Apesar de conhecida, a Doença de Parkinson, segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas acima dos 60 anos, ainda gera dúvidas nas pessoas, principalmente na hora do diagnóstico e do tratamento. Não há levantamento do número exato de pacientes com a enfermidade no país, mas estima-se que pelo menos 200 mil brasileiros convivam com o Parkinson.
Doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva, o Parkinson ocorre em razão da diminuição na produção de dopamina, neurotransmissor que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas. Trata-se de uma doença que leva à degeneração celular associada ao processo de envelhecimento.
Para conscientizar a população, o Dr. Murilo Marinho, neurocirurgião funcional, especialista no tratamento da Doença de Parkinson, elencou algumas verdades e falsas interpretações da doença, também alvo de fake news.
O principal sintoma do Parkinson é o tremor?
Mito. Embora os tremores causem desabilidade nos pacientes com Doença de Parkinson e serem característicos, nem todos os doentes com Parkinson apresentam esse tipo de sintoma. Existem outras manifestações, como lentidão motora, rigidez e até mesmo a instabilidade postural. Outros achados, chamados de sintomas não motores, afetam mais de 80% dos pacientes com essa enfermidade. São eles: alteração do sono, constipação intestinal, sudorese, aumento da salivação, alteração do humor correlacionado com sintomas depressivos ou de ansiedade, diminuição do olfato, dores pelo corpo, impotência em homens, entre outros.
O diagnóstico do Parkinson é feito apenas com exames de sangue e imagens?
Mito. A identificação do Parkinson decorre de uma boa análise clínica baseada no histórico do paciente. Ainda não existem exames específicos de rastreio da doença, mas é possível que o médico recorra à ressonância magnética para complementar o diagnóstico, pois conseguirá detectar alterações morfológicas no cérebro. Esse recurso também é uma forma de exclusão de outras condições.
O Parkinson pode acometer pacientes jovens?
Verdade. Infelizmente, a doença pode aparecer antes dos 40 anos, mas é incomum, representando apenas 20% dos casos. Diferentemente do Parkinson na terceira idade, esse tipo da doença tem outros sintomas. Em geral, o paciente pode apresentar movimentos e contrações involuntárias de membros, lentidão para a realização de movimentos simples (exemplo: caminhar, sentar-se ou levantar), além de alterações de humor, quadros de ansiedade e de depressão.
A enfermidade tem cura?
Mito. O Parkinson não tem cura, mas os sintomas e a evolução do quadro podem ser controlados com medicamentos, cirurgia de neuroestimulação cerebral, fisioterapia e manutenção de uma vida intelectual e física ativa. Além da dança, o tênis de mesa, também conhecido como pingue-pongue têm beneficiado pacientes com a enfermidade. Um músico croata, por exemplo, tem recorrido ao esporte para atenuar os sintomas do Parkinson com sucesso.
Existe uma cirurgia que auxilia no controle do Parkinson?
Verdade. Chamada de DBS (do inglês, deep brain stimulation – estimulação profunda do cérebro, em tradução livre), a terapia usa um dispositivo médico implantado cirurgicamente, semelhante a um marca-passo cardíaco, para fornecer estimulação elétrica a áreas precisamente direcionadas do cérebro. Esses pulsos melhoram as funções perdidas por doenças neurológicas. Por exemplo, quem tem Parkinson apresenta lentidão nos movimentos voluntários — chamado de bradicinesia –, tremores, rigidez e caminhada em pequenos passos, entre outros sintomas. Com o implante, no entanto, há expressiva melhora na velocidade e amplitude da marcha, redução da rigidez e do tremor. O paciente se torna mais “ágil”, explica o neurocirurgião. Apesar de não estar na primeira linha de tratamento, a intervenção é recomendada quando os medicamentos deixam de ter eficácia ou trazem efeitos colaterais indesejados para o paciente. Estudos apontam que o DBS reduz em até 80% os tremores, além da rigidez e outros sintomas, quando bem indicado.