Saúde

Coronavírus: estocagem de remédios impacta outros pacientes

13 abr 2020 - 09:00

Redação Em Dia ES

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Comprar e guardar certos medicamentos durante a pandemia do novo coronavírus pode prejudicar pacientes de risco
A doença causada pelo novo coronavírus está causando pânico no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Em um mês, os casos confirmados de COVID-19 no país chegaram a 2.554, com 59 mortes registradas. O crescimento constante dessas marcas no cenário global acabou alertando a população e acendeu a discussão acerca dos tratamentos contra o COVID-19.

Diante disso, pesquisadores de muitos países estão na corrida para desenvolver uma vacina e encontrar medicações eficazes e seguras para combater o novo coronavírus. Mesmo sem qualquer definição, algumas nações passaram a utilizar certos medicamentos que parecem ajudar nos quadros da nova doença.

Em território nacional, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina para pacientes com COVID-19 em estado grave. Entretanto, essa indicação provocou um aumento das vendas do medicamento nas farmácias por aqueles que querem se precaver contra a doença.

O problema é que muitos desses medicamentos já são utilizados por pacientes que sofrem com algumas doenças, como é o caso da hidroxicloroquina, que é usada para tratamento de artrite reumatoide, malária e lúpus. Ou seja, a corrida desnecessário pelo remédio pode estar prejudicando quem realmente precisa. Entenda:

Remédio não previne a infecção
O cardiologista Hélio Castello alerta que fazer estocagem de remédio por precaução “não faz o menor sentido”. Se uma pessoa é infectada e apresenta um quadro leve, a recomendação é que ela faça um tratamento sintomático, com remédios que tiram a febre e possíveis dores.

O médico ainda alerta que fazer automedicação com cloroquina, hidroxicloroquina ou qualquer outro medicamento para prevenir ou tratar o novo coronavírus é perigoso, pois o remédio está sendo estudado ainda e pode causar efeitos colaterais sérios.

Nos Estados Unidos, após assistir a uma declaração de Trump sobre a eficácia da cloroquina contra a COVID-19, um casal tentou se automedicar com uma versão não medicamentosa do fosfato de cloroquina – usada para limpar aquários. Ambos passaram mal e o homem de 68 anos acabou falecendo.

O tratamento com a hidroxicloroquina pode provocar reações adversas, como alterações cardíacas, arritmia, náuseas, vômitos e erupções cutâneas. Seu uso prolongado pode provocar até cegueira. Por isso, nunca se automedique e sempre siga as orientações médicas.

No Brasil, a utilização da hidroxicloroquina está sendo feita como “última escolha”, segundo Hélio Castello. “Nós estamos usando eventualmente para pacientes muito graves na UTI”, explica. E mesmo assim, é preciso de consentimento do paciente e dos familiares.

As melhores formas de prevenção contra o novo coronavírus incluem o distanciamento social e ações de higiene pessoal, como:
– Lavar as mãos com água e sabão frequentemente
– Higienizar as mãos sempre que possível com álcool em gel
– Mesmo com as mãos limpas, evitar tocar olhos, nariz e boca
– Utilizar lenço descartável para higiene nasal
– Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
– Higienizar as mãos após tossir ou espirrar
– Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas
– Manter os ambientes bem ventilados
– Limpar regularmente o ambiente e superfícies comuns, como móveis, maçanetas e corrimão.

Anvisa proíbe compra sem receita
Após aprovar o uso da hidroxicloroquina em pacientes em estado grave de COVID-19, a Anvisa enquadrou a medicação como remédio de controle especial. Ou seja, a partir de agora, a compra da substância só poderá ser feita com retenção da receita pela farmácia.

A agência não recomenda sua utilização em pacientes infectados ou como forma de prevenção. Tal medida foi imposta a fim de evitar que a população se automedique e estoque o produto sem necessidade.

Falta de medicamentos
No Facebook, uma internauta brasileira que sofre de lúpus postou na rede que a medicação Reuquinol (hidroxicloroquina) estava em falta em todas as farmácias de Porto Alegre em que ela havia procurado.

Por isso, o cardiologista alerta que o abastecimento sem necessidade deste medicamento pode afetar quem mais precisa, como pacientes com doenças reumáticas e lúpus. “Pacientes estão ficando sem o remédio e dependem disso para sobreviver”, complementa.

Estocagem de outros remédios
Para evitar o uso indiscriminado das drogas em questão, o urologista Flávio Iizuka recomenda que as pessoas tenham em casa remédios indicados para dores no corpo, febre e antigripais, pois o estoque destes tipos de medicamento nas farmácias é muito alto.

Tal recomendação se deve ao fato de que 80% dos infectados pelo vírus devem apresentar um caso leve ou até mesmo serem assintomáticos, com sintomas semelhantes à gripe.

“Vinte por cento dos infectados terão uma forma mais grave, necessitando hospitalização que deve ser recomendada a todos que tem sintomas de maior gravidade, como falta de ar. Dor muito forte no peito ou dor abdominal muito intensa e febre são outros sintomas de alerta, que também são motivos de ir para o hospital”, complementa o médico.

Por outro lado, a estocagem de remédios pode ser importante para pacientes com doenças crônicas e que fazem uso de medicações de uso contínuo – caso de quem sofre com hipertensão, diabetes, arritmias, distúrbios psiquiátricas e doença autoimune. A recomendação de Iizuka é que a pessoa mantenha um bom estoque de sua medicação para, pelo menos, três meses.

O cardiologista Hélio Castello acrescenta ainda que fazer estocagem de qualquer outro medicamento sem necessidade também não é o mais indicado, pois o remédio pode vencer e perder sua efetividade. Portanto, o ideal é seguir a recomendação dos especialistas e só fazer uso das drogas previamente indicadas.
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Atualizado: 13/04/2020 09:00

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