O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal foi de 4.314,76 km² entre agosto de 2023 e julho de 2024 (o equivalente ao tamanho de Cuiabá), de acordo com números oficiais do governo federal divulgados nesta quarta-feira (7) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Quando comparado ao último levantamento do Inpe, houve uma queda de 45,7% do total da área desmatada entre as duas temporadas – a maior queda proporcional já registrada para o período. Na edição anterior, esse número foi de 7.952 km², entre agosto de 2022 e julho de 2023.
Os números são do relatório anual do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que mostra os alertas mensais – e que já sinalizava quedas na devastação nos últimos meses no bioma.
Com essa redução, a taxa divulgada este ano é a menor de toda a série histórica do bioma, que começou em 2015.
Em julho, porém, foram registrados 666 km² de alertas de desmatamento na Amazônia, um aumento de 33% em comparação com o mesmo mês de 2023 (500 km²), após uma redução de 55% em relação a julho de 2022 (1.487 km²), último ano do governo Jair Bolsonaro (PL).
Recorde no Cerrado
No Cerrado, que vem registrando altas taxas de desmatamento desde o ano passado, os novos números do Inpe pintam um panorama completamente diferente.
O bioma registrou um recorde de desmate nessa última temporada: 7.015 km² de alertas de desmatamento, um aumento de 9%.
Na edição anterior, esse número foi de 6.341 km², entre agosto de 2022 e julho de 2023. A série histórica do Inpe para o Cerrado começou em 2017.
Segundo especialistas, o aumento do desmatamento no segundo maior bioma da América do Sul é causado por vários fatores. Áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) lideram os alertas, por exemplo, mostrando que proprietários registrados também desmatam. A falta de reconhecimento das terras de povos tradicionais, com apenas 8% do bioma protegido, também agrava a situação.
“O Cerrado é atualmente a principal fronteira agrícola para a produção de commodities. A gente vê no bioma o avanço do cultivo de soja acompanhado pelo desmatamento, especialmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, explica Bianca Nakamato, especialista de Conservação do WWF-Brasil.
“Esse avanço traz consigo diversas ameaças, incluindo violações de direitos humanos e a perda de biodiversidade. Com a chegada da época seca, a propensão a incêndios aumenta significativamente. Apenas em julho, mais da metade das queimadas ocorreram na fronteira agrícola, particularmente no Maranhão e em Tocantins”, acrescenta.
Além disso, meses após o anúncio da sua retomada, o governo federal ainda não concluiu seu plano de ação específico para o bioma (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado), ao contrário da Amazônia.
Com isso, em 2023, o Cerrado foi responsável por 61% do desmatamento no país, enquanto a Amazônia respondeu por 25%.
No Cerrado, 1.110.326 hectares foram desmatados em 2023, um aumento de 68% em relação a 2022, de acordo com dados do Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2023) do MapBiomas.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, avalia que o governo foi eficaz no combate ao crime, mas falhou em controlar o desmatamento no Cerrado.
Ele atribui essa situação em parte às autorizações de desmatamento concedidas pelos governadores da região, que, segundo ele, agem contra a preservação ambiental e aumentam os números de desmatamento.
“Existem pessoas que desejam prejudicar a imagem do país e apoiar o desmatamento. Esses agentes, que contribuem para o aumento do desmatamento e destruição, estão presentes no governo, no Congresso e até em parte do Supremo Tribunal. Portanto, é uma tarefa árdua para os setores que trabalham para reduzir esses números manter os índices atuais ou diminuí-los ainda mais”, argumenta.
Ainda segundo os novos dados do Inpe, entre os quatro estados da Matopiba, apenas a Bahia apresentou uma redução no desmatamento de agosto de 2023 a julho de 2024, com uma queda de 52,4%. Em contraste, houve aumentos de 58,6% no Tocantins, 31% no Maranhão e 14,7% no Piauí.
Os dados do Deter indicam uma reversão no crescimento das áreas sob alerta de desmatamento nos últimos quatro meses, comparados ao mesmo período do ano anterior. De abril a julho, houve uma diminuição de 24,8%. Em julho, foram registrados 444 km² de desmatamento, uma redução de 26,7%.