O Ministério da Agricultura e Pecuária confirmou nesta segunda-feira (15) a identificação dos dois primeiros casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1), conhecida como gripe aviária, em duas aves marinhas resgatadas no litoral do Espírito Santo.
As aves são da espécie Trinta-réis-de-bando e foram encontradas na cidade de Marataízes e em um bairro em Vitória, capital do estado. Esses foram os primeiros casos da doença registrados no Brasil
O ministério e entidades do setor reforçam que as aves não fazem parte do sistema de produção, ou seja não houve contaminação nas fábricas de frangos e ovos ou risco de afetar o abastecimento interno. Os alimentos podem ser consumidos com segurança.
Apesar dos casos, o ministério ressalta que a situação não muda o reconhecimento do Brasil como país livre da gripe aviária. “Cabe destacar que a notificação da infecção pelo vírus da IAAP em aves silvestres não afeta a condição do Brasil como país livre de IAAP e os demais países membros da OMSA não devem impor proibições ao comércio internacional de produtos avícolas brasileiros”, diz nota divulgada pela pasta.
Depois de recolhidas, as aves foram analisadas pela equipe do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo, que é referência da Organização Mundial da Saúde Animal. A unidade confirmou o diagnóstico. Em seguida, o governo brasileiro fez a notificação à entidade internacional.
O ministro Carlos Fávaro declarou estado de alerta com o objetivo de “aumentar a mobilização do setor privado e de todo o serviço veterinário oficial para incrementar a preparação nacional, aumentando a vigilância sobre a pandemia de IAAP”, com intensificação de ações de comunicação e prevenção, em especial entre criadores de aves.
Nota do Governo do Estado
O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, destacou que até o momento não há risco de qualquer embargo e sanção dos produtos agrícolas do Brasil para fora do país por se tratar de doença apenas em animais silvestres. “Agora vamos intensificar as nossas medidas protetivas para que essa doença não chegue nos aviários comerciais”, frisa.
Essas medidas de contenção definidas pelo governo do Espírito Santo serão detalhadas nesta terça-feira (16), às 15h30, em coletiva de imprensa a ser
realizadas pela Seag.
Confira na íntegra a nota do governo.
“Diante da detecção dos primeiros casos do vírus da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade – H5N1 – em duas aves silvestres no litoral do Espírito Santo, o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), informa que trata o assunto com toda atenção que requer.
Cabe destacar que a notificação da infecção em aves silvestres não afeta a condição do Brasil como país livre de Gripe Aviária. No momento, não há risco para a alimentação e os demais países membros da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) não devem impor proibições ao comércio internacional de produtos avícolas brasileiros.”
Gripe aviária
É uma doença viral altamente contagiosa e que afeta aves silvestres e domésticas. Atualmente, o mundo vive uma pandemia da influenza, sendo a maioria por meio do contato de aves migratórias com aves de subsistência, produção ou silvestres de uma região.
O vírus pode ser transmitido ao homem pode meio do contato com aves infectadas, vivas ou mortas. Se encontrar uma ave com os sintomas da doença (andar cambaleante, pescoço deitado e alta mortalidade em uma área), a orientação é acionar o serviço veterinário de sua cidade ou fazer uma notificação no e-Sisbravet.
Não toque ou recolhe aves doentes, pois o vírus fica presente em fezes e secreções respiratórias dos animais.
A gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de frango ou ovos.
“ABPA [Associação Brasileira de Proteína Animal] ressalta que é totalmente seguro o consumo da carne de aves e ovos, segundo informações cientificamente respaldadas pela OMSA, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e outros órgãos reconhecidos internacionalmente”, aponta nota da associação, que representa avicultores.
Quem pode se contaminar
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as pessoas sob risco de serem infectadas pelo vírus da influenza aviária A (H5N1) são aquelas expostas direta ou indiretamente a aves infectadas (vivas ou mortas) e/ou ambientes contaminados. Exemplos são funcionários/colaboradores de granjas, abatedouros e CETAS, incluindo aqueles que realizam a limpeza e desinfecção desses locais.
Em relação à influenza em aves silvestres de vida livre, considera-se que todas as pessoas que manipularam ou estiveram em contato próximo a essas aves também estão sob risco. Assim, para evitar a transmissão zoonótica, recomenda-se o uso adequado de EPIs e outras medidas de proteção na manipulação desses animais.
A professora do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Liliane Cruz Spano fala sobre os riscos de se contrair o vírus, considerado de alta patogenicidade. A transmissão ocorre no contato entre as aves e também pelo contato com as fezes eliminadas por elas. Aves silvestres chegam a ser mais resistentes ao vírus, que é levado nos movimentos migratórios desses pássaros. Quando a transmissão chega no contato com aves domésticas (ou de granja), a mortalidade acaba sendo alta. Nesse caso, a transmissão ocorre também com mais facilidade.
Letalidade da doença
Liliane destaca que, quando um humano é infectado, a letalidade passa de 50%. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2003 e março de 2022 foram registrados 864 casos e 456 mortes causadas pelo H5N1 em seres humanos. Os últimos casos aconteceram em Camboja, China, Espanha, Equador, Reino Unido, Estados Unidos e Vietnã.
Por enquanto, não há registro de transmissão de humano para humano no país. Por isso, ela destaca que no momento o ideal é focar no controle voltado para as aves.
E a orientação ao avistar uma ave ou animal com comportamento diferente é não chegar perto, não encostar e acionar as autoridades. Segundo o Mapa, qualquer cidadão que identifique mortalidade anormal e inexplicável de aves silvestres (qualquer espécie) ou grupo de aves moribundas com sinais clínicos compatíveis com gripe aviária (corrimento ocular, inchaço ocular, dificuldade para respirar, letargia, incapacidade de se levantar ou andar, convulsões, tremores, torcicolo), deve comunicar imediatamente ao SVO da unidade federativa ou aos órgãos ambientais ou de saúde atuantes na região, para garantir que a investigação apropriada seja realizada.
Risco para humanos e sintomas
O infectologista Crispim Cerutti, que é professor da Ufes, destacou que as aves silvestres são elos potenciais para que o vírus da influenza, no caso o H5N1, passe a circular nas aves domésticas, que podem transmitir para humanos. Há chance maior de a doença ser transmitida para humanos quando existe grande concentração de aves infectadas (carga viral aumentada), como em granjas.
“Quando acomete seres humanos, o vírus é agressivo e mata boa parte dos infectados. Por isso é importante toda a preocupação neste momento”, detalha.
Os sintomas são de gripe em geral, com paciente podendo apresentar:
. febre
. dor de garganta
. tosse
. dor nas juntas
. dor no corpo
. prostração
. situações mais graves podem evoluir para um quadro pulmonar importante com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Aves silvestres/migratórias contribuem para transmissão
A exposição direta a aves silvestres infectadas é o principal fator de transmissão da influenza aviária (IA). Estas aves atuam como hospedeiro natural e reservatório dos vírus da IA desempenhando um papel importante na evolução, manutenção e disseminação desses vírus. Essas aves normalmente apresentam infecção sem adoecer, o que lhes permite transportar o vírus a longas distâncias ao longo das rotas de migração. As principais espécies silvestres envolvidas parecem ser aves aquáticas, gaivotas e aves costeiras.
O vírus H5N1 é considerado uma influenza aviária de alta patogenicidade – IAAP (Highly Pathogenic Avian Influenza – HPAI), que pode causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade.