O rendimento médio real dos trabalhadores no Brasil registrou um crescimento recorde de 4% entre janeiro e setembro de 2025. Esse avanço é impulsionado, principalmente, pelos aumentos anuais do salário mínimo acima da inflação, combinados com a geração de empregos no período. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na última sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, o reajuste do piso nacional tem efeito direto. “O aumento do salário-mínimo tem impacto direto sobre o rendimento médio real, especialmente nos setores formais do comércio e dos serviços, onde muitos trabalhadores recebem valores próximos ao piso do salário-mínimo. O reajuste eleva essas remunerações e produz ‘efeito extravasamento’ sobre faixas salariais ligeiramente superiores”, diz.
A coordenadora também aponta o aumento do emprego formal, registrado desde 2023, como outro fator relevante. “Com o crescimento do emprego com carteira assinada, mais trabalhadores têm seus salários vinculados ao mínimo, ampliando o alcance desse efeito”, afirma.
“Assim, o aumento do salário-mínimo contribui para elevar o rendimento médio real e, indiretamente para reduzir as desigualdades de rendimento, sobretudo entre os segmentos de menor remuneração”, completa a pesquisadora.
Altas por setor
A Pnad Contínua detalha que, na comparação do trimestre de julho a setembro de 2025 com o mesmo período do ano anterior, alguns segmentos registraram aumentos médios de salário acima da taxa geral de 4%.
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura: Alta de 6,5% (mais R$ 134, em média).
Serviços domésticos: Alta de 6,2% (mais R$ 79, em média).
Construção: Alta de 5,5% (mais R$ 145, em média).
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: Alta de 4,3% (mais R$ 199, em média).
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas: Alta de 3,9% (mais R$ 184, em média).
Valorização do mínimo
A política de valorização do salário mínimo, que prevê reajuste pela inflação do ano anterior somada à variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, foi retomada em 2023.
Segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a trajetória recente dos aumentos reais (acima da inflação) foi a seguinte:
2023: O valor foi fixado em R$ 1.302,00 (aumento real de 1,41%).
2024: O valor passou a R$ 1.412,00 (aumento real de 4,69% sobre janeiro de 2023).
2025: O valor atual é de R$ 1.518,00 (aumento real de 2,61%).
| Período | Salário Mínimo R$ | Reajuste Nominal % | INPC % | Aumento Real % |
|---|---|---|---|---|
| abr/02 | 200,00 | – | – | – |
| abr/03 | 240,00 | 20,00 | 18,54 | 1,23 |
| mai/04 | 260,00 | 8,33 | 7,06 | 1,19 |
| mai/05 | 300,00 | 15,38 | 6,61 | 8,23 |
| abr/06 | 350,00 | 16,67 | 3,21 | 13,04 |
| abr/07 | 380,00 | 8,57 | 3,30 | 5,10 |
| mar/08 | 415,00 | 9,21 | 4,98 | 4,03 |
| fev/09 | 465,00 | 12,05 | 5,92 | 5,79 |
| jan/10 | 510,00 | 9,68 | 3,45 | 6,02 |
| jan/11 | 545,00 | 6,86 | 6,47 | 0,37 |
| jan/12 | 622,00 | 14,13 | 6,08 | 7,59 |
| jan/13 | 678,00 | 9,00 | 6,20 | 2,64 |
| jan/14 | 724,00 | 6,78 | 5,56 | 1,16 |
| jan/15 | 788,00 | 8,84 | 6,23 | 2,46 |
| jan/16 | 880,00 | 11,68 | 11,28 | 0,36 |
| jan/17 | 937,00 | 6,48 | 6,58 | -0,10 |
| jan/18 | 954,00 | 1,81 | 2,07 | -0,25 |
| jan/19 | 998,00 | 4,61 | 3,43 | 1,14 |
| jan/20 | 1.039,00 | 4,11 | 4,48 | -0,36 |
| fev/20 | 1.045,00 | 0,58 | 0,19 | 0,39 |
| jan/21 | 1.100,00 | 5,26 | 5,25 | 0,01 |
| jan/22 | 1.212,00 | 10,18 | 10,16 | 0,02 |
| jan/23 | 1.302,00 | 7,43 | 5,93 | 1,41 |
| mai/23 | 1.320,00 | 1,38 | 2,42 | -1,01 |
| jan/24 | 1.412,00 | 6,97 | 1,14 | 4,69 |
| 01/01/2025 | 1.518,00 | 7,51 | 4,84 | 2,61 |
| Total período | – | 659,0 | 289,9 | 94,7 |
Para 2026, o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) enviado ao Congresso Nacional projeta um salário mínimo de R$ 1.630, com aumento nominal de 7,37%. O valor final dependerá dos números consolidados do PIB e da inflação.
A trajetória recente, de 2023 a 2025, indica uma recuperação simultânea tanto do salário mínimo quanto do rendimento médio, consolidando a influência positiva do piso nos ganhos gerais. Em contraste, o período de 2018 a 2022 foi marcado pela estagnação do salário mínimo e queda no emprego, o que resultou na redução do rendimento médio do trabalho.
Impacto na economia e previdência
Cerca de 59,9 milhões de pessoas no Brasil têm rendimentos referenciados no salário mínimo. Com o reajuste aplicado em 2025, estima-se um incremento de R$ 81,5 bilhões na economia e um aumento de R$ 43,9 bilhões na arrecadação tributária sobre o consumo.
Dados do Censo 2022, também do IBGE, mostram que 35% (cerca de um terço) das pessoas que trabalham no Brasil ganham um salário mínimo, e a renda média da população é igual ou superior ao piso nacional em 81% das cidades do país.
O piso nacional também impacta diretamente os benefícios da Previdência Social, já que quase 70% dos direitos pagos a aposentados e pensionistas do INSS correspondem ao salário mínimo.
Embora existam críticas de analistas sobre a sustentabilidade dessa vinculação, dados do Dieese indicam que o aumento real do salário mínimo em 2025 deve gerar R$ 43,9 bilhões em arrecadação de tributos, valor superior ao custo adicional estimado de R$ 38,9 bilhões.
Paralelamente, o aumento do emprego formal eleva o número de contribuintes para a Previdência. A média mensal de contribuintes pessoas físicas do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) cresceu 1,6 milhão em 2024, atingindo o recorde histórico de 62,2 milhões. O número total de contribuintes alcançou 76,6 milhões em 2024. No mesmo ano, o INSS registrou um recorde de 6,9 milhões de benefícios concedidos, um crescimento de 33,1% nos últimos 10 anos.


















