O governo brasileiro convocou, na tarde desta segunda-feira (27), o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para discutir a recente deportação de 88 brasileiros que relataram maus-tratos durante o processo. A reunião, realizada no Palácio do Itamaraty, foi liderada pela secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, Márcia Loureiro.
A medida, confirmada por fontes do governo brasileiro e pela diplomacia americana, ocorreu após denúncias feitas pelos deportados, que alegaram ter sido mantidos algemados, privados de alimentação e acesso ao banheiro, além de terem sofrido agressões durante o voo fretado pelos Estados Unidos.
O avião norte-americano pousou em Manaus na sexta-feira (24) devido a uma escala técnica. Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou uma intervenção imediata. Uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) foi enviada de Brasília para Manaus para prestar assistência humanitária e transportar os deportados até Belo Horizonte, onde desembarcaram no sábado (25).
Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, os deportados estavam em “situação dramática”. Ele destacou que os brasileiros, que não eram considerados criminosos, foram tratados de forma incompatível com os direitos humanos. “As algemas foram retiradas, e as pessoas receberam assistência necessária. Não queremos provocar o governo americano, mas exigimos respeito e dignidade”, afirmou o ministro durante um evento em São Paulo.
A Embaixada dos Estados Unidos confirmou a realização da reunião, que classificou como “técnica”, mas não deu detalhes sobre o conteúdo do diálogo com as autoridades brasileiras. Gabriel Escobar, representante da diplomacia americana no Brasil desde a saída da embaixadora Elizabeth Bagley, participou diretamente das tratativas.
Contexto e histórico do caso
O caso marca a primeira deportação de brasileiros desde o início do terceiro mandato de Lula e ocorre em meio à política de tolerância zero com a imigração ilegal nos Estados Unidos, reforçada pelo presidente Donald Trump. O tratado bilateral entre Brasil e Estados Unidos prevê a deportação de cidadãos que estejam em situação irregular, mas exige que o processo seja realizado de maneira digna e humanitária.
No último sábado (25), o ministro Lewandowski revelou que os deportados enfrentaram condições insalubres no avião norte-americano durante a escala em Manaus. Ele relatou que os passageiros estavam algemados pelas mãos e pés, sem alimentação ou acesso a banheiros. “As autoridades americanas não permitiram que os brasileiros saíssem da aeronave, mesmo com o calor intenso e a falta de ar-condicionado”, afirmou.
Lewandowski informou ainda que trataria o assunto com o presidente Lula em Brasília, reafirmando que o governo busca uma solução que garanta o respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.