Mesmo com campanhas de conscientização, estudos e informações cada vez mais rápidas e acessíveis, o número de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) continua crescendo no Espírito Santo e com números expressivos. Uma das doenças que chama atenção pelo crescimento na quantidade de pessoas infectadas nos últimos anos é a Sífilis.
A Sífilis é uma doença infectocontagiosa, sexualmente transmissível, causada pela bactéria Treponema pallidum. A enfermidade também pode ser transmitida da mãe para o feto, por meio de transfusão de sangue, ou por contato direto com sangue contaminado. O período de incubação da bactéria, em média, é de três semanas, podendo variar de dez a noventa dias.
No Espírito Santo, de acordo com a Secretária da Saúde, no ano de 2020 foram notificados 3.251 casos de sífilis adquirida, 1.942 casos em gestantes e 413 notificações de sífilis congênita em bebês.
Já no ano passado, esses números deram um salto. Foram registrados um total de 4.516 casos de sífilis adquirida, 2.034 casos de gestantes com sífilis e 560 casos de crianças com sífilis congênita no Estado. O aumento foi de 39%, 4,7% e 35,6%, respectivamente.
Esse ano, os dados mostram que a realidade não está tão diferente e que os números seguem sendo expressivos. Até o dia 4 de outubro, foram notificados 3.906 casos de sífilis adquirida, 1.252 casos de sífilis em gestantes e 432 casos de crianças com sífilis congênita no Espírito Santo. À exceção dos casos em gestantes, o restante já ultrapassa os números de 2020.
De acordo com a médica Neide Boldrini, ginecologista do Hucam-Ufes, a doença segue uma ordem e se manifesta, geralmente, em três estágios diferentes: sífilis primária, secundária e terciária.
“Na fase primária, o sintoma mais comum são as pequenas feridas que aparecem na área genital, que é onde geralmente temos o contato com o infectado, e a gente chama de cancro duro. Já na sífilis secundária começam a aparecer manchas avermelhadas na pele, que podem aparecer em todo o corpo. Na fase terciária, que já é a mais crítica da doença, pode comprometer vários órgãos, entre eles olhos, ossos, coração, cérebro e sistema nervoso. Essa fase é alcançada por um diagnóstico tardio”, explica a especialista.
Grupos afetados
Segundo Neide, alguns grupos têm sido mais afetados pela doença. ” O que a gente observa pelos atendimentos é que as pessoas que mais são diagnosticadas com sífilis são homens que se relacionam sexualmente com outros homens, gestantes e pessoas que já possuem uma outra infecção, principalmente os HIV positivos”.
Ainda de acordo com a médica, mesmo com esses números da Secretaria de Saúde, o Estado tem avançado nas campanhas de prevenção. Uma campanha a nível nacional também tem sido aplicada por aqui e alguns municípios capixabas até receberam prêmios por apresentarem melhora nos números relacionados à doença.
Complicação nos bebês
A Sífilis possui uma variedade da doença que é denominada sífilis congênita. Essa variação acontece quando a infecção é transmitida da gestante para o feto durante a gravidez ou na hora do parto.
Ela pode se manifestar na criança logo após o nascimento ou após os dois primeiros anos de vida. Na maioria dos casos, pneumonia, feridas no corpo, alterações nos ossos e no desenvolvimento mental, cegueira e até surdez são os sintomas que aparecem nos primeiros meses da criança que adquiriu a infecção.
Neide Boldrini explica que a sífilis congênita pode causar muitas complicações. “Caso não seja diagnosticada logo no início, pode provocar complicações, com parto prematuro, aborto espontâneo, má-formação, morte na hora do nascimento, problemas ósseos, problemas neurológicos e muitos outros”.
A ginecologista afirma que o ideal é que a mãe tenha um bom acompanhamento de pré-natal, onde todos os exames são feitos logo no início da gestação e, ao ser apontada a enfermidade, receba o tratamento adequado precocemente, para evitar problemas graves.
Segundo o Ministério da Saúde, as crianças expostas de mães que não receberam tratamento devem passar por coletas de sangue, raio X de ossos longos, avaliação neurológica, oftalmológica e audiológica. Em muitos casos, existe a necessidade de internação.
Tratamento e prevenção
O tratamento para a sífilis é simples, rápido e feito à base de antibióticos. Ele deve ser acompanhado de exames clínicos e laboratoriais que avaliam a evolução da doença. “O tratamento é rápido e bem simples. Ele dura, em média, três semanas e é feito com o medicamento penicilina (Benzetacil). Alguns casos, em fases iniciais, a gente consegue resolver em apenas uma semana”, afirma a médica do Hucam.
Para quem possui alergia ou algum tipo de impossibilidade no uso deste medicamento, existem tratamentos alternativos. “São raros os casos, mas tem alguns pacientes que possuem alergia ou não podem usar a penicilina. Mas já existem outros medicamentos comprovados que podem ser usados para tratar essas pessoas”, relata Neide.
Mesmo após o tratamento e a cura da doença, o paciente não fica imune à bactéria. Então, é preciso redobrar os cuidados para que não ocorra uma reinfecção.
O uso de preservativos durante as relações sexuais é a maneira mais segura de prevenir a doença, que também pode ser transmitida nas relações anais e orais.
Mulheres que desejam engravidar devem fazer exame para verificar se são portadoras da doença. Também é importante realizarem o exame ginecológico preventivo anualmente.