O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniu-se neste domingo (4) com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, em Los Angeles, durante viagem oficial para apresentar propostas brasileiras de investimento em centros de dados e tecnologias da informação. O encontro ocorre em meio à escalada da guerra tarifária iniciada pelo governo de Donald Trump, que impôs sobretaxas de 10% sobre produtos brasileiros e tarifas de 25% sobre aço e alumínio desde março.
Esta foi a primeira reunião presencial entre Haddad e Bessent desde a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro deste ano. O secretário do Tesouro nos Estados Unidos exerce função equivalente à de ministro da Fazenda no Brasil.
O compromisso não constava inicialmente na agenda oficial de Fernando Haddad. O ministro havia anunciado, na quarta-feira (30), a possibilidade de uma conversa com o secretário norte-americano, mas indicou, na ocasião, que a reunião ocorreria de forma virtual após seu retorno ao Brasil. “Recebi um retorno de que ele [Scott Bessent] tem interesse em iniciar o diálogo com o Brasil”, declarou Haddad na quarta-feira, pela manhã.
Na mesma data, o ministro afirmou que as tarifas adotadas pelo governo Trump contra produtos brasileiros deveriam ser abordadas em algum momento. Entretanto, ressaltou que as negociações comerciais estão sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. “Podemos até falar, mas aí quem conduz a negociação de tarifa nesse momento é o vice-presidente [Geraldo Alckmin]. A parte comercial está sendo conduzida pelo Mdic”, disse Haddad. “Mas temos muitos assuntos a tratar com o secretário do Tesouro, da agenda da Fazenda”, concluiu.
A viagem aos Estados Unidos começou no sábado (3), quando o ministro desembarcou em Los Angeles com o objetivo de apresentar o novo plano do governo brasileiro para atrair investimentos em data centers e inteligência artificial. Segundo o Ministério da Fazenda, Haddad destaca nessas conversas a matriz energética limpa do país como diferencial competitivo e busca apoio para um projeto de desoneração de investimentos em bens de capital vinculados à tecnologia da informação, proposta ainda em elaboração e que será enviada ao Congresso Nacional.
Durante a estadia na Califórnia, o ministro também se reúne com representantes de grandes empresas do setor de tecnologia. Na segunda-feira (5), haverá encontro com a diretora-financeira do Google, Ruth Porat, em Los Angeles. Depois, o ministro seguirá para San José, próximo a São Francisco, onde terá reunião com Jensen Huang, presidente-executivo da Nvidia.
Na terça-feira (6), está previsto um café da manhã com empresários e investidores brasileiros e estrangeiros, organizado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). No mesmo dia, Haddad terá uma reunião bilateral com executivos da Amazon.
Na noite de terça, o ministro parte para o México, onde encerra a agenda internacional na quarta-feira (7), com um café da manhã com brasileiros que trabalham em multinacionais. Na sequência, terá uma reunião com o secretário do Tesouro e Crédito Público mexicano, Edgar Zamorra. De acordo com o Ministério da Fazenda, a pauta no México será centrada no aprofundamento das relações bilaterais.
Coordenador de Sanções dos EUA visita o Brasil
Paralelamente à visita de Haddad aos Estados Unidos, o coordenador de Sanções do governo Trump, David Gamble, desembarca no Brasil nesta segunda-feira (5). Segundo a Embaixada dos Estados Unidos, ele lidera uma delegação do Departamento de Estado que fará reuniões com autoridades brasileiras. “Ele participará de uma série de reuniões bilaterais sobre organizações criminosas transnacionais e discutirá os programas de sanções dos EUA voltados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas”, informou a representação diplomática em nota.
De acordo com a CNN, Gamble terá encontros com parlamentares de direita, membros do Itamaraty e do Ministério da Justiça. A visita tem entre seus objetivos avaliar, do ponto de vista do governo norte-americano, a conduta de autoridades brasileiras como o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República Paulo Gonet, com base em questionamentos sobre a liberdade de expressão no país. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro informou que uma visita ao ex-presidente Jair Bolsonaro também está na programação.
Ainda segundo a CNN, o coordenador de Sanções do governo norte-americano deve se encontrar com representantes do MDB. A visita ocorre em um contexto de articulações do trumpismo e do bolsonarismo para acionar mecanismos legais dos Estados Unidos contra autoridades brasileiras.
Três frentes vêm sendo discutidas: a Lei Magnitsky, que autoriza sanções contra violadores de direitos humanos em qualquer parte do mundo; a “No Censors on our Shores Act”, que permite impedir a entrada de autoridades estrangeiras acusadas de cercear a liberdade de expressão; e a Foreign Corrupt Practices Act, que trata de atos de corrupção praticados no exterior com impacto em interesses dos Estados Unidos.