O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, em Paris, na França. A causa da morte ainda não havia sido divulgada até o final da tarde, no horário local. Salgado, considerado um dos maiores fotógrafos da história, deixa a esposa Lélia Wanick Salgado, os filhos Rodrigo e Juliano, e os netos Flávio e Nara.
Salgado sofria de problemas crônicos decorrentes da malária, doença que contraiu nos anos 1990 durante uma de suas muitas viagens a regiões remotas do planeta. Ele participaria neste sábado (24) de um vernissage de vitrais desenhados por seu filho Rodrigo, na cidade de Reims, também na França. Na véspera, havia cancelado sua presença em um encontro com jornalistas, citando problemas de saúde.
Natural de Aimorés, em Minas Gerais, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em fevereiro de 1944 e passou parte da juventude em Vitória, no Espírito Santo. Foi na capital capixaba que conheceu Lélia, com quem se casou em 1967 e fundou o Instituto Terra em 1998, organização voltada à recuperação da Mata Atlântica e das nascentes da antiga Fazenda Bulcão, onde cresceu.
Reconhecimento internacional
A notícia da morte foi confirmada pelo próprio Instituto Terra, em nota de pesar nas redes sociais. Em homenagem, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, decretou luto oficial de três dias.
“Recebi com muita tristeza a notícia da morte de Sebastião Salgado, um gênio da fotografia e da luta socioambiental. Sua lente expôs ao mundo a dignidade humana e a urgência de preservar o planeta. Seu legado se eterniza no Instituto Terra”, disse o mandatário capixaba.

A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro desde 2016, destacou sua trajetória como uma “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”.
Durante um evento no Palácio do Planalto por ocasião da visita do presidente de Angola, João Lourenço, ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um minuto de silêncio pela morte de Salgado. “Certamente, se não o maior, um dos maiores e melhores fotógrafos que o mundo já produziu”, disse.
Lula também disse que o presente previsto para ser entregue a Lourenço é um livro com fotografias de Salgado, escolha tomada pelo presente antes do falecimento do fotógrafo.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, disse que a morte de Salgado “é muito impactante, muito triste”. “Fica um legado de humanidade, respeito pelo próximo e preocupação com o meio ambiente”, lamentou.
Carreira e legado
Salgado começou a ganhar notoriedade internacional no final dos anos 1980, com uma série de fotos em preto e branco que registraram o cotidiano de garimpeiros em Serra Pelada, no Pará. As imagens marcaram época e deram visibilidade global às duras condições de trabalho na região. Sua obra fotográfica passou a se destacar por retratar o sofrimento e a resistência de povos afetados por guerras, fome, migrações e desigualdade, em países como Ruanda, Guatemala, Indonésia e Bangladesh.
Entre seus projetos mais emblemáticos estão os livros “Terra” (1997), sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e “Gênesis” (2013), fruto de uma década de viagens a regiões remotas do planeta. As imagens combinam apuro estético e engajamento social, características que marcaram toda a sua trajetória.
Salgado colaborou com diversas organizações humanitárias e internacionais, incluindo UNICEF, ACNUR, OMS, Médicos Sem Fronteiras e Anistia Internacional. Foi agraciado com prêmios importantes como o Príncipe das Astúrias, o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad e teve sua trajetória retratada no documentário O Sal da Terra (2014), dirigido por Wim Wenders e por seu filho Juliano Ribeiro Salgado.
Homenagens e exposições
Atualmente, está em cartaz uma retrospectiva da obra de Salgado em Deauville, cidade no litoral norte da França. Na inauguração da mostra, no dia 1º de março, o fotógrafo se emocionou com a homenagem e declarou: “Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo”.
O editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, responsável por publicar diversas obras de Salgado, afirmou que o fotógrafo era “um perfeccionista” e ressaltou sua preocupação com os aspectos gráficos do trabalho.
Ainda que tenha conquistado reconhecimento global, Salgado sempre manteve uma forte conexão com o Brasil. Seu Instituto Terra já recuperou centenas de hectares de floresta nativa e se tornou referência em projetos de reflorestamento e educação ambiental.
Aos olhos do mundo, Salgado foi mais do que um fotógrafo: foi um cronista visual das dores e belezas do planeta. Como escreveu o Instituto Terra na nota de pesar: “Nosso eterno Tião, presente! Hoje e sempre”.