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Bolsonaro no G20: Brasil tem pior perspectiva de crescimento em 2022 entre países do grupo

30 out 2021 - 07:30

Redação Em Dia ES

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Segundo estimativas do FMI, o PIB brasileiro deve crescer 5,2% este ano, mas apenas 1,5% no ano que vem. Crescimento menor do que o esperado para outros emergentes, como Rússia (2,9%), Argentina (2,5%) e África do Sul (2,2%)
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participa neste sábado e domingo (30 e 31/10) da Reunião de Cúpula do G20, grupo que reúne os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia.

Na pauta, estarão temas como a criação de um tributo global sobre empresas multinacionais, os preços do petróleo, a crise energética que afeta diversos países do mundo, e os gargalos logísticos e de fornecimento de insumos, que também têm prejudicado o desempenho da economia mundial.

O grupo se reúne num momento em que o mundo enfrenta uma desaceleração do crescimento, diante do avanço das pressões inflacionárias, e da perda de ritmo da economia chinesa, em meio à crise do setor imobiliário e energética enfrentada pela superpotência asiática.

Mesmo nesse cenário desfavorável generalizado, o Brasil se destaca negativamente.

O país deve registrar o menor crescimento em 2022 entre os membros do G20, segundo estimativas do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgadas neste mês.

Pelas projeções do órgão multilateral, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve crescer 5,2% este ano, mas apenas 1,5% no ano que vem. O crescimento projetado para 2022 é menor do que o esperado para outros emergentes, como Rússia (2,9%), Argentina (2,5%) e África do Sul (2,2%).

Nas estimativas da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgadas ao fim de setembro, o quadro não é muito diferente.

O “clube dos países ricos” espera que o PIB do G20 deve desacelerar de um crescimento de 6,1% em 2021, para 4,8% em 2022. Para o Brasil, a previsão é de uma perda de ritmo bem mais acentuada: de alta de 5,2% este ano, para 2,3% no ano que vem. Segundo a OCDE, o país só ficaria à frente do Japão (2,1%) e da Argentina (1,9%) em termos do crescimento esperado para 2022.

Se o cenário já não parece muito bom na comparação internacional olhando esses dados, a tendência é a coisa piorar.

Isso porque as projeções das entidades multilaterais como FMI e OCDE são atualizadas com menos frequência do que aquelas feitas pelos economistas de mercado, que trabalham em bancos, gestoras de recursos e consultorias, acompanhando a economia brasileira no seu dia a dia.

Alguns desses economistas passaram a prever nesta semana que o PIB brasileiro pode entrar em recessão ou ficar estagnado em 2022, diante do desarranjo das contas públicas provocado pela quebra do teto de gastos — regra que limita o crescimento da despesa do governo à inflação.

É o caso do Itaú, que revisou na segunda-feira (25/10) sua projeção para o PIB do país em 2022 para queda de 0,5%. O banco J.P. Morgan e a consultoria MB Associados cortaram suas estimativas de 0,9% e 0,4%, respectivamente, para 0%.

E mesmo quem ainda espera algum crescimento para o Brasil em 2022, está baixando a bola de suas expectativas, caso da XP Investimentos, que cortou sua estimativa para o PIB do próximo ano de 1,3% para 0,8%. O Credit Suisse reduziu de 1,1% para 0,6%. E a ASA Investments, de 1,5% para 0,4%.

Assim, mesmo o microcosmo do G20 parece desmentir a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, na última sexta-feira (22/10): “O Brasil é um país bem visto lá fora. As pessoas veem o que a gente está fazendo aqui. O Brasil vai crescer bem mais no ano que vem”, disse Guedes, durante coletiva ao lado de Bolsonaro, em que ambos confirmaram o furo do teto de gastos.

Entenda por que a economia do mundo todo deve desacelerar em 2022 e como o Brasil deve ter desempenho ainda pior do que os outros países.

Por que a economia mundial vai crescer menos em 2022
“O crescimento global deve ser menor e a inflação maior devido à desaceleração na China e ao aumento dos preços de energia em todo o mundo”, resumiu o Itaú, em relatório recente.

A economista Margarida Gutierrez, professora do Coppead/UFRJ (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro), explica que o aumento da inflação em todo o mundo deve levar os bancos centrais de diversos países a encerrar o ciclo de estímulos em resposta à pandemia e normalizar suas políticas monetárias.

A mudança de direção na ação dos bancos centrais deve funcionar como um freio para a atividade econômica em todo o mundo.

“Com a inflação batendo na porta dos Estados Unidos e da Zona do Euro — economias que estavam com taxas de juros zero ou próximas de zero —, vai começar a ter uma normalização das políticas monetárias, então os juros vão começar a subir”, diz Gutierrez.

“O caso da economia americana é emblemático: pelo quinto mês consecutivo, os Estados Unidos têm apresentado uma inflação de 5,4% em 12 meses, o que sinaliza que não é uma inflação transitória, como inicialmente se supunha”, acrescenta a economista.

“Nesse cenário, o FED [Federal Reserve System, o sistema de bancos centrais dos Estados Unidos] e o Banco Central Europeu já sinalizaram que vão reduzir seus programas de compras de ativos e, depois disso, vão começar a subir as taxas de juros, praticando o que chamamos de normalização monetária. Essa subida de juros já é um freio à atividade econômica por si só.”

A inflação global tem sido puxada pela alta de preços das commodities, em meio ao aumento da demanda global com a reabertura das economias após o isolamento social provocado pelo coronavírus; e pela desorganização das cadeias produtivas, que tem provocado falta de insumos para a indústria — como o setor de automóveis, que tem sofrido com a escassez de semicondutores.

Já na China, são dois os problemas principais: uma crise no setor imobiliário, puxada pelo alto endividamento da incorporadora Evergrande; e uma crise energética, provocada pela disparada de preços e escassez de carvão, num momento em que o país asiático também tenta reduzir suas emissões de carbono, visando atingir metas ambientais estabelecidas para 2030 e 2060.

“Na China, desde a crise de 2008, eles promoveram um padrão de crescimento muito baseado no endividamento”, explica Gutierrez. “Essas construtoras que agora estão em crise são um exemplo disso, estão inadimplentes, após serem estimuladas pelos empréstimos de bancos públicos e por uma política de governo de incentivo ao endividamento.”

“Soma-se a isso a escassez de carvão que está paralisando parte do setor produtivo. Então a China tem um problema grave aí que é o seu modelo de crescimento”, diz a professora.

O FMI prevê que a China desacelere de um crescimento de 8% este ano, para 5,6% em 2022. Já a OCDE, projeta um avanço de 8,5% do PIB da China em 2021 e de 5,8% no próximo ano.

Com a China representa sozinha cerca de 18% do PIB mundial e é uma grande compradora internacional de commodities produzidas por outros países, uma desaceleração dessa magnitude tende a afetar a economia do mundo todo.

Como o Brasil vai ter desempenho ainda pior que o resto do mundo
“Não tem nenhum motor de crescimento no Brasil”, diz Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“O desemprego está enorme, a inflação está fazendo com que as famílias percam renda, isso diminui o consumo”, enumera. “O investimento também não tem nenhum estímulo, porque ninguém acredita que o Brasil vai crescer. Então a economia não tem qualquer impulso de crescimento.”

Esse cenário tende a ser agravado pela alta de juros que está sendo feita pelo Banco Central, na tentativa de conter a inflação.

Nesta quarta-feira (27/10), o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano, alta de 1,5 ponto percentual.

O comitê indicou ainda que deve fazer outro aumento de igual magnitude na sua próxima reunião, marcada para dezembro, o que deve levar a taxa para 9,25%. Parte dos economistas aposta que o ciclo de aperto monetário não deve parar por aí, com a taxa básica de juros indo a dois dígitos no começo do próximo ano.

“Com isso, as famílias que gostariam de tomar crédito para consumo não vão mais fazer isso. E essa alta de juros vai espantar os investimentos também, porque ninguém vai investir tendo que pagar juros elevados, é melhor colocar o dinheiro na compra de títulos da dívida e ganhar 10% a 12% de retorno sem os riscos do investimento produtivo”, diz Considera.

Mas se o mundo inteiro está sofrendo com inflação, por que a alta de preços no Brasil é tão mais significativa do que nos demais países, exigindo essa dose cavalar de juros em resposta?

“No Brasil, além de sofrer tudo que o mundo está sofrendo, nós temos uma taxa de câmbio super pressionada por causa das nossas incertezas, da nossa percepção de risco, que está subindo muito”, explica Margarida Gutierrez, da Coppead/UFRJ.

“A nossa taxa de câmbio está absolutamente descolada do resto do mundo, e o câmbio mais desvalorizado gera pressões inflacionárias, isso contamina as expectativas de inflação e, por isso, nossa inflação é tão maior do que a de outros países”.

O dólar fechou 2020 cotado a R$ 5,19 e nesta semana já supera os R$ 5,60, tendo encostado nos R$ 5,70 na semana passada, quando foi confirmada a quebra do teto de gastos. Acompanhando esse movimento, as expectativas para a inflação em 2021 começaram o ano em 3,3% e estão atualmente próximas dos 9%, segundo o boletim Focus do Banco Central.

Na prévia da inflação de outubro, medida pelo IPCA-15, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 10,34%.

O câmbio desvalorizado afeta, por exemplo, os custos industrias, já que boa parte dos insumos da nossa indústria são importados. Impacta também os preços dos combustíveis, já que o petróleo é cotado internacionalmente em dólares. E estimula as exportações, reduzindo a oferta de alimentos no mercado interno, o que também contribui para a alta de preços.

E por que a quebra do teto de gastos piorou ainda mais esse cenário já desfavorável?

Porque, sem o teto como referência para os gastos do governo, os investidores deixam de ter clareza sobre a trajetória da dívida pública. Com isso, a percepção de risco de insolvência do Brasil aumenta e investidores estrangeiros tiram divisas do país, desvalorizando o câmbio e alimentando as expectativas de inflação, o que leva o Banco Central a ter que subir mais os juros para controlá-la.

Por fim, a cereja nesse bolo desandado do Brasil é que 2022 é ano de eleições no país.

“Serão eleições altamente incertas e polarizadas, com dois presidenciáveis a favor do aumento do gasto público, o que pode agravar a situação fiscal. Isso está minando a confiança dos agente para o ano que vem”, diz Gutierrez.

Assim, podemos esperar novas revisões para baixo nas projeções de crescimento para o Brasil feitas pelo FMI e pela OCDE, mesmo com o Brasil já estando atualmente na rabeira das expectativas do G20.

“Certamente serão revisadas. Eles devem esperar os resultados da economia no terceiro trimestre, mas devem trazer esses números para baixo, com certeza”, acredita Considera, da FGV. “Estamos entrando numa situação que eu não imaginava jamais que nós voltaríamos”, lamenta o economista.


Com informações de Thais Carrança da BBC News Brasil
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Atualizado: 30/10/2021 07:30

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