Em cada ano do triênio 2020-2022 mais de 10 mil casos novos de leucemia serão descoberto no Brasil
A leucemia é um tipo de câncer frequente no Brasil e, dependendo do tipo, pode ser fatal em curto espaço de tempo, se não tratada rapidamente. Seu diagnóstico precoce, como na maioria do cânceres, é importante para o sucesso do tratamento, mas seus sintomas inespecíficos dificultam o reconhecimento da doença em estágio inicial. Por isso, o segundo mês do ano é dedicado à campanha Fevereiro Laranja, que tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a leucemia e a importância da doação de medula óssea.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (InCA) apontam que a doença ocupa a 9ª posição dos tipos de câncer mais comuns entre homens e a 11ª em mulheres, além de ser o tipo de câncer mais comum da infância, representando 33% de todas as neoplasias malignas em crianças de 0 a 14 anos. A estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 é de mais de 10.810 casos novos de leucemia no Brasil, sendo 5.920 em homens e 4.890 em mulheres.
O hematologista da Rede Meridional, Gustavo Henrique Silveira, ressalta a importância da campanha. “É necessário estar atento tanto para possíveis sintomas quanto para tratar da prevenção. O Fevereiro Laranja levanta o alerta para conscientizar sobre a necessidade de exames e, principalmente, sobre a importância da doação de medula óssea.”, explicou o médico.
O que é Leucemia?
A leucemia é um tipo de câncer causado pelo aumento anormal e acelerado do números de células do sangue, na maioria das vezes daquelas responsáveis pela defesa do organismo, os leucócitos (glóbulos brancos), porém, em raras vezes, dos glóbulos vermelhos e megacariócitos (que dão origem às plaquetas). Os quatro tipos mais comuns são:
• Leucemia linfoblástica aguda: afeta células linfóides (um dos tipos de glóbulos brancos) e tem alta taxa de proliferação celular, geralmente necessitando de tratamento imediato. É o tipo mais comum em crianças, mas também ocorre em adultos.
• Leucemia linfocítica crônica: Também afeta células linfóides, porém, se desenvolve lentamente e muitas vezes pode ser acompanhada sem tratamento por vários anos. Geralmente ocorre em adultos com mais de 55 anos. Raramente afeta crianças.
• Leucemia mieloide aguda: afeta as células mieloides (um dos tipos de glóbulos brancos) e tem alta taxa de proliferação celular, geralmente necessitando de tratamento imediato. Ocorre tanto em adultos como em crianças, sendo mais comum em pacientes idosos.
• Leucemia mieloide crônica: afeta células mieloides e se desenvolve lentamente, a princípio. Acomete principalmente adultos.
Quais os sintomas de leucemia?
Os sintomas clássicos da leucemia são percebidos com mais facilidade nas suas manifestações agudas. Isso porque, nos casos crônicos, os sinais aparecem lentamente e às vezes sequer são reconhecidos, sendo identificados posteriormente em exames de rotina. Em geral, a doença pode provocar:
• Cansaço, falta de ânimo, falta de ar e palidez associados à anemia (diminuição do número de glóbulos vermelhos);
• Hematomas na pele sem trauma prévio, sangramento gengival e nasal, menstruação em maior volume que o habitual, devido à alteração na coagulação pela diminuição das plaquetas.
• Emagrecimento sem explicação.
• Febre e calafrios frequentes, na ausência de infecções.
• Sudorese noturna intensa, mesmo em ambientes frescos.
• Dores recorrentes nos ossos e articulações;
• Linfonodomegalias (ínguas) no pescoço, axilas, virilhas.
• Aumento do volume abdominal, causado pelo aumento do fígado ou baço.
• Infecções pela diminuição da imunidade, chamando a atenção infecções atípicas como fungos na boca (sapinho).
• Dor de cabeça, vômito, náuseas e visão duplicada.
O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais no sangue periférico (que corre nas artérias e veias) como o hemograma, exames de bioquímica, de coagulação, além de exames da medula óssea (fábrica do sangue que fica dentro dos ossos) como mielograma, imunofenotipagem, análise genética do câncer (cariótipo, FISH, Painel NGS) e biologia molecular (pesquisa de BCR-ABL, PML-RARa, etc).
O que causa leucemia?
Como todo câncer, o que leva ao seu desenvolvimento são mutações genéticas nas células, causando aumento da taxa de proliferação celular, aumento da sobrevida da célula, resistência aos controles do sistema imunológico. Entre os principais fatores relacionados ao aparecimento de leucemias temos:
• Exposição a elevadas doses de radiação ionizante (após acidente nuclear, radioterapia ou em trabalhadores sem uso adequado de equipamento de proteção individual);
• Exposição a produtos químicos como o benzeno, determinados pesticidas, quimioterápicos para tratamento de outros cânceres, metais pesados (sendo os mais conhecidos o arsênio, chumbo, cobre, estanho, mercúrio).
• Infecções virais como HIV, HTLV, Epstein-Barr.
• Doenças que cursam com instabilidade do DNA, como a síndrome de Down, síndrome de Turner, neurofibromatose, Síndrome de Klinefelter, Anemia de Fanconi, síndrome de Li-Fraumeni e outras.
Qual o tratamento da leucemia?
• As leucemias agudas, tanto a linfoblástica quanto a mieloide, requerem tratamento imediato com quimioterapia com drogas citotóxicas (citarabina, daunorrubicina, vincristina e outras), associadas, quando possível, a anticorpos monoclonais e terapia alvo molecular guiada por mutações genéticas específicas. Frequentemente, é necessário realizar transplante de medula óssea e, infelizmente, muitas vezes não se consegue encontrar um parente próximo que seja compatível, sendo necessária a busca de doador não aparentado no registro nacional de doadores de medula (REDOME). Por isso, salientamos aqui a importância do cadastro como doador nos hemocentros regionais, no caso do Espírito Santo, no HEMOES, no bairro Maruípe em Vitória. Nos idosos, que não tem performance para receber quimioterapia pode-se utilizar terapia hipometilante com azacitidina ou decitabina, associadas ao inibidor de bcl-2 (venetoclax).
• A leucemia mieloide crônica, geralmente também requer início de tratamento logo após o diagnóstico, porém não se usa mais quimioterapia citotóxica, nem transplante de medula óssea, pois obtêm-se excelente resposta com terapia alvo molecular usando medicações inibidoras da enzima tirosina-quinase BCR-ABL por via oral como imatinibe, dasatinibe e nilotinibe.
• A leucemia linfocítica crônica muitas vezes não requer tratamento imediato, podendo-se adotar conduta expectante até por vários anos, por ser uma doença de crescimento lento e que acomete mais idosos. Quando existe indicação de tratamento devido anemia intensa, plaquetopenia, aumento excessivo da contagem de glóbulos brancos, perda de peso importante, infecções de repetição, lesões de outros órgãos como fígado, rins ou ossos, fazemos com quimioterapia mais imunoterapia com anticorpos monoclonais anti CD20 (rituximabe, obinutuzumabe) ou terapia alvo molecular com inibidores da quinase de bruton (Ibrutinibe, Acalabrutinibe), inibidor de bcl-2 (venetoclax), geralmente não sendo realizado o transplante de medula, pois a maioria dos pacientes são idosos.