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Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais, aponta pesquisa

05 maio 2025 - 14:30

Redação Em Dia ES

por Julieverson Figueredo, com informações de Agência Brasil

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Entre os jovens de 15 a 29 anos, índice de analfabetismo funcional subiu para 16%. Estudo também revela desigualdades raciais e impacto das tecnologias no acesso a dir
Pesquisa mostra que nível é o mesmo de 2018. Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

Três em cada dez brasileiros com idade entre 15 e 64 anos não têm domínio suficiente da leitura e da escrita para compreender pequenas frases, identificar preços ou números de telefone. O dado foi divulgado nesta segunda-feira (5) pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), que apontou que 29% da população brasileira se encontra em situação de analfabetismo funcional — o mesmo índice registrado em 2018.

A pesquisa acende um alerta sobre a persistência de desigualdades educacionais no país e sobre os impactos que o domínio limitado da linguagem tem na vida cotidiana e no acesso a direitos básicos. O Inaf também identificou um aumento do analfabetismo funcional entre jovens de 15 a 29 anos, que passou de 14% em 2018 para 16% em 2024.

Segundo os pesquisadores, esse crescimento pode estar relacionado aos efeitos da pandemia de Covid-19, período em que escolas foram fechadas e muitos estudantes ficaram sem aulas regulares.

Como o levantamento foi feito
O Inaf foi retomado após seis anos sem edição. A pesquisa ouviu 2.554 pessoas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país. A margem de erro varia entre dois e três pontos percentuais, com 95% de confiança.

Os participantes foram submetidos a um teste que avalia habilidades de leitura, escrita e matemática e, pela primeira vez, também capacidades no uso de tecnologias digitais. Com base no desempenho, os entrevistados foram distribuídos em cinco níveis: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente.

Os dois primeiros níveis — analfabeto e rudimentar — são agrupados como analfabetismo funcional. O nível elementar representa o alfabetismo básico, enquanto os dois últimos — intermediário e proficiente — configuram o chamado alfabetismo consolidado.

Níveis de alfabetismo no Brasil
De acordo com a pesquisa, 36% da população brasileira está no nível elementar de alfabetismo, ou seja, compreende textos médios e consegue realizar operações básicas de matemática. Outros 35% têm alfabetismo consolidado, mas apenas 10% atingem o nível mais alto, o proficiente.

Entre os trabalhadores, 27% são analfabetos funcionais, 34% têm alfabetismo elementar e 40% se encontram nos níveis mais elevados. Mesmo entre pessoas com ensino superior completo, 12% são classificados como analfabetos funcionais.

O coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, Roberto Catelli, uma das organizações responsáveis pelo Inaf, alerta para as consequências da baixa escolarização:

“Um resultado melhor só pode ser alcançado com políticas públicas significativas no campo da educação e não só da educação, também na redução das desigualdades e nas condições de vida da população. Porque a gente vê que quando essa população continua nesse lugar, ela permanece numa exclusão que vai se mantendo e se reproduzindo ao longo dos anos”, afirmou.

Desigualdades raciais
O levantamento também destaca desigualdades entre diferentes grupos étnico-raciais. Entre pessoas brancas, 28% são analfabetos funcionais, enquanto entre a população negra (pretos e pardos), esse número sobe para 30%. Já entre indígenas e amarelos, o índice é ainda maior: 47%.

Em relação ao alfabetismo consolidado, 41% dos brancos estão nessa faixa, frente a 31% dos negros e 19% dos indígenas e amarelos.

Alfabetismo digital em um país desigual
Nesta edição, o Inaf trouxe pela primeira vez dados sobre o desempenho da população em tarefas digitais. Os resultados mostram que a exclusão digital acompanha as mesmas desigualdades educacionais.

Entre os analfabetos funcionais, 95% apresentaram baixo desempenho digital. Já entre os que estão no nível elementar, 67% conseguiram realizar parte das tarefas no celular, como simular a compra de um tênis online ou preencher um formulário. No topo, entre os alfabetizados proficientes, 60% demonstraram alto nível de habilidade digital. Ainda assim, 37% tiveram desempenho apenas médio e 3%, baixo.

Segundo a coordenadora do Observatório Fundação Itaú, Esmeralda Macana, é necessário formar a população para lidar com um mundo cada vez mais digital:

“A gente já acessa serviços digitais como Pix, como marcar uma consulta médica. Acessar inclusive os programas de transferência de renda, de carteira de trabalho, documentos, identidade. Então, tudo é por meio digital. Se uma pessoa não tem essa habilidade para poder minimamente ter esse acesso, a políticas públicas inclusive, então, é muito preocupante”, destacou.

Jovens entre 20 e 29 anos lideram em desempenho digital, com 38% no nível alto, seguidos pelos de 15 a 19 anos (31%). No entanto, Roberto Catelli alerta que o foco não deve ser apenas no letramento digital:

“O que fica evidente é que as mesmas desigualdades para aqueles que têm baixa escolaridade se reproduzem no contexto digital, porque também são pessoas que vão ter menos acesso”, disse.

Sobre o Inaf
O Inaf voltou a ser realizado depois de seis anos de interrupção. Esta edição contou com a participação de 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, que realizaram os testes entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país, para mapear as habilidades de leitura, escrita e matemática dos brasileiros. A margem de erro estimada varia entre dois e três pontos percentuais, a depender da faixa etária analisada, considerando um intervalo de confiança estimado de 95%.

Este ano, pela primeira vez, o Inaf traz dados sobre o alfabetismo no contexto digital para compreender como as transformações tecnológicas interferem no cotidiano.

O estudo foi coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. A edição de 2024 é correalizada pela Fundação Itaú em parceria com a ⁠Fundação Roberto Marinho, ⁠Instituto Unibanco, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

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