A publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta nesta terça-feira (24), quatro dias após cair de um penhasco durante uma trilha no Monte Rinjani, na Ilha de Lombok, na Indonésia. A confirmação foi feita pela família da jovem, natural de Niterói (RJ), que vinha atualizando o caso por meio de redes sociais. A complexa operação de resgate enfrentou um terreno íngreme e condições climáticas desfavoráveis.
A morte foi comunicada pela família no final da manhã desta terça-feira. “Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido”, diz a nota divulgada.
Na segunda-feira (23), um drone operado pela equipe de socorristas havia localizado a jovem imóvel, a uma profundidade de aproximadamente 500 metros do ponto de queda. No entanto, na retomada dos trabalhos nesta terça, as equipes a encontraram já sem vida a cerca de 650 metros da trilha. Para alcançar o local, os socorristas montaram um acampamento avançado e precisaram descer o equivalente à altura do Corcovado por uma encosta íngreme.
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O acidente e as versões conflitantes
O acidente ocorreu na madrugada de sábado (21), horário local (tarde de sexta-feira, 20, no Brasil). Juliana participava de uma trilha com outros seis turistas e dois guias no parque nacional que abriga o Monte Rinjani, um vulcão ativo de 3.721 metros de altitude.
A família da brasileira afirma que ela foi abandonada pelo guia por mais de uma hora antes do acidente. “A gente descobriu isso em contato com pessoas que trabalham no parque. Juliana estava nesse grupo, porém ficou muito cansada e pediu para parar um pouco. Eles seguiram em frente, e o guia não ficou com ela”, relatou a irmã da vítima, Mariana. “O guia seguiu com o grupo até o cume que eles iam alcançar, e Juliana ficou sozinha por mais de uma hora.”
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Segundo o relato da irmã, Juliana teria entrado em desespero por estar sozinha. “Ela não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Quando o guia voltou, porque viu que ela estava demorando muito, ele viu que ela tinha caído lá embaixo”, completou.
O guia Ali Musthofa, de 20 anos, apresentou uma versão diferente dos fatos. Ele confirmou ter aconselhado a niteroiense a descansar, mas afirmou que o combinado era esperá-la um pouco mais à frente e que se afastou por apenas “3 minutos”. Ao estranhar a demora, ele diz ter retornado para procurá-la. “Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, declarou o guia.
Desafios do resgate e críticas à gestão do parque
Especialistas apontaram uma série de fatores que dificultaram a operação de resgate. Ion David, especialista em segurança de trilhas, destacou a complexidade do terreno. “Não é um lugar que a gente chega caminhando. Neste caso, a equipe precisa usar cordas e técnicas verticais para acessar o local”, explicou. Ele também citou o clima como um agravante: “Lá tem muita neblina. E não dá para visualizar nada. Geralmente, no fim de tarde baixa a neblina e é necessário parar o resgate.”
A possibilidade de usar um drone para levar suprimentos à vítima foi considerada, mas, segundo David, seria necessário um equipamento específico para transportar peso, que as equipes de resgate nem sempre possuem.
O geólogo Marcelo Gramani, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), criticou a gestão do parque, classificando a situação como “amadorismo”. Para ele, o risco de acidentes na trilha é previsível. “Não dá para dizer que é uma surpresa. E a partir do momento em que você tem um atrativo para turistas, em uma trilha, o responsável precisa ter um planejamento”, afirmou. Gramani considerou que a demora para efetuar o resgate foi excessiva. “Por mais que o acesso seja difícil, o responsável pelo parque precisa apresentar alternativas de resgate. Já passou tempo demais para deixar alguém isolado”, concluiu.
Mochilão pela Ásia
Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e praticante de pole dance, Juliana Marins estava realizando um mochilão pela Ásia desde fevereiro. Antes de chegar à Indonésia, já havia passado por Filipinas, Vietnã e Tailândia.
Enquanto as buscas ocorriam, o pai da jovem, Manoel Marins, embarcou para Bali para acompanhar a operação. Ele relatou ter enfrentado dificuldades durante a viagem em Lisboa, Portugal, devido ao fechamento do aeroporto de Doha, no Catar, por onde seu voo faria conexão.