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Midiático, Bayern abre a Bundesliga mais badalada dos últimos tempos

09 ago 2013 - 19:00

Redação Em Dia ES

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Torneio completa 50 anos como referência de organização em todo o planeta bola.

O dono da Tríplice Coroa e o último responsável por consegui-la em outro clube agora trabalham juntos. Mais midiático do que nunca, o Bayern de Munique deu à Bundesliga um elegante e imponente presente em seu 50º aniversário: Pep Guardiola. Multicampeão pelo Barcelona – em 2009, ganhou seis títulos -, o espanhol representa a versão mais badalada dos últimos tempos do Campeonato Alemão, que terá o seu pontapé inicial nesta sexta-feira, às 15h30m (de Brasília). Os bávaros receberão o Borussia Mönchengladbach na Allianz Arena em jogo com transmissão em Tempo Real do GLOBOESPORTE.COM.

Esqueça, ao menos por um instante, os três títulos mundiais da seleção alemã. Mesmo sem conquistar uma Copa desde 1990, tampouco sem ter a garantia de que o fará no ano que vem, no Brasil, o país passa pelo seu auge dentro do futebol. Os estádios estão lotados em sua totalidade, produzindo tardes inesquecíveis para quem as vivencia com intensidade. Os clubes, por consequência, abastados e ainda mais turbinados pelo recente contrato dos direitos de TV, proporcionando equipes de alto nível e grandes jogadores – sejam eles locais, em sua maioria, ou estrangeiros.

A última decisão da Liga dos Campeões da Europa, disputada entre Bayern e Borussia Dortmund, não nos deixa mentir. Tampouco a Alemanha de Joachim Löw, apontada como uma das gigantes do momento justamente pela fase excelente de dois de seus representantes – e seus atletas mais renomados. Tudo parece conspirar a favor da terra de Angela Merkel. Mas é óbvio que nada deste espetáculo surgiu do acaso.

Copa em casa como propulsor

Se houve algum responsável, porém, esta é a Copa do Mundo de 2006. A decisão de confiar à Alemanha o torneio foi inicialmente contestada, mas o país mostrou que organização definitivamente não era artigo de luxo. Estádios foram construídos ou reformados – muitos com iniciativa privada, diga-se -, cidades passaram a usufruir de melhor infraestrutura e o povo abraçou a causa.

– A Copa do Mundo fez um bem danado à Alemanha. Novos estádios foram construídos, basta ver a qualidade das nossas arenas. Vivi quatro anos na Inglaterra, e se você compara os estádios dos dois países ficará muito feliz. Os estacionamentos, camarotes vips, as praças de alimentação, um show no intervalo. Muita coisa oferecida além do futebol propriamente dito. Fizemos um grande progresso – avaliou o ex-meia Michael Ballack, estrela daquela companhia.

Raciocínio semelhante tem Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo. Ele inclui ainda outra variável no processo de catalisação do futebol alemão: o turismo.

– O primeiro grande fator foi estrutural, que já sabemos. O futebol ganhou um novo status e poucos gastos foram públicos. Depois vem a questão social, tudo revertido para os clubes após a Copa. Os chamados “season tickets” (ingressos para toda a temporada) bateram recordes no ano seguinte, a compra de camarotes, áreas VIPs… Há um impacto econômico por conta desse sentimento de patriotismo. Por último, o turismo. A Alemanha se abriu para o mundo como nunca. Os clubes expandiram suas marcas, a globalização gerou ainda mais recursos. Dortmund, cidade antes pouco atrativa, agora tem um time que é notícia. Berlim é uma das cidades mais visitadas na Europa.

Em campo, a Alemanha surpreendeu aquele mar de negativismo ao subir no pódio, em terceiro, e resgatar o orgulho combalido por campanhas pífias nas duas últimas Eurocopas – a Copa de 2002 apresentou-se como rara exceção neste período. Era preciso mudar. Já estava em curso, desde 2000, uma medida radical imposta pela DFB (Federação Alemã). O executivo-chefe da Bundesliga, Christian Seifert, explica:

– Em 1990 a seleção ganhou a Copa do Mundo, e seis anos depois conquistou a Euro. Durante essa época, Franz Beckenbauer disse que ninguém poderia nos vencer em anos e, como o que Franz diz vira regra na Alemanha, todos acreditaram. Apesar disso, a realidade era que a nossa qualidade de futebol diminuiu e nossos ensinos técnicos e táticos já não estavam entre os melhores. Foi quando o presidente da DFB oficializou um conceito que mudou tudo – introduziu.

– Quando falamos de conceitos educacionais estamos falando de regras. E todo mundo as segue, pois na Alemanha nós amamos regras. Cada clube da primeira ou segunda divisão (os 36) deveriam ter seus centros de desenvolvimento da base. Cinco mil jovens são educados nesses clubes hoje e temos regras claras para cada um: o número de campos, o número de técnicos, a qualidade deles, a quantidade de médicos e como todos eles deveriam trabalhar em conjunto com as escolas.

50+1?

Estas não são as únicas regras. Como instituição, cada equipe deve ter mais de “50% mais um” de suas ações com os sócios. Desta forma, há um modelo evidente de gestão que inibe a entrada de magnatas investidores para lavarem dinheiro – empresas, porém, assumiram o risco e realizaram importantes trabalhos com Leverkusen (Bayer), Wolfsburg (Volkswagen) e Hoffenheim (SAP). Este controle rigoroso faz da Bundesliga um dos torneios mais rentáveis, à frente do Italiano, do Espanhol, Francês e atrás apenas do Inglês (Premier League).

– É a segunda mais rica, mas do ponto de vista econômico ainda tem muito a crescer. A Bundesliga tem característas coletivas, enquanto o Italiano enfraqueceu e o Espanhol depende de dois times (Real Madrid e Barcelona). A vantagem está em termos de gestão: dá de 10 a 0 em cada uma. Compromisso dos clubes com os impostos, permite a participação de empresas, que impõem a obrigação da profissionalização. Não há espaço para gestões de clubes pequenos – opinou Amir Somoggi.

– Eu diria que é certamente a liga financeiramente mais viável do mundo e para mim isso vai além de ter as estrelas da Premier League. Em termos de comercialização ainda há o que se fazer, mas é um campeonato em expansão que está melhorando a cada temporada. A qualidade do futebol também tem aumentado muito e estamos finalmente vendo os clubes alemães irem bem nas competições europeias, o que é um derradeiro teste para a qualidade das ligas – afirmou Cristian Nyari, editor do site “Bundesliga Fanatic”.

Já há a certeza de boas notícias no aspecto financeiro. Recentemente, os alemães aperfeiçoaram o acordo para a transmissão de suas partidas de € 385 milhões para € 628 milhões no triênio 13/14, 14/15 e 15/16, um aumento de 63%. No ranking  com os outros torneios, a Bundesliga subiu de quinto para terceiro, atrás do Italiano e do Inglês.

Nenhum dos dois, porém, apresenta uma divisão tão justa para os pequenos como o Alemão. O cálculo é complexo, mas é baseado nas colocações dos três últimos campeonatos. Cada posição vale uma pontuação. Quem somar mais, obviamente, será o primeiro do ranking, caso específico do Bayern de Munique, que faturou € 25,835 milhões. A diferença entre as posições tende a ser próxima a € 760 mil euros, o que significa que o último colocado, o Greuther Fürth, recebeu exatamente a metade dos bávaros: € 12,92 milhões.

– Os direitos são muito melhores distribuídos na Alemanha do que na Espanha, já que Real e Barça monopolizam 50% do montante. Isso permite que os times menores invistam em suas divisões de base quando não podem concorrer com os grandes clubes para contratar jogadores – contou Cristian Nyari.

Sucesso absoluto entre torcedores

Público também é sinônimo de exemplo na Alemanha. Aliás, especialmente. Na temporada 2012/2013, a Bundesliga apresentou uma média de 42.612 torcedores por jogo, com níveis de ocupação de seus estádios altíssimos – desde os 81,15% do Nurnberg até os 100% do Bayern. Ou seja: todos os jogos dos campeões tiveram lotação máxima. Os melhores números só ficaram com o Borussia Dortmund por conta da maior capacidade do estádio: 82.482.

A comparação com o futebol brasileiro chega a ser desleal. O Mainz 05, que não disputou vagas em competições europeias nem brigou contra o rebaixamento (foi o 13º), por exemplo, teve média de 31.152 pessoas por partida. O líder do quesito no Brasileirão é o Corinthians, com 29.085.

– O que é importante para mim é que esses quase 45 mil torcedores de média são mistos. quando você vai a Munique para um jogo o ingresso mais barato beira os € 12. O que se vê em toda a pesquisa é que a Bundesliga é uma das últimas coisas na Alemanha que realmente atrai pessoas juntas, não importa a classe social. Rico ou pobre, jovem ou velho, se você gosta de futebol pode ter acesso a muitos clubes – incluindo Bayern, Borussia e Schalke, que limitam os seus ingressos de temporada em cerca de 50%. Isso permite que metade das entradas sejam vendidas para o público geral. Além de tudo, 25% do público são de mulheres – disse Christian Seifert, executivo-chefe da Bundesliga.

O desafio de Guardiola

Para a temporada 2013/2014, a expectativa é de que a média de público ao menos se mantenha – no caso do Bayern, é a única opção positiva. Mas essa não é nem de longe a maior preocupação dos bávaros. Campeões de tudo com Jupp Heynckes, a equipe iniciou a época com uma derrota para o Borussia Dortmund na Supercopa da Alemanha. Desconfianças sobre Pep Guardiola já se iniciaram, muito embora pouco tenha sido visto até a estreia desta sexta.

– É até engraçado o quanto de espetáculo fizeram sobre o novo técnico. A pré-temporada não foi nada além do comum. Não há motivo para exagerar e pensar que nós todos vamos mudar o mundo. Houve poucas alterações, mas esse é o caso quando se chega um novo treinador. Foi o mesmo quando Heynckes substituiu Van Gaal. No fim do dia, ainda estaremos jogando futebol – afirmou o holandês Arjen Robben, minimizando a pressão da mídia e torcida sobre Guardiola.

Além da Bundesliga, o Bayern ainda irá disputar a Supercopa Europeia, o Mundial de Clubes, a Copa da Alemanha e a Liga dos Campeões. Como apostou em um homem de currículo vasto e num elenco ainda mais estelar – reforçado por Thiago Alcântara, ex-Barcelona, e Mario Götze, ex-Borussia Dortmund -, não conquistar alguns destes títulos pode significar um fracasso.

Candidato máximo a tirar o Bayern do topo, o Borussia Dortmund manteve o seu fiel e irreverente treinador: Jürgen Klopp. A saída de Götze, tão dramatizada na reta final da Liga dos Campeões, não deverá ser tão sentida após as contratações do armênio Henrikh Mkhitaryan, ex-Shakhtar Donetsk, e do gabonês Pierre-Emerick Aubameyang, ex-Saint-Étienne. Ainda assim, será difícil encontrar quem aposte suas fichas inteiras nos aurinegros para superarem o todo-poderoso Bayern.

– O Borussia não conseguirá perseguir o Bayern. Não se esqueça que na última temporada o Bayern ganhou o título com 25 pontos de diferença. O Borussia conta com 11 jogadores excepcionais em seu elenco, o Bayern chega perto dos 22. E eles farão a diferença, a não ser que Guardiola tenha problemas com o grupo – finalizou Hartwig Hasselbruch, da revista “Kicker”.

Fonte: Globoesportre.com

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Atualizado: 09/08/2013 19:00

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