Desde o segundo semestre de 2022, o Ministério da Saúde enfrenta dificuldades para alavancar a vacinação contra a Covid-19 no Brasil.
Neste momento, mais de 19 milhões de brasileiros estão com a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em atraso e não estão completamente protegidos contra a infecção. De acordo com dados divulgados pelo ministério, o número de pessoas que deixaram de receber a primeira dose de reforço chega a 68 milhões. Outros 30 milhões estão atrasados com a segunda dose de reforço.
A maior parte dos imunizantes contra a infecção pelo coronavírus, incluindo as vacinas da Pfizer, AstraZeneca e Coronavac, conta com esquema primário de duas doses. Completar o esquema primário e receber as doses de reforço são estratégias fundamentais para aumentar a imunidade contra a doença.
Proteção parcial
As vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas com o objetivo de reduzir os riscos de casos graves e mortes pela doença. Receber apenas a primeira dose de imunizantes com esquema primário de duas doses confere uma imunidade parcial contra a infecção pelo coronavírus.
Os dados de eficácia conhecidos e comprovados das vacinas referem-se aos esquemas completos, principalmente no que diz respeito à proteção contra novas variantes. Evidências indicam que pessoas totalmente vacinadas têm menos probabilidade de infecção, incluindo assintomática, de adoecer de forma grave e de transmitir o vírus a outras pessoas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o grau de proteção pode variar de acordo com a resposta imunológica de cada indivíduo, das variantes do vírus em circulação e do tempo decorrido desde a vacinação.
“É importante ressaltar que completar o esquema é essencial para obter a proteção máxima contra a enfermidade. Além disso, com um grande percentual da população adequadamente vacinado, podemos reduzir a circulação do vírus, as chances de infecção das pessoas que não respondem bem às vacinas ou não podem ser vacinadas e dificultar o surgimento de variantes mais agressivas”, afirma a SBIm.
Pessoas idosas e pessoas com condições médicas pré-existentes, como pressão alta, doenças cardíacas e pulmonares, câncer ou diabetes, estão mais suscetíveis a desenvolver casos mais graves de Covid-19. A infecção pelo coronavírus pode resultar em uma variedade de quadros clínicos, desde infecção assintomática ou sintomas leves até hospitalização e morte.
Embora a maioria das pessoas desenvolvam sintomas leves ou moderados, aproximadamente 15% podem desenvolver sintomas graves que requerem suporte de oxigênio e, cerca de 5% podem apresentar a forma crítica da doença, com complicações como falência respiratória, sepse e choque séptico, trombose ou falência múltipla de órgãos, incluindo lesão hepática ou cardíaca aguda e requerem cuidados intensivos.
A Covid-19 pode causar impactos ao organismo que vão além de alterações no sistema respiratório, com sintomas prolongados que podem durar semanas ou meses. A chamada Covid longa está associada a alterações neurológicas, de comportamento, insônia, dores musculares e nas articulações. Outros sintomas são confusão mental e agitação, perda de olfato e paladar, ansiedade e depressão.
O que explica o abandono do esquema vacinal
Em vacinas que contam com esquema multidoses, é comum que haja uma taxa de abandono, ou seja, as pessoas começam a vacinação, mas não retornam aos postos para dar continuidade.
“Como toda vacinação em esquemas multidoses, ou seja, mais de uma dose, é comum, frequente e esperado o que chamamos de uma taxa de abandono: pessoas que começam o esquema e não dão seguimento. Para uma vacina em três doses, para cada 100 que tomam a primeira dose, 85 tomam a segunda, 70 tomam a terceira e assim sucessivamente, por exemplo”, explica o médico Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm.
De acordo com o especialista, o abandono do esquema vacinal está associado a diversos fatores, incluindo a falta de informação, notícias falsas e a percepção equivocada de que apenas uma dose oferece proteção suficiente.
“Esse abandono se dá por diversas razões, desde reações que a pessoa teve com a vacina e por isso não quer tomar a segunda ou percepção equivocada de que já está protegido com uma dose. A desinformação, como não sabr que eram duas ou três doses, além de esquecimento. Há também a própria percepção de risco, com a pandemia, no caso da Covid, avançando para a diminuição dos casos graves, isso tende a relaxar de uma maneira geral”, explica Kfouri.
As quatro vacinas já aprovadas no Brasil apresentam um perfil de segurança semelhante ao das outras que utilizamos há anos. Elas não causam efeitos colaterais importantes na maioria das pessoas que as recebem. Os eventos mais comuns são dor no local da injeção e febre. Outros sintomas observados são aparecimento de gânglios, cansaço, mialgia, dor de cabeça e outros, que cessam em poucos dias.
“De um universo de quase 190 milhões, pouco mais de 10% só de taxa de abandono entre a primeira e a segunda dose acho bastante razoável, acima da média mundial e para a terceira dose nosso problema é ainda maior. Estamos com cobertura perto de 60% da população elegível tomou só a sua 3ª dose”, diz o especialista.
O vice-presidente da SBIm defende que a terceira dose não seja nomeada como “dose de reforço”, mas que seja entendida e incorporada como parte do esquema primário de vacinação contra a doença.
“Após a chegada da variante Ômicron, ficou evidente que a proteção alcançada com a terceira dose não é simplesmente um reforço, uma recuperação daquela proteção de duas doses. Na verdade, três doses funcionam muito melhor, protegem em níveis muito superiores a duas doses”, pontua. “Então, mesmo a terminologia sendo utilizada da terceira dose como ‘dose de reforço’, não se trata de uma dose de reforço e sim a prática de um esquema primário de vacinação ter três doses. É o que garante a prevenção de formas graves em todas as idades”, completa Kfouri.
Doses de reforço
Estudos mostram que doses de reforço ampliam a resposta imunológica e aumentam em mais de cinco vezes a proteção contra casos graves e óbitos pelo coronavírus. A definição sobre os públicos elegíveis para receber doses de reforço é feita pelo Ministério da Saúde, a partir da recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O público apto a receber doses de reforço tem sido ampliado ao longo da pandemia de acordo com novas evidências científicas que sugerem o benefício das aplicações adicionais.
A indicação de dose de reforço tem como base a análise de diversas evidências, incluindo cenários epidemiológicos nos diferentes locais em que se verifique aumento no risco de adoecimento entre vacinados, ainda que de forma branda.
Também são avaliados os desempenhos das vacinas quanto à capacidade de prevenir infecção e formas graves, em diferentes contextos de circulação de variantes de preocupação. A avaliação considera ainda o maior quantitativo de doses disponíveis e a prioridade para grupos de maior risco, que demandam esquema diferenciado de vacinação.
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