A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou nesta segunda-feira (3) que o fungo Histoplasma é a “hipótese mais plausível” para a causa do surto de síndrome respiratória registrado no Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória. A investigação, conduzida pelo Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), identificou anticorpos para o fungo em uma amostra de um profissional de saúde e considera o quadro clínico dos pacientes compatível com histoplasmose. O resultado, no entanto, ainda não é conclusivo, e as apurações continuam.
Uma bactéria, Burkholderia cepacia, também foi encontrada na água de um bebedouro, mas é tratada como hipótese menos provável.
De acordo com o boletim da Sesa divulgado no domingo (2), 93 casos são considerados suspeitos, dos quais 88 estão em acompanhamento e cinco permanecem internados. Desse total, 76 são trabalhadores do hospital (82%), 11 acompanhantes (12%) e seis pacientes (6%). Entre os cinco internados, quatro são colaboradores da unidade e um é paciente. Duas internações são em UTI e três em enfermaria, e os dois pacientes na UTI “seguem com evolução favorável”.
O secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, explicou que o fungo Histoplasma é comumente encontrado em fezes de aves e morcegos. “O Histoplasma faz muito sentido nessa investigação por conta dos sintomas, do quadro clínico dos pacientes e pelo fato de não haver transmissão entre pessoas, mas a investigação ainda não está concluída”, afirmou.
Análises no Lacen-ES e na Fiocruz
O diretor do Lacen-ES, Rodrigo Rodrigues, detalhou que uma ampla gama de testes foi realizada para identificar o agente causador do surto, investigando vírus, fungos, bactérias e micobactérias.
Segundo Rodrigues, os testes feitos no Lacen-ES em amostras de pacientes não indicaram patógenos, possivelmente porque o uso prévio de medicamentos alterou as amostras e interferiu nos resultados.
Onze amostras de sangue de funcionários foram enviadas à Fiocruz, no Rio de Janeiro, para análises sorológicas mais específicas. “Apesar de apenas uma amostra ter dado positivo, o quadro clínico dos pacientes é compatível com a histoplasmose, e por isso essa é a principal linha de investigação”, explicou o diretor.
O resultado positivo foi detectado pela metodologia Western Blot, que identificou a amostra de um profissional de saúde como “reagente linha H” para Histoplasma.
As investigações descartaram outros agentes. Todos os painéis para vírus respiratórios, como SARS-CoV-2, Influenza e Rinovírus, e arboviroses, como Dengue e Zika, apresentaram resultados “não detectáveis”. Testes para micobactérias, como Mycobacterium tuberculosis, também foram negativos.
Bactéria em bebedouro é caso isolado
Durante as análises ambientais, a bactéria Burkholderia cepacia foi encontrada em uma amostra de água de um bebedouro no Setor E do hospital.
As autoridades, porém, tratam esse achado como um caso isolado. Segundo o secretário Tyago Hoffmann, uma infecção por essa bactéria apresentaria casos mais graves do que os observados. Rodrigo Rodrigues, do Lacen, acrescentou que nenhum outro ponto da rede de abastecimento apresentou contaminação e que nenhum paciente testou positivo para a bactéria.
Possível entrada do fungo no ambiente
A forma como o fungo Histoplasma teria entrado no ambiente hospitalar ainda é uma hipótese. Hoffmann mencionou que os esporos do fungo podem ter entrado pelo sistema de ar-condicionado.
A coordenadora de Controle de Infecção Hospitalar do Santa Rita, a infectologista Carolina Salume, considera essa possibilidade baixa. “Todo o ar-condicionado do hospital passou por manutenção e limpeza de filtros pouco antes do surto. Além disso, as amostras recolhidas nele foram negativas. Por isso, existe a possibilidade de ter vindo pelas janelas, alguma fresta que tenha ficado aberta inadvertidamente”, afirmou. Segundo Salume, o hospital segue os protocolos de vedação, mas “aconteceu alguma coisa que a gente ainda não sabe explicar”.
Surto controlado e próximos passos
A Sesa definiu como próximos passos ampliar a testagem sorológica para Histoplasma em mais amostras de casos suspeitos e coletar novas amostras de água para análise da bactéria.
A infectologista Carolina Salume informou que novas coletas de pacientes foram feitas no sábado (1º), já que as primeiras amostras podem não ter tido o intervalo de tempo necessário para a detecção de anticorpos. “Acreditamos que as coletas recentes estejam mais qualificadas e possam confirmar a presença do fungo”, disse.
Salume destacou que o surto está controlado e restrito à ala oncológica, no Setor E. “Tomamos todas as medidas necessárias para conter a disseminação ambiental e observamos queda no número de notificações”, afirmou. A médica também relatou melhora no quadro dos internados, informando que a funcionária que estava em estado mais grave “evoluiu bem, já caminha e respira sem oxigênio”.
O secretário Tyago Hoffmann fez um apelo aos pacientes oncológicos que suspenderam o tratamento por receio de contaminação, reforçando que as demais áreas do Hospital Santa Rita são consideradas seguras.


















