A atual safra de café conilon marca o início efetivo da negociação do produto no mercado de contratos futuros da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), em vigor desde setembro do ano passado. A nova ferramenta financeira começa a ser assimilada por produtores e corretores, e já apresenta sinais de crescimento na adesão, principalmente no Espírito Santo, estado responsável por 70% da produção nacional da variedade.
De acordo com informações divulgadas por Abdo Filho, de A Gazeta, o contrato com vencimento em julho lidera as negociações até o momento, com 26 mil sacas comercializadas. A expectativa, no entanto, está voltada para o contrato com vencimento em setembro, quando a colheita já terá sido concluída, com estimativa de movimentar ao menos 100 mil sacas.
Thomas Giuberti, sócio da Golden Investimentos, assessoria financeira parceira da XP e um dos principais operadores do mercado de conilon no Brasil, acredita no potencial de expansão do instrumento. “Aos poucos os participantes do mercado estão negociando, testando os contratos e circulando cada vez mais no ambiente de bolsa. Não me surpreenderia se chegássemos a 1 milhão de sacas entre 2027 e 2028”, afirmou.
Giuberti, que pertence a uma família tradicional na cafeicultura de Linhares, vê na nova modalidade uma oportunidade estratégica para o Espírito Santo. “Estamos falando de uma operação que paga mais pelo café do que o mercado comum, chamado de mercado balcão, que dá liquidez ao mercado, que padroniza, que exige qualidade, que dá um carimbo de solidez à cadeia e que dá previsibilidade”, destacou.
Como funciona o contrato futuro de conilon
Os contratos futuros de conilon/robusta permitem entrega física, com os lotes sendo armazenados em unidades credenciadas pela B3. Os armazéns estão localizados no Norte e Noroeste do Espírito Santo, além do Sul da Bahia. O produto é negociado cru, em grãos, com contratos equivalentes a 100 sacas de 60 quilos cada. Os vencimentos estão disponíveis para os meses de janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro.
Atualmente, o volume financeiro movimentado pelo contrato de conilon gira em torno de R$ 1 milhão por dia, ainda distante do contrato de arábica, um dos mais antigos da B3, que chega a movimentar R$ 90 milhões diários. No entanto, a expectativa dos operadores é de que a adesão crescente dos produtores e a consolidação da infraestrutura de armazenagem contribuam para a valorização do produto e para a estruturação de um novo patamar de comercialização no mercado.
O conilon é o principal produto do agronegócio capixaba. A adoção do contrato futuro na bolsa representa não apenas uma alternativa de valorização para o café, mas também um mecanismo de proteção de preços, organização da cadeia produtiva e projeção de estabilidade para os produtores. “Isso precisa ser tratado como um patrimônio do Espírito Santo”, concluiu Giuberti.