O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu publicamente a redução da taxa de juros nesta terça-feira (4), afirmando que votaria pela queda da Selic, atualmente em 15%, se fosse membro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A declaração foi feita durante um evento em São Paulo, coincidindo com o início da reunião do Copom que definirá a nova taxa. A decisão do comitê será anunciada nesta quarta-feira (5), e a previsão de analistas, segundo o boletim Focus, é que os juros sejam mantidos.
“Eu não sou diretor do Banco Central. Se eu fosse, eu votava pela queda, porque não se sustenta 10% de juros reais”, afirmou o ministro.
De acordo com um levantamento realizado em setembro pela MoneYou e pela Lev Intelligence, abrangendo 40 países, o Brasil possui a segunda maior taxa de juro real do mundo, com 9,51%, ficando atrás apenas da Turquia (12,34%).
Posição do ministro
Haddad argumentou que, embora compreenda a preocupação do comitê com a inflação, o cenário atual permite uma redução da taxa básica de juros. “Eu tenho alergia de inflação. Eu sei o que a inflação provoca na vida das pessoas. Agora, tem razoabilidade, tem uma questão de razoabilidade. A dose do remédio, para se transformar em veneno, é muito pouca diferença entre uma coisa e outra”, comentou.
Para o ministro, a redução da Selic é “inevitável”, apesar da pressão contrária. “Por mais pressão que os bancos façam sobre o Banco Central para não baixar juros, elas vão ter que cair, não tem como sustentar 10% de juro real”, disse.
Haddad também avaliou o cenário futuro da economia: “Acho que nós estamos numa condição em que nós podemos entrar bem em 2026, tranquilo, podemos terminar o mandato com indicadores muito superiores. Nós podemos controlar a dívida pagando nenhum juro”.
Inflação e a cautela do Copom
A defesa de Haddad pela queda dos juros ocorre em um momento em que as projeções de inflação têm diminuído. Na última segunda-feira, economistas consultados pelo boletim Focus reduziram a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano para 4,55%.
O valor está próximo do teto da meta de inflação, que é de 4,5%. A meta central é de 3%, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Apesar da queda nas projeções do IPCA, a ata da última reunião do Copom, realizada em setembro, indicou uma postura de cautela. O documento destacou que o patamar de 15% deveria permanecer por um “período bastante prolongado” e que o comitê analisaria se essa política seria suficiente para levar a inflação à meta de 3%.
No âmbito doméstico, o colegiado do Banco Central identificou em setembro uma “moderação gradual” da atividade econômica, “certa diminuição” da inflação corrente e “alguma redução” nas expectativas dos agentes econômicos.
Cenário externo no radar
A ata de setembro também ressaltou que “persiste maior incerteza no cenário externo”, o que exige cautela do comitê. O Banco Central mencionou o início do ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que realizou um corte de 0,25 ponto percentual, seguido por um segundo corte do mesmo nível na semana passada. A divulgação de dados da economia norte-americana, no entanto, foi afetada pela paralisação do governo local.
O Copom reconheceu que persistem dúvidas sobre o impacto das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump sobre a inflação nos EUA. “De todo modo, os riscos de longo prazo, que inclusive contribuem para tornar o cenário incerto, como a introdução de tarifas e a elevação de gastos fiscais, se mantêm presentes”, afirmou o comitê no documento.
O Banco Central informou que manterá o foco nos reflexos do cenário externo sobre a inflação doméstica. Na reunião de setembro, o comitê mencionou a apreciação do câmbio, relacionada ao diferencial de juros e à depreciação da moeda norte-americana frente a diversas divisas.


















