A sexualidade é parte integrante da personalidade e as necessidades afetivo-sexuais mediam as relações que surgem ao longo de nossas vidas, seja entre pessoas com deficiência ou não
O Dia dos Namorados está chegando e, mesmo com o preconceito que ainda enfrentam, pessoas com deficiência namoram e fazem questão de comemorar a data. As dificuldades de cada um são superadas pela afinidade, carinho e companheirismo que sustentam as histórias de amor.
Ao longo de nossa existência, mitos e lendas foram criados em torno do namoro de pessoas com deficiência intelectual. Não faltaram rótulos de assexuadas, inférteis ou mesmo incapazes de controlar seus impulsos sexuais; arquétipos que precisam ser derrubados! A sexualidade é parte integrante da personalidade e as necessidades afetivo-sexuais mediam as relações que surgem ao longo de nossas vidas, seja entre pessoas com deficiência ou não.
Especialista em inclusão social, o Defensor Público Federal André Naves lembra que a Lei Brasileira de Inclusão, em seu artigo 6º, assegura que a deficiência, de qualquer tipo, não prejudica a capacidade civil da pessoa para se casar ou constituir união estável; bem como o direito de exercer direitos sexuais e reprodutivos; ter acesso a informações sobre reprodução e planejamento familiar; conservar a fertilidade – sendo vedada a esterilização compulsória -; e exercer direito à família e à convivência familiar e comunitária.
“Nossa sociedade, apesar de ainda não estar preparada para aceitar uma relação que envolva um deficiente e outra pessoa com ou sem qualquer tipo de limitação, muito tem avançado neste sentido. Sabemos que os deficientes enfrentam dificuldades até na hora da aceitação da própria família, quando anunciam um relacionamento amoroso. É fundamental o diálogo entre os casais e suas famílias e/ou amigos no momento de iniciar um namoro. Todos precisam entender que, apesar das dificuldades do dia a dia que certamente vão surgir, o amor e companheirismo sempre ajudarão a superar os obstáculos”, afirma Naves.
Repositora em uma loja de brinquedos, Eliana Ritvo, de 58 anos, conheceu o motorista Leonel Becker, de 60, quando ambos estudavam no Colégio Hebraico Brasileiro Renascença, na capital paulista. Na época, ela era casada e eles ficaram muito amigos. Após a separação de Eliana, os dois voltaram a se aproximar. Foi quando Leonel a convidou para participar das atividades no Grupo Chaverim, que promove a socialização de pessoas com deficiência intelectual e psicossocial.
“Nosso relacionamento é muito bom porque conversamos bastante. Moramos na casa da minha mãe e a vida é sempre uma luta diária, principalmente com a pandemia”, diz a repositora, casada com o motorista há oito anos.
A assistente social Ester Tarandach afirma que é preciso tratar os PcDs como pessoas que precisam ter própria autonomia, independentemente de suas deficiências. “Quando falamos de PcDs, temos de saber que eles precisam ter oportunidades, vivências, para que tenham condições de assumir e ter responsabilidade pelas próprias ações, seja na relação com amigos, na escola, no trabalho ou nas relações amorosas”, diz.
Tarandach considera necessário ampliar o conceito de acessibilidade. “A sociedade não tem de ser acessível somente no que se refere a deslocamentos de PcDs pela cidade, mas criar condições para que todos tenham uma vida social. Precisamos trabalhar dentro de nós os preconceitos e olhar a todos com respeito e afeto, em um mundo onde todos vivemos juntos”, pontua a assistente social.
Para os PcDs que ainda estão sozinhos e querem conhecer alguém neste Dia dos Namorados, já existem aplicativos desenvolvidos especialmente para esta finalidade, como o aplicativo Devotee, uma espécie de Tinder para pessoas com deficiência; além de outros plicativos de relacionamentos que já desenvolveram uma seção específica para PcDs. “O importante é que rapazes e moças, de qualquer idade, se permitam amar e ser amados. Preconceitos sempre existiram. Dia dos Namorados é para ser comemorado por todos”, conclui Naves.