O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Leonardo Damasceno, afirmou nesta terça-feira (28) que as forças de segurança capixabas estão prontas para agir caso criminosos do Rio de Janeiro tentem fugir para o estado. A declaração ocorre em resposta à megaoperação policial realizada nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Segundo Damasceno, a ação no estado vizinho era um “pleito antigo” de outras unidades da federação, já que o Rio concentra criminosos de diversas localidades do Brasil.
Damasceno avaliou como “pouco provável” a fuga de traficantes do Rio para o Espírito Santo, ou o retorno de criminosos capixabas que estão foragidos nos complexos cariocas. Ele destacou que o fluxo comum é o inverso, com traficantes capixabas buscando esconderijo no Rio.
“Observamos que grandes lideranças do tráfico no Espírito Santo fugiram para o Rio de Janeiro, mas caso aconteça o fluxo contrário, se vierem para o Estado, estamos prontos para capturá-los”, disse o secretário. “Nós monitoramos de perto essas facções criminosas e seguimos acompanhando, caso haja fuga de algum deles para cá, estaremos prontos para uma reação”.
Ele observou que criminosos do ES sabem que “as chances de serem presos ao retornarem são elevadas” e que vindas de traficantes do Rio “são casos esporádicos e de pouca relevância”. Ele citou como exemplo a prisão de uma liderança do tráfico de Angra dos Reis, conhecida como “senhor da guerra”, detida em Guarapari no primeiro semestre deste ano.
“Hotel de luxo para criminosos”
Segundo o secretário, a operação no Rio de Janeiro ajuda a impedir que traficantes do Espírito Santo continuem a comandar o tráfico à distância.
“Já realizamos várias incursões no Rio de Janeiro, inclusive da PM, que foi lá para capturar indivíduos. Essa operação pode ter consequências a médio prazo, mas é uma resposta que precisávamos para que bandidos daqui não continuem comandando o tráfico à distância, vivendo no Rio de Janeiro”, afirmou Damasceno. “Este era um pleito de vários estados, porque o Rio se tornou um hotel de luxo para criminosos”.
Durante a operação no Complexo do Alemão, um traficante capixaba foi morto. Alisson Lemos Rocha, de 27 anos, conhecido como “Russo” ou “Gordinho do Valão”, era suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas na Serra e estava foragido. Damasceno informou que as informações sobre a morte ainda são “superficiais”, mas que o indivíduo “já era acompanhado por nós”.
Uso de drones e diferenças entre estados
Sobre o uso de drones por criminosos para lançar granadas contra policiais no Rio, Damasceno afirmou que, embora o uso específico de drones não tenha sido registrado no ES, a apreensão de explosivos e armas modernas é frequente.
“Assusta, mas é o novo normal do Brasil. Esses criminosos têm poderio econômico muito grande”, disse. Segundo ele, em 2023, foram apreendidas mais armas modernas do que antigas no estado, além de explosivos e coletes. Ele informou que, por isso, foram adquiridos 350 novos fuzis e 2.500 pistolas para a Polícia Militar este ano, e que a Polícia Civil receberá novos armamentos no próximo ano.
Damasceno também pontuou diferenças entre os cenários dos dois estados, destacando que as comunidades no Rio são muito maiores, o que dificulta a progressão policial. Ele afirmou que no ES “não há domínio das áreas pelo tráfico” e que a integração das forças pelo programa Estado Presente é um diferencial.
Operação no Rio é a mais letal da história
A “Operação Contenção”, realizada na terça-feira (28) pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, mobilizou 2,5 mil agentes. A ação visava cumprir mandados de prisão e conter a expansão territorial da facção Comando Vermelho, sendo resultado de mais de um ano de investigação.
Um balanço final indicou a prisão de 81 criminosos, incluindo uma liderança conhecida como “Belão”, e a apreensão de 93 fuzis, pistolas, granadas e mais de 500 quilos de entorpecentes.
A operação resultou em 64 mortes confirmadas, sendo 60 criminosos e quatro policiais (dois civis e dois militares do Bope). À noite, seis corpos de moradores foram levados ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, após serem localizados em uma área de mata no Alemão. Se for confirmado que essas mortes ocorreram durante o confronto, o número total de mortos na operação subirá para 66, tornando-a a mais letal da história do Rio, superando a operação no Jacarezinho em 2021, que resultou em 28 mortes.
Caos e normalização
Em retaliação à operação, criminosos interditaram 35 ruas em diversos pontos do Rio na terça-feira, usando veículos (71 ônibus foram usados como barricadas), lixo e materiais em chamas, causando um “cenário de guerra”. A cidade entrou em estágio 2 às 13h48.
Moradores relataram momentos de pânico. “Entrei na estação de volta por baixo da roleta para me esconder dos tiros”, contou a professora Marise Flor, que ficou no meio de um tiroteio.
Na manhã desta quarta-feira (29), o Centro de Operações e Resiliência (COR) da prefeitura anunciou que a cidade retornou ao estágio 1 (normalidade) às 6h. Todas as vias bloqueadas foram liberadas durante a madrugada e os transportes públicos (ônibus, VLT, BRT, metrô, trens e barcas) operavam normalmente.
Reação federal e no Congresso
O governador do Rio, Cláudio Castro, solicitou ao governo federal a transferência imediata de dez lideranças criminosas para presídios federais de segurança máxima. O pedido foi atendido pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. Segundo o governo do RJ, esses detentos teriam ordenado as ações de caos na cidade.
Os ministros Rui Costa e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) farão uma reunião de emergência com Cláudio Castro “nesta quarta-feira (30)”. O governo federal informou, em nota, que “não houve qualquer consulta ou pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação”.
Em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), classificou os eventos no Rio como “muito graves”. “São as facções criminosas usando drones para atacar a polícia, demonstrando que estão muito organizadas”, disse. Ele afirmou que a Câmara aguarda a chegada de um “Projeto de Lei Antifacção” do Poder Executivo, anunciado pelo ministro Lewandowski.


















