gênero tem consequências profundas na saúde mental e na vida social das vítimas.
“Mesmo aquelas que conseguem se libertar de relacionamentos abusivos muitas vezes enfrentam o medo constante de serem revitimizadas, o que pode resultar em isolamento social, prejuízos no trabalho e nas atividades cotidianas, e uma dificuldade em se permitir ser vulnerável ou buscar novos relacionamentos. Esses efeitos são devastadores e reforçam a importância de políticas públicas robustas e um apoio contínuo para as vítimas”, conclui Romero.
Neste Agosto Lilás, o chamado é para que a sociedade, como um todo, se envolva na luta contra a violência de gênero. Ferramentas como o disque 180, para denúncias, e o suporte de assistentes sociais, psicólogos e advogados são essenciais, mas a transformação só será possível com uma mudança cultural que repudie qualquer forma de violência contra as mulheres.