Historiadores comentam o calendário cristão e a mudança da década
Com a chegada de 2020, teve início uma discussão antiga acerca do calendário ocidental. Seria o novo ano a inauguração também da nova década? Estaríamos entrando na década de 2020 do século 21? A Agência Brasil conversou com historiadores para explicar a polêmica.
Segundo Daniel Gomes de Carvalho, docente da Universidade de Brasília e um dos integrantes do canal de YouTube Se Liga Nessa História, afirma que formalmente a década só começará no próximo ano, em 2021.
Isso ocorre porque no calendário cristão não houve o ano zero. Ele teve início já no ano 1 depois de Cristo. Assim como o século 21 não começou em 2000, mas em 2001, as décadas também só começam no ano 1 de cada uma delas. “É meramente uma questão convencional”, explica Carvalho.
Contudo, ele pondera que na história há pesquisadores que não trabalham com divisões rígidas ou com coincidências exatas dos anos. Para o historiador britânico Eric Hobsbawn, por exemplo, o século 20 (ou curto século 20, como define) teria começado em 1914, com o início da primeira Guerra Mundial, e terminado em 1991, com a dissolução da União Soviética.
“Na história, é bastante comum trabalhar décadas e séculos às vezes de maneira diferente do que a data diz. Se para o historiador tem alguma coerência, isso não tem problema. No trabalho historiográfico, as datas podem ser mais fluídas de acordo com o que você quer entender. Às vezes tem um ciclo econômico”, ressalta.
Mas no caso da mudança de décadas formalmente é utilizada a numeração do calendário cristão e a virada no ano 1.
O historiador Fred Tomé vai em sentido semelhante. Ele reforça que como na história cristã o calendário foi dividido entre antes e depois de Cristo e não foi convencionada a figura do ano zero, tradicionalmente a década só começaria no próximo ano.
Entretanto, o tempo pode ter percepções diferenciadas não apenas para pesquisadores como para os indivíduos, que podem compreender seus próprios momentos e transições de vida a partir de marcos específicos.
“Em termos cronológicos conceituais convencionais, estaríamos equivocados em falar que houve virada de década. Mas é uma convenção. Isso não impede que as pessoas entendem os anos fechados como fechamento de um ciclo e abertura de um outro ciclo. A polêmica está situada nas diferentes formas de percepção tempo”, observa Tomé.