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Escritório do caso de Mariana acumula dívida bilionária e pode fechar, diz jornal inglês

17 abr 2025 - 12:00

Redação Em Dia ES

por Julieverson Figueredo

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Pogust Goodhead, que representa 620 mil vítimas da tragédia de 2015, tem dívida de curto prazo de R$ 3,8 bilhões e enfrenta incertezas sobre continuidade das operações. Em nota, escritório nega
Escritório do caso de Mariana acumula dívida bilionária e pode fechar. Foto: Christophe Simon/AFP

O escritório de advocacia britânico Pogust Goodhead, responsável por representar cerca de 620 mil vítimas da tragédia de Mariana (MG) na ação movida contra a mineradora BHP em Londres, acumula dívidas de curto prazo superiores a 500 milhões de libras esterlinas — cerca de R$ 3,8 bilhões, na cotação atual. Os dados constam no balanço financeiro referente a 2022, divulgado na última terça-feira (15), com 18 meses de atraso, segundo revelou o jornal britânico Law Gazette.

A publicação das contas foi acompanhada por uma auditoria independente conduzida por Geoff Wightwick, da empresa MHA. O parecer afirma que existe “incerteza material” sobre a capacidade do Pogust Goodhead de continuar operando, devido à necessidade de financiamento adicional para cumprir suas obrigações. A auditoria destacou que o total de dívidas com vencimento em um ano era de 522 milhões de libras, enquanto os ativos da firma somavam apenas 7,5 milhões de libras.

Ainda segundo o balanço, o escritório teve faturamento recorde de 53 milhões de libras em 2022, impulsionado principalmente por um acordo extrajudicial em um processo contra a Volkswagen por danos ambientais. Apesar da receita, o resultado financeiro do período registrou um prejuízo operacional de 51 milhões de libras.

Outro ponto destacado na análise foi a remuneração do diretor da empresa, Tom Goodhead. O documento mostra que ele recebeu adiantamento de 4,24 milhões de libras, grande parte do qual não havia sido paga até o fim do exercício fiscal. O valor não era garantido, não tinha incidência de juros e era pagável à vista. Posteriormente, após o encerramento do período contábil, a dívida foi perdoada.

Em nota enviada à imprensa (na íntegra ao final da matéria), o escritório afirmou que seu modelo de operação é baseado em um portfólio de ações judiciais de longo prazo, e não em ciclos financeiros tradicionais.

“O escritório continua bem financiado, com forte apoio de investidores e um valioso conjunto de processos que impulsionam retornos de longo prazo”, declarou o Pogust Goodhead. A empresa acrescentou que o balanço de 2022 “não altera o andamento e a boa condução dos nossos processos, incluindo o caso Mariana”.

Veredito pode estar próximo
A ação coletiva contra a BHP Billiton no Reino Unido, liderada pelo Pogust Goodhead, busca compensações pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco — joint-venture entre a Vale e a BHP —, ocorrido em 2015 em Mariana, Minas Gerais. O desastre deixou 19 mortos e provocou a contaminação do Rio Doce. A ação inclui, além das vítimas individuais, municípios e empresas afetadas. Apenas para os municípios, o escritório pede R$ 52 bilhões em indenizações.

A fase inicial do julgamento, que incluiu depoimentos de especialistas, foi encerrada em março de 2025. A Corte de Londres agendou para os dias 2 e 3 de julho a audiência da segunda fase do processo. O veredito da ação é esperado até o fim do ano. Caso a mineradora seja considerada responsável, o processo entrará em nova etapa para quantificar os danos e os valores a serem pagos, com decisão prevista até 2028, segundo o diretor Tom Goodhead.

Em entrevista concedida ao jornal O Globo em fevereiro, Tom Goodhead declarou que os custos da ação são elevados, o que obrigou o escritório a realizar cortes financeiros no final de 2023. “Tivemos que fazer cortes no final do ano passado, porque esse caso nos levaria à falência. É muito caro. Custa 2 milhões de libras por mês só com os advogados do caso Mariana. Tive que tomar decisões para manter esse processo por anos”, disse o advogado.

Segundo ele, as indenizações esperadas podem chegar a 36 bilhões de libras — aproximadamente R$ 279,5 bilhões. No entanto, o valor final dependerá de eventual condenação da mineradora e de acordos posteriores. O Pogust Goodhead estabeleceu honorários variáveis, que podem chegar a até 30% do valor obtido por algumas das vítimas. O balanço financeiro de 2023 ainda não foi divulgado.

Confira a nota do Pogust Goodhead na integra:
“O modelo de atuação do escritório Pogust Goodhead é construído com base na força de nosso portfólio de ações, e não em ciclos financeiros tradicionais. O escritório continua bem financiado, com forte apoio de investidores e um valioso conjunto de processos que impulsionam retornos de longo prazo.

Diferentemente dos escritórios de advocacia tradicionais, nosso modelo financeiro reflete o valor de nossos processos e não a lucratividade de curto prazo. Temos financiamento sólido e um portfólio apoiado por ativos que garantem uma posição segura para receitas futuras.

O balanço das contas de 2022 não altera o andamento e a boa condução dos nossos processos, incluindo o caso Mariana. O Pogust Goodhead continua em uma posição forte para fazer justiça para mais de um milhão de clientes contra algumas das maiores empresas do mundo. Com processos emblemáticos como os casos contra a BHP e montadoras de carros atingindo estágios avançados, 2025 deverá ser o ano mais significativo até hoje para nossa empresa.”

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Atualizado: 17/04/2025 12:16

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