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MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO representa o cinema Yanomami no Festival de Vitória

21 set 2023 - 12:10

Redação Em Dia ES

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Premiado nos festivais É Tudo Verdade e em Gramado, o filme segue viajando o Brasil e o mundo ao lado de outros dois curtas de cineastas yanomamis
MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO. Crédito: Morzaniel Iramari. Fonte: Sinny Assessoria

Em um momento emblemático em relação aos direitos dos povos originários, com o julgamento do marco temporal para demarcação de terras indígenas em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), três curtas-metragens yanomamis viajam o Brasil e o mundo para apresentar aos não-indígenas a cultura Yanomami e sua resistência na defesa de suas tradições, sua própria população e da floresta. Um deles é o filme MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO, de Morzaniel Ɨramari, que segue sua célebre carreira pelos festivais, agora desembarcando na Mostra Competitiva Nacional de Curtas do 30º Festival de Cinema de Vitória, realizado de 18 a 23 de setembro na capital capixaba. A produção que será exibida nesta quinta (21) no Teatro Glória do Sesc Glória, em Vitória, conta com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que nos conduz nessa experiência apresentando o conhecimento dos Yanomami sobre os sonhos.

“Este filme vai ajudar a fazer com que os não-indígenas conheçam o povo Yanomami, conheçam as nossas imagens. Assim todos podem conhecer como nós vivemos na nossa casa e como nós sonhamos, como os xamãs sonham”, explica o cineasta.

No primeiro semestre, MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO venceu a categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem Nacional, no Festival É Tudo Verdade de 2023. No mês passado, durante o 51º Festival de Cinema de Gramado, o título ganhou os Kikitos de Melhor Fotografia e o Prêmio Especial do Júri com o filme, “pelo convite que a linguagem e as escolhas audiovisuais desta obra nos fazem conectar com uma experiência sensorial e onírica”, explica o júri. O filme seguiu viajando por festivais no Brasil e no mundo, mas ao lado de outras duas produções yanomamis, THUË PIHI KUUWI – UMA MULHER PENSANDO e YURI U XËATIMA THË – A PESCA COM TIMBÓ, ambos de Aida Harika, Roseane Yariana e Edmar Tokorino, em suas estreias como cineastas.

As três produções foram exibidas em conjunto, pela primeira vez, no 34º Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo, onde THUË PIHI KUUWI – UMA MULHER PENSANDO foi eleito um dos dez curtas favoritos do público. Este filme, aliás, que já foi exibido na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes e no 12º Olhar de Cinema em Curitiba, foi selecionado para a Competição de Curtas do Festival do Rio 2023, que acontece de 5 a 15 de outubro no Rio de Janeiro.

Por ocasião da 80ª edição do Festival de Veneza, a Isola Edipo, em colaboração com a Mostra Giornate degli Autori reservaram um dia especial para o cinema indígena Yanomami e, no dia 4 de setembro, foi realizado o “Eyes of the Forest”, Olhos da Floresta, que exibiu os três curtas-metragens na Sala Laguna. Foi um dia dedicado ao primeiro cineasta yanomami Morzaniel Ɨramari e ao Cinema Indígena Yanomami no Brasil. Foi a primeira vez que filmes dirigidos por mulheres yanomamis fizeram sua estreia em um festival de cinema internacional.

Agora, os filmes são apresentados ao público que visitar a 35ª Bienal de São Paulo, de 6 de setembro a 10 de dezembro. Através da temática “coreografias do impossível”, o evento traz as obras do quarteto de cineastas yanomamis para compor o universo criado por um conjunto de artistas que, nos mais diversos contextos, expressam sua cultura e estabelecem um diálogo incisivo sobre as questões urgentes do nosso tempo.

A prática da pesca com timbó, o olhar de uma jovem mulher sobre o trabalho dos xamãs e o conhecimento sobre os sonhos são os temas desses três curtas dirigidos pelos jovens cineastas Yanomami.

O registro dos três filmes foi feito na grande casa coletiva de Watorikɨ, na região do Demini (TIY), produzidos pela Aruac Filmes durante as filmagens do longa-metragem “A Queda do Céu”, filme livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Em 2022, a Aruac organizou junto à Hutukara Associação Yanomami (HAY) e ao Instituto Socioambiental (ISA) uma oficina de montagem audiovisual que ensejou a produção dos três curtas.

MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO, que fez sua estreia internacional no Sheffield Doc Fest no Reino Unido, deve, segundo o diretor, ajudar os brancos a pensar com os Yanomami sobre a terra e a saúde dos povos originários.

“Nós, Yanomami, somos habitantes da floresta Amazônica. No Brasil, somos quase 30 mil pessoas. A terra-floresta é nossa mãe e cuida do povo Yanomami. Desejamos viver em paz, com alegria e fazendo nossas festas. Os napë pë (brancos, inimigos) gostam de destruir a floresta e pegar as riquezas da terra. Hoje o garimpo ilegal invadiu nosso território, estamos tristes por perder tantos parentes e ver nossas crianças morrendo por doenças. Nosso rio está sujo de lama e mercúrio, mas nosso território é forte por dentro. Com a árvore do sonho, nós sonhamos longe e os xamãs sonham ainda mais longe, conhecem o canto e a dança dos espíritos, o sonho do rio, o sonho do mundo”, explica Morzaniel Ɨramari, que, além de apresentar os filmes, esteve presente em uma masterclass em Veneza, ao lado dos produtores Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha.

O evento da Isola Edipo por ocasião do Festival de Veneza faz parte do foco anual “Cinema de inclusão entre a visão e a educação”, que está em sua sétima edição. O objetivo da iniciativa deste ano é destacar a visão direta e íntima de cineastas da comunidade Yanomami, uma das populações indígenas mais conhecidas da Amazônia e sua crescente importância no cenário cinematográfico internacional. Um ato político devolvendo à floresta seus olhos, corpos e vozes para conscientizar sobre a situação Yanomami atual e a necessidade urgente de proteger seu território e seu modo de vida.

Nos últimos anos, milhares de garimpeiros ilegais invadiram a Terra Indígena Yanomami em busca de ouro e cassiterita promovendo altos índices de desmatamento e gerando grave insegurança alimentar, violência e a promoção de inúmeras doenças e mortes. Essa invasão tem gerado um impacto dramático sobre os Yanomami. Como revelado pela reportagem da Sumaúma em janeiro de 2023, pelo menos 570 crianças morreram durante os quatro anos do último governo por doenças que têm tratamento. Apesar das inúmeras denúncias feitas pelos Yanomami nesse período, o governo as ignorou. No início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a cidade de Boa Vista (RR) e decretou emergência de saúde para o povo yanomami, oficializando a crise humanitária. Neste contexto, a nova produção audiovisual dos Yanomami é também uma convocação para os não-indígenas apoiarem a proteção da terra-floresta.

Os três curtas são uma produção Aruac Filmes com coprodução da Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes. Os filmes contam com o apoio institucional do Instituto Socioambiental e apoio de uma rede de fundações e instituições internacionais que trabalham diretamente com a Amazônia Brasileira.

MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO

MÃRI HI – A ÁRVORE DO SONHO. Crédito: Morzaniel Iramari. Fonte: Sinny Assessoria

Sinopse: Quando as flores da árvore Mãri desabrocham surgem os sonhos. As palavras de um grande xamã conduzem uma experiência onírica através da sinergia entre cinema e sonho Yanomami, apresentando poéticas e ensinamentos dos povos da floresta.

Ficha Técnica
Direção: Morzaniel Ɨramari
Com: Davi Kopenawa Yanomami
Direção de Fotografia e Câmera: Morzaniel Ɨramari
Produtores: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Montagem: Morzaniel Ɨramari, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Julia Faraco e Carlos Eduardo Ceccon
Edição de Som: Waldir Xavier
Mixagem de Som: Guilherme Lima de Assis
Som Direto: Marcos Lopes da Silva e Morzaniel Ɨramari
Color Grading e Finalização: Caio Lazaneo
Desenhos Originais: Ehuana Yaira Yanomami
Tradutores: Ana Maria Machado, Richard Duque, Corrado Dalmonego, Marcelo Silva e Morzaniel Ɨramari
Supervisão Geral: Davi Kopenawa Yanomami e Dário Vitório Kopenawa Yanomami
Responsável Formação Audiovisual Yanomami: Marília Garcia Senlle
Produção Executiva: Heloisa Jinzenji
Coordenação de Produção: Margarida Serrano
Coordenação Financeira: Tárik Puggina
Gerente de Projeto: Lisa Gunn
Produtoras de Impacto: Marília Garcia Senlle e Carolina Ribas
Produção: Aruac Filmes
Coprodução: Hutukara Associação Yanomami
Produção: Associada Gata Maior Filmes
Apoio Institucional: ISA – Instituto Socioambiental

THUË PIHI KUUWI – UMA MULHER PENSANDO

THUË PIHI KUUWI – UMA MULHER PENSANDO. Direção de Fotografia e Câmera: Roseane Yariana Yanomami. Fonte: Sinny Assessoria

Sinopse: Uma mulher yanomami observa um xamã durante o preparo da Yãkoana, alimento dos espíritos. A partir da narrativa de uma jovem mulher indígena, a Yãkoana que alimenta os xapiripë e permite aos xamãs adentrarem o mundo dos espíritos também propõe um encontro de perspectivas e imaginações.

Ficha Técnica
Direção: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
Com: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
Direção de Fotografia e Câmera: Roseane Yariana Yanomami
Produtores: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Montagem: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami, Carlos Eduardo Ceccon, Julia Faraco e Rodrigo Ribeiro-Andrade
Edição de Som: Waldir Xavier
Mixagem: Guilherme Lima de Assis
Som Direto: Marcos Lopes da Silva
Color Grading: Cassiana Umetsu e Marcelo Brandt
Tradutores: Ana Maria Machado, Richard Duque, Corrado Dalmonego, Marcelo Silva e Morzaniel Ɨramari Yanomami
Supervisão Geral: Davi Kopenawa Yanomami e Dário Vitório Kopenawa Yanomami
Responsável Formação Audiovisual Yanomami: Marília Garcia Senlle
Produção Executiva: Heloisa Jinzenji
Coordenação de Produção: Margarida Serrano
Coordenação Financeira: Tárik Puggina
Gerente de Projeto: Lisa Gunn
Produtoras de Impacto: Marília Garcia Senlle e Carolina Ribas
Produção: Aruac Filmes
Coprodução: Hutukara Associação Yanomami
Produção Associada: Gata Maior Filmes
Apoio Institucional: ISA – Instituto Socioambiental

YURI U XËATIMA THË – A PESCA COM TIMBÓ

YURI U XËATIMA THË – A PESCA COM TIMBÓ. Direção de Fotografia e Câmera: Roseane Yariana Yanomami. Fonte: Sinny Assessoria

Sinopse: Dois jovens realizadores Yanomami descrevem o processo de pesca com timbó, cipó tradicionalmente empregado para atordoar os peixes. O encontro de vozes e perspectivas sugere o reencantamento das imagens como forma de contar histórias.

Ficha Técnica
Direção: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
Com: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami
Direção de Fotografia e Câmera: Roseane Yariana Yanomami
Produtores: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Montagem: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami, Carlos Eduardo Ceccon, Julia Faraco e Rodrigo Ribeiro-Andrade
Edição de Som: Waldir Xavier
Mixagem: Guilherme Lima de Assis
Som Direto: Marcos Lopes da Silva
Color Grading: Cassiana Umetsu e Marcelo Brandt
Tradutores: Ana Maria Machado, Richard Duque, Corrado Dalmonego, Marcelo Silva e Morzaniel Ɨramari Yanomami
Supervisão Geral: Davi Kopenawa Yanomami e Dário Vitório Kopenawa Yanomami
Responsável Formação Audiovisual Yanomami: Marília Garcia Senlle
Produção Executiva: Heloisa Jinzenji
Coordenação de Produção: Margarida Serrano
Coordenação Financeira: Tárik Puggina
Gerente de Projeto: Lisa Gunn
Produtoras de Impacto: Marília Garcia Senlle e Carolina Ribas
Produção: Aruac Filmes
Coprodução: Hutukara Associação Yanomami
Produção Associada: Gata Maior Filmes
Apoio: ISA – Instituto Socioambiental

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Atualizado 21 set 2023 - 08:29

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