economia

Renda média do trabalhador cresce 4% em 2025, impulsionada pelo salário mínimo

03 nov 2025 - 09:55

Redação Em Dia ES - por Julieverson Figueredo, com informações de Agência Gov

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Pesquisa do IBGE mostra que valorização do piso nacional impacta setores como comércio e serviços Crescimento do emprego formal também consolida tendência de alta nos rendimentos, aponta Pnad Contínua
Renda média do trabalhador sobe 4% em 2025; alta do salário mínimo impulsiona resultado. Foto: Gabriel Queiroz / Getty Images Pro

O rendimento médio real dos trabalhadores no Brasil registrou um crescimento recorde de 4% entre janeiro e setembro de 2025. Esse avanço é impulsionado, principalmente, pelos aumentos anuais do salário mínimo acima da inflação, combinados com a geração de empregos no período. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na última sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, o reajuste do piso nacional tem efeito direto. “O aumento do salário-mínimo tem impacto direto sobre o rendimento médio real, especialmente nos setores formais do comércio e dos serviços, onde muitos trabalhadores recebem valores próximos ao piso do salário-mínimo. O reajuste eleva essas remunerações e produz ‘efeito extravasamento’ sobre faixas salariais ligeiramente superiores”, diz.

A coordenadora também aponta o aumento do emprego formal, registrado desde 2023, como outro fator relevante. “Com o crescimento do emprego com carteira assinada, mais trabalhadores têm seus salários vinculados ao mínimo, ampliando o alcance desse efeito”, afirma.

“Assim, o aumento do salário-mínimo contribui para elevar o rendimento médio real e, indiretamente para reduzir as desigualdades de rendimento, sobretudo entre os segmentos de menor remuneração”, completa a pesquisadora.

Altas por setor
A Pnad Contínua detalha que, na comparação do trimestre de julho a setembro de 2025 com o mesmo período do ano anterior, alguns segmentos registraram aumentos médios de salário acima da taxa geral de 4%.

Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura: Alta de 6,5% (mais R$ 134, em média).

Serviços domésticos: Alta de 6,2% (mais R$ 79, em média).

Construção: Alta de 5,5% (mais R$ 145, em média).

Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: Alta de 4,3% (mais R$ 199, em média).

Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas: Alta de 3,9% (mais R$ 184, em média).

Valorização do mínimo
A política de valorização do salário mínimo, que prevê reajuste pela inflação do ano anterior somada à variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, foi retomada em 2023.

Segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a trajetória recente dos aumentos reais (acima da inflação) foi a seguinte:

2023: O valor foi fixado em R$ 1.302,00 (aumento real de 1,41%).

2024: O valor passou a R$ 1.412,00 (aumento real de 4,69% sobre janeiro de 2023).

2025: O valor atual é de R$ 1.518,00 (aumento real de 2,61%).

Período Salário Mínimo R$ Reajuste Nominal % INPC % Aumento Real %
abr/02 200,00
abr/03 240,00 20,00 18,54 1,23
mai/04 260,00 8,33 7,06 1,19
mai/05 300,00 15,38 6,61 8,23
abr/06 350,00 16,67 3,21 13,04
abr/07 380,00 8,57 3,30 5,10
mar/08 415,00 9,21 4,98 4,03
fev/09 465,00 12,05 5,92 5,79
jan/10 510,00 9,68 3,45 6,02
jan/11 545,00 6,86 6,47 0,37
jan/12 622,00 14,13 6,08 7,59
jan/13 678,00 9,00 6,20 2,64
jan/14 724,00 6,78 5,56 1,16
jan/15 788,00 8,84 6,23 2,46
jan/16 880,00 11,68 11,28 0,36
jan/17 937,00 6,48 6,58 -0,10
jan/18 954,00 1,81 2,07 -0,25
jan/19 998,00 4,61 3,43 1,14
jan/20 1.039,00 4,11 4,48 -0,36
fev/20 1.045,00 0,58 0,19 0,39
jan/21 1.100,00 5,26 5,25 0,01
jan/22 1.212,00 10,18 10,16 0,02
jan/23 1.302,00 7,43 5,93 1,41
mai/23 1.320,00 1,38 2,42 -1,01
jan/24 1.412,00 6,97 1,14 4,69
01/01/2025 1.518,00 7,51 4,84 2,61
Total período 659,0 289,9 94,7

Para 2026, o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) enviado ao Congresso Nacional projeta um salário mínimo de R$ 1.630, com aumento nominal de 7,37%. O valor final dependerá dos números consolidados do PIB e da inflação.

A trajetória recente, de 2023 a 2025, indica uma recuperação simultânea tanto do salário mínimo quanto do rendimento médio, consolidando a influência positiva do piso nos ganhos gerais. Em contraste, o período de 2018 a 2022 foi marcado pela estagnação do salário mínimo e queda no emprego, o que resultou na redução do rendimento médio do trabalho.

Impacto na economia e previdência
Cerca de 59,9 milhões de pessoas no Brasil têm rendimentos referenciados no salário mínimo. Com o reajuste aplicado em 2025, estima-se um incremento de R$ 81,5 bilhões na economia e um aumento de R$ 43,9 bilhões na arrecadação tributária sobre o consumo.

Dados do Censo 2022, também do IBGE, mostram que 35% (cerca de um terço) das pessoas que trabalham no Brasil ganham um salário mínimo, e a renda média da população é igual ou superior ao piso nacional em 81% das cidades do país.

O piso nacional também impacta diretamente os benefícios da Previdência Social, já que quase 70% dos direitos pagos a aposentados e pensionistas do INSS correspondem ao salário mínimo.

Embora existam críticas de analistas sobre a sustentabilidade dessa vinculação, dados do Dieese indicam que o aumento real do salário mínimo em 2025 deve gerar R$ 43,9 bilhões em arrecadação de tributos, valor superior ao custo adicional estimado de R$ 38,9 bilhões.

Paralelamente, o aumento do emprego formal eleva o número de contribuintes para a Previdência. A média mensal de contribuintes pessoas físicas do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) cresceu 1,6 milhão em 2024, atingindo o recorde histórico de 62,2 milhões. O número total de contribuintes alcançou 76,6 milhões em 2024. No mesmo ano, o INSS registrou um recorde de 6,9 milhões de benefícios concedidos, um crescimento de 33,1% nos últimos 10 anos.

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