A partir desta quarta-feira (1º), o Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do Brics, bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O mandato ocorre em meio à expansão do grupo, que passa a contar com nove novos membros em 2025, e traz como prioridades a reforma da governança global e o desenvolvimento sustentável com inclusão social.
Com o lema Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável, o governo brasileiro enfrenta o desafio de articular a participação dos novos integrantes e dar continuidade à implementação de um sistema de pagamento baseado em moedas locais para o comércio entre os países do bloco, reduzindo a dependência do dólar.
Expansão do bloco
Os novos membros confirmados pela Rússia incluem Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Além disso, há expectativa de adesão de Nigéria, Turquia, Argélia e Vietnã, após convite oficial realizado na 16ª cúpula do Brics, em Kazan, Rússia, em outubro de 2024.
Apesar da inclusão desses países, a assessoria do Itamaraty não especificou se eles ingressarão como membros efetivos ou parceiros. Membros efetivos possuem direito a voto, enquanto parceiros podem participar de reuniões, mas sem poder decisório, já que o bloco adota um sistema de consenso.
Segundo o professor Paulo Borba Casella, da Universidade de São Paulo, o Brasil precisará criar uma dinâmica eficiente para o Brics expandido. “Será preciso ver como o Brasil consegue ajudar a fazer funcionar o Brics na sua nova configuração, com dez estados e mais uma dúzia de estados associados”, afirmou.
Peso econômico e estratégico
Atualmente, os países do Brics representam mais de 40% da população mundial e 37% do Produto Interno Bruto (PIB) global por poder de compra, superando o peso econômico do G7. Juntos, detêm 26% do comércio global, 44% das reservas de petróleo e 53% das de gás natural, além de concentrarem 72% das reservas de terras raras.
Militarmente, o grupo conta com três potências nucleares: Rússia, China e Índia. A professora Marta Fernández, do Brics Policy Center, destaca o impacto crescente do bloco. “O Brics tem um peso econômico e militar acentuado, que cada vez mais demanda um peso político à altura dos recursos que detêm”, declarou.
Desafios internos e externos
Embora o bloco promova uma agenda reformista, buscando maior representação de países da Ásia, África e América Latina em instituições como o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial, as diferenças internas entre os membros representam um obstáculo. “De maneira nenhuma, o Brics pode ser visto como um bloco capaz de atuar de maneira coesa nos grandes temas do nosso tempo”, apontou Pedro Dallari, diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP.
Além disso, a proposta de substituir o dólar por moedas locais gerou reações, como a ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar produtos dos países que abandonarem a moeda americana. Para Casella, no entanto, essas ameaças são pouco práticas. “Ele joga para o eleitorado interno, mas o sistema internacional não funciona só com ameaças”, analisou.