A Corregedoria da Polícia Militar do Espírito Santo decidiu pela demissão do soldado Lucas Torrezani de Oliveira, 28 anos, acusado de atirar e matar o músico Guilherme Rocha, 37, em abril de 2023.
O crime ocorreu após uma discussão sobre o som alto em uma festa no condomínio onde ambos moravam, no bairro Jardim Camburi, em Vitória. A decisão foi tomada pelo Conselho de Disciplina da corporação e ainda precisa ser homologada pelo Comando Geral da PMES.
O crime foi registrado por câmeras de segurança na madrugada do dia 17 de abril de 2023. As imagens mostram o momento em que Lucas Torrezani atira em Guilherme Rocha, que havia se aproximado para pedir que a festa organizada pelo militar fosse encerrada.
O músico estava desarmado e teria levantado as mãos em um gesto de rendição antes de ser baleado. O soldado foi preso em flagrante, mas liberado pouco tempo depois para responder o processo em liberdade. No entanto, com o avanço das investigações, sua prisão foi decretada, e ele atualmente está detido no presídio militar no Quartel do Comando Geral (QCG), em Maruípe, Vitória.
A decisão de demissão do soldado foi publicada no último dia 20 de setembro, em boletim da PMES. No documento, a Corregedoria informou que Lucas Torrezani permanecerá preso até que o processo administrativo tenha o trânsito em julgado, e a demissão seja homologada pelo Comando Geral.
O militar terá 15 dias para apresentar recurso administrativo contra a decisão. Caso os recursos sejam apresentados, o Comando Geral só poderá homologar a demissão após a análise final.
Em nota oficial, a Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) afirmou que a solução do Conselho de Disciplina foi pela demissão do soldado, mas que a decisão ainda depende de homologação pelo Comando Geral.
“O policial ainda pode apresentar recurso administrativo contra a decisão. Enquanto isso, permanece preso no presídio militar localizado no QCG, até que ocorra o trânsito em julgado administrativo. O soldado Lucas Torezani de Oliveira terá 15 dias para apresentar recurso administrativo contra a solução relativa ao Conselho de Disciplina”, diz o comunicado.
Detalhes do documento
O documento que embasou a decisão de demitir Lucas Torrezani possui oito páginas e relata com detalhes o comportamento do soldado no dia do crime. Segundo o relatório, foi descartada a hipótese de legítima defesa, pois a vítima estava desarmada e em posição de rendição quando foi baleada.
O texto também destaca que, após o disparo, o militar aparentou indiferença, consumiu bebida alcoólica e impediu que a esposa de Guilherme prestasse socorro. Além disso, Lucas teria criado um grupo de WhatsApp chamado “AA”, no qual teria zombado da morte do vizinho com a frase: “Ele queria dormir, agora dormiu”.
Outro ponto citado no documento foi a realização de festas frequentes no condomínio, nas quais, segundo a investigação, havia consumo de drogas ilícitas e bebidas alcoólicas. O comportamento de Lucas Torrezani também foi descrito como desrespeitoso em relação às normas do condomínio, com ameaças a outros moradores.
Em um dos relatos, uma moradora contou que o militar se fardou após ser repreendido pelo pai e confrontou a declarante dizendo: “Quem é você para dizer o que eu devo fazer ou não? Vou continuar bebendo e vou espalhar cigarros pelo condomínio inteiro, quem vai me impedir?”.
Defesa alega incapacidade mental
A defesa de Lucas Torrezani, representada pelo advogado Felipe Faccim, afirmou que o soldado foi submetido a tratamento psiquiátrico anterior ao crime e que estaria incapacitado para atos civis. No entanto, perícias realizadas pela Junta Militar de Saúde e pela Inspeção de Saúde Especializada descartaram a alegação de incapacidade, confirmando que o acusado estava apto a responder por seus atos.
O advogado também informou que, até o momento, a defesa não foi formalmente intimada sobre a decisão da Corregedoria. “Após ser intimado e com a devida ciência da decisão referida, esta será analisada e serão tomadas as medidas pertinentes cabíveis ao caso”, afirmou em nota.
Relembre o crime
O crime aconteceu na madrugada do dia 17 de abril de 2023, no condomínio onde Lucas Torrezani e Guilherme Rocha moravam, em Jardim Camburi, Vitória. Na ocasião, o músico teria pedido para que o militar e seus amigos encerrassem uma festa que acontecia em um dos apartamentos.
Segundo testemunhas, a vítima foi alvejada após uma breve discussão e não teria reagido. A síndica do condomínio também relatou que Guilherme não tentou desarmar o soldado, contrariando a primeira versão apresentada pelo militar.
Horas após o crime, Lucas foi liberado pela Polícia Civil, que entendeu que não havia elementos suficientes para lavrar um auto de prisão em flagrante. No entanto, com o avanço das investigações, a hipótese de legítima defesa foi descartada, e a prisão do soldado foi decretada. Desde então, ele permanece detido no presídio militar.
A Justiça aceitou a denúncia contra Lucas Torrezani em junho de 2023, e o soldado, juntamente com seu amigo Jordan Ribeiro de Oliveira, que também virou réu, responderá por homicídio qualificado.