A aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF) deu início à corrida por sua sucessão, abrindo espaço para a terceira indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Corte em seu atual mandato. Três nomes despontam como os principais favoritos na disputa: o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A decisão de Barroso, anunciada na quinta-feira (9), coloca em movimento um complexo xadrez político que envolve o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a própria Suprema Corte. Enquanto aliados do presidente defendem um nome de extrema confiança, o Senado e ministros do STF demonstram preferência por um perfil com trânsito político e capacidade de articulação.
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Os favoritos na disputa
Atualmente, três homens são considerados os mais prováveis para ocupar a cadeira de Barroso. Cada um possui trunfos distintos na busca pela indicação presidencial.
Jorge Messias, atual ministro da AGU, tem como principal diferencial a relação de proximidade e lealdade com o presidente Lula, um critério que o próprio presidente já definiu como determinante em suas indicações anteriores para o Supremo, Cristiano Zanin e Flávio Dino. Messias já havia sido cotado para a vaga de Rosa Weber e sua nomeação é vista como a escolha de maior confiança pessoal de Lula.
Bruno Dantas, ministro e ex-presidente do TCU, destaca-se pelo forte trânsito político. Ele é próximo de figuras influentes como o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de manter amizade com os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Sua eventual saída do TCU também abriria uma nova vaga na corte de contas, permitindo uma arquitetura política para acomodar aliados.
Rodrigo Pacheco, senador por Minas Gerais e ex-presidente do Senado, surge como o candidato com maior respaldo dentro do próprio STF e no Congresso. Segundo apurou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, seu perfil, considerado discreto, com sólida trajetória jurídica e boas relações nos Três Poderes, agrada aos atuais membros da Corte.
O dilema de Pacheco: STF ou Governo de Minas?
Apesar do forte apoio, a indicação de Pacheco enfrenta um obstáculo político significativo: os planos de Lula para as eleições de 2026 em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. O presidente já declarou publicamente seu desejo de que o senador seja o candidato de sua frente ampla ao governo do estado.
“Eu tenho certeza que vamos ganhar o estado de Minas Gerais com o Pacheco, ele sabe disso. É só ele se dispor a ser candidato”, declarou Lula à rádio Itatiaia em agosto.
Pessoas próximas ao senador afirmam que ele vive um dilema, pois não esconde o desejo de se tornar ministro do Supremo. Contudo, ele estaria ciente da falta de um “plano B” para a aliança de Lula em Minas contra nomes ligados ao bolsonarismo.
No Senado, o apoio a Pacheco é explícito. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, tem dito a colegas que trabalhará para garantir ao senador “o maior número de votos da história” em uma sabatina de aprovação, caso ele seja o indicado.
O ministro Gilmar Mendes também expressou publicamente sua preferência. Em uma reunião social em agosto, como mostrou a colunista Mônica Bergamo, o decano afirmou: “A Corte precisa de pessoas corajosas e preparadas juridicamente. E o senador Pacheco é o nosso candidato. O STF é jogo para adultos”.
Pressão por uma mulher e outros nomes no páreo
Paralelamente à disputa principal, cresce a pressão de entidades e setores da sociedade para que Lula escolha uma mulher, visto que a substituição de Rosa Weber por Flávio Dino deixou a ministra Cármen Lúcia como a única representante feminina na Corte.
Nesse cenário, o nome de Maria Elizabeth Rocha, atual presidente do Superior Tribunal Militar (STM), corre por fora. Segundo o jornalista Gerson Camarotti, caso a disputa entre os favoritos gere um impasse, a ministra Daniela Teixeira, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), indicada por Lula em 2023, poderia surgir como uma terceira via. O próprio Barroso, ao ser questionado sobre a indicação de uma mulher para sua vaga, afirmou que “filosoficamente gosta da ideia”.
Outros dois nomes com bom trânsito no Palácio do Planalto são mencionados como possíveis candidatos: o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinicius Carvalho, e Wellington César Lima e Silva, atual advogado da Petrobras e ex-secretário de Assuntos Jurídicos da Presidência. No entanto, aliados do presidente avaliam como baixas as chances de uma mulher ser escolhida neste momento, com os homens dominando a lista de cotados.