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Milhões de brasileiros voltarão à pobreza se auxílio emergencial for interrompido, mostra estudo

09 out 2020 - 08:30

Redação Em Dia ES

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A extensão dos subsídios está paralisada no Congresso e enfrenta alguma oposição dentro do governo, cuja equipe econômica está preocupada com descontrole do déficit orçamentário
O Brasil conseguiu diminuir os níveis de pobreza com o auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19, mas se os esforços governamentais de assistência à renda não continuarem 15 milhões de brasileiros serão jogados de volta a essa condição em janeiro, alertou Marcelo Neri, diretor do FGV Social e fundador do Centro de Políticas Sociais (FGV Social/CPS).

A extensão dos subsídios está paralisada no Congresso e enfrenta alguma oposição dentro do governo, cuja equipe econômica está preocupada com descontrole do déficit orçamentário.

“Estamos entre a cruz e a espada”, disse Neri à Reuters.

Estudo da FGV publicado nesta quinta-feira mostra que o número de brasileiros pobres –aqueles que ganham menos de meio salário mínimo, ou 515 reais por mês– recuou 23,7%, atingindo nova mínima histórica de 50 milhões de pessoas, graças ao auxílio mensal, que começou em 600 reais, mas agora reduzido a 300 reais por mês até dezembro.

O presidente Jair Bolsonaro, cuja popularidade cresceu graças às transferências de renda, tenta encontrar uma maneira de manter os pagamentos, mas não há como financiá-los sem romper o teto de gastos e piorar um já elevado déficit orçamentário.

O Brasil foi mais generoso com sua população pobre durante a pandemia do que outras nações latino-americanas, apesar de sua situação fiscal pior e das tentativas do ministro da Economia, Paulo Guedes, de manter esforço de austeridade fiscal, disse Neri.

“Guedes se revelou um gestor de políticas keynesianas surpreendentemente generoso. Agora, a gente está em uma situação em que você precisa ser meio keynesiano, só que a gente não tem recursos”, afirmou.

O Keynesianismo, ou Escola Keynesiana, é uma teoria político-econômica que defende o Estado como um agente ativo contra crises econômicas e alta no desemprego.

O Brasil, que sofreu forte saída de recursos dos mercados de ações e renda fixa no primeiro semestre, corre o risco de gerar ainda mais ruído entre investidores caso aumente as despesas em 2021, alertou Neri, PhD em Economia pela Universidade de Princeton, nos EUA.

O auxílio emergencial foi a iniciativa de maior vulto do governo na crise. Com valor de 600 reais de abril a agosto e de 300 reais pelo restante do ano, terá um custo total de 321,8 bilhões de reais em 2020, beneficiando mais de 60 milhões de pessoas por mês.

O senador Ney Suassuna (PRB-PB), membro da Comissão Mista de Orçamento, disse à Reuters que não havia consenso sobre como financiar transferência de renda no próximo ano, apesar da expectativa de que a crise da pandemia continue em meio a uma frágil melhora no mercado de trabalho.

Como na maior parte da América Latina, a pandemia reduziu o tamanho da classe média tradicional, com 4,8 milhões de brasileiros deixando esse grupo devido à perda de renda, disse Neri.

Milhões de pessoas da classe média latino-americana estão sendo arrastadas de volta à pobreza da Covid-19, que atingiu o mercado de trabalho da região com mais força do que em qualquer outro lugar do mundo. A pobreza deve voltar aos níveis de 2005 na América Latina.

Com: Reuters
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Atualizado: 09/10/2020 08:30

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