Como já mostrou o Em Dia ES, neste domingo (29), a Diocese de Colatina abriu oficialmente o Ano Jubilar 2025 em comunhão com a Igreja Católica mundial, reunindo milhares de peregrinos na matriz Imaculado Coração de Maria, em São Silvano.
Em entrevista ao Em Dia ES, o bispo diocesano, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, detalhou os eixos principais do jubileu, destacando o papel transformador da fé, a importância da justiça social e a necessidade de cuidado integral com a criação.
A fé como responsabilidade social
Dom Lauro enfatizou que a fé cristã não deve ser vivida de maneira isolada ou intimista, mas como um compromisso com a coletividade e a transformação social. Ele explicou que o pecado tem dimensões pessoais e sociais, e que o jubileu é um chamado para reavaliar atitudes que promovem a exclusão ou o desrespeito à dignidade humana.
“Ninguém se salva sozinho, assim como ninguém se perde sozinho. A fé é comunitária e nos compromete com o próximo. Não basta rezar; precisamos viver uma fé que reconheça no outro a imagem e semelhança de Deus, alguém que deve ser cuidado e respeitado”, declarou o bispo.
A insensibilidade ao sofrimento alheio, segundo Dom Lauro, é uma falha que precisa ser combatida. Ele exemplificou: “Às vezes, uma pessoa de fé pode rezar e, ainda assim, ser insensível ao próximo. Que fé é essa? Precisamos despertar para uma vivência que transforme nossas relações e promova justiça.”
Reconciliação com os povos originários e grupos vulneráveis
A abertura do jubileu também trouxe reflexões sobre as injustiças históricas cometidas contra povos originários e negros. Dom Lauro relembrou o sofrimento desses grupos e a necessidade de reparação.
“As terras dos povos originários foram ocupadas sob pretextos injustos, como a falta de títulos de propriedade. Não havia cartórios, mas isso foi usado como desculpa para tomar suas terras. Hoje, precisamos reconhecer essas injustiças e promover uma verdadeira reconciliação, sem vingança, mas com compromisso pela justiça.”
Ele destacou a atuação da Diocese com os povos indígenas, especialmente por meio da pastoral indigenista. “Aqui temos indígenas cristãos, católicos, que participam ativamente. Desde que assumi a Diocese, retomamos essa pastoral, e ela tem dado frutos. Não se trata de algo superficial; é um compromisso genuíno com a dignidade dessas pessoas.”
O bispo também apontou o papel da comunidade negra na história da região, incluindo os quilombos como símbolos de resistência e testemunho das desigualdades enfrentadas. “Os quilombos são um lembrete da luta por dignidade. Precisamos despertar a consciência de que muitas vezes ocupamos espaços conquistados com sofrimento alheio e que a justiça deve ser nosso guia.”
Preservação ambiental como responsabilidade cristã
Outro eixo destacado foi o cuidado com o meio ambiente. Dom Lauro fez um apelo à responsabilidade coletiva com a criação, reforçando a necessidade de uma ecologia integral. Ele lembrou que o Rio Doce, que atravessa a região, é símbolo das riquezas naturais e das agressões sofridas pelo meio ambiente.
“Nós somos responsáveis pela criação de Deus, tanto agora quanto pelo futuro. Quando olho para os jovens e adolescentes que confirmo na fé, sinto vergonha do mundo que estamos deixando para eles. Eles merecem um futuro melhor, sem guerras, sem destruição ecológica. É nosso dever promover uma ecologia integral que respeite e preserve a criação.”
O bispo também destacou a relevância da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, no contexto do jubileu. “São dez anos dessa importante carta, e ela continua a nos guiar. A preservação ambiental não é apenas um tema social, mas também espiritual. Estamos falando de nossa relação com Deus e com as gerações futuras.”
A esperança como missão e compromisso batismal
Com o tema “Peregrinos de Esperança”, o jubileu é um chamado à transformação pessoal e comunitária, segundo Dom Lauro. Ele explicou que a esperança cristã é enraizada na fé e que o batismo confere aos fiéis a missão de testemunhar o Evangelho no mundo.
“A esperança cristã não é apenas um desejo de coisas boas ou pensamento positivo. É muito mais profunda, fundamentada na fé em um Deus que nos ama e nos envia em missão. Somos chamados a transformar a comunidade e o mundo, a comunicar a paz e o bem.”
Comunhão e compromisso para o futuro
Dom Lauro encerrou a entrevista com uma mensagem de unidade, lembrando que o Ano Jubilar é uma oportunidade para fortalecer os laços com a Igreja Universal e renovar o compromisso com a vivência do Evangelho.
“Estamos em perfeita comunhão com o Papa Francisco e com as dioceses do mundo inteiro que também abriram o jubileu hoje. Que este seja um ano santo, de conversão, reconciliação e compromisso com um mundo mais justo e fraterno. Que possamos viver nosso batismo com seriedade e transmitir a alegria do Evangelho a todos”, finalizou.