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Conceição Evaristo recebe título de Doutora Honoris Causa pela Ufes

16 abr 2025 - 10:30

Redação Em Dia ES

por Julieverson Figueredo

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Cerimônia, realizada nesta terça-feira (15), homenageou a escritora mineira, primeira mulher negra a receber a honraria na história da Universidade Federal do Espírito Santo
Ufes concede título de Doutora Honoris Causa à escritora Conceição Evaristo em cerimônia simbólica de reconhecimento à intelectualidade negra. Foto: Reprodução / Fora do Eixo

A escritora, professora e pesquisadora Conceição Evaristo recebeu, nesta terça-feira (15), o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A cerimônia solene aconteceu no Teatro Universitário, em Vitória, e marcou um momento histórico: pela primeira vez, uma mulher negra foi agraciada com a maior honraria acadêmica da instituição capixaba.

Conceição Evaristo, de 78 anos, é natural de Belo Horizonte (MG) e foi reconhecida pela Ufes por sua trajetória e contribuição à cultura e à educação no Brasil. A proposta do título foi apresentada por professores da universidade, militantes negros do Espírito Santo e pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab).

“Eu fico muito feliz pela honraria, mas ser a primeira também nos coloca uma certa responsabilidade. O interessante não é ser a primeira. O interessante é abrir perspectiva”, declarou a homenageada durante a cerimônia, que foi pública e gratuita. Em outro momento, Conceição afirmou que “a sociedade, tardiamente, começa a mudar”.

A sessão foi conduzida pelo reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, e contou com apresentações culturais que dialogam com a obra da autora, como a do Coral Serenata d’Favela, grupo conhecido por interpretar canções populares com influências afro-brasileiras. No hall do Teatro Universitário, o público também pôde visitar a exposição fotográfica E Eu, Mulher Preta?, dedicada à representação da força e da pluralidade da mulher negra brasileira.

A concessão do título é um gesto simbólico de reconhecimento da intelectualidade negra como potência cultural no país. A professora e pesquisadora Patrícia Rufino, integrante do Neab, destacou a relevância da homenagem. “Ela traz a memória, a narrativa e a identidade para os seus poemas. Uma senhora que viveu tantas gerações e conheceu tanto a desigualdade do nosso país. A outorga do título é um reconhecimento simbólico e político da sua contribuição inestimável”, disse.

Embora não possua vínculo formal com a Ufes, Conceição Evaristo é objeto de diversos estudos dentro da instituição. Seus escritos, marcados por uma fusão entre ficção, poesia e ensaio, são base para pesquisas sobre temas relacionados à raça, gênero e vivências periféricas. A autora é também referência por seu conceito de “escrevivência” — termo que une escrita e experiência de vida.

Entre suas obras mais conhecidas estão Ponciá Vicêncio, Insubmissas Lágrimas de Mulheres e Olhos D’água, este último vencedor do Prêmio Jabuti em 2015.

Para Rufino, o gesto da Ufes tem impacto que vai além do reconhecimento acadêmico. “Essa homenagem é uma inspiração para tantas mulheres com a mesma trajetória. Isso nos faz pensar o quanto a universidade é um espaço de luta e resistência, mas também de fortalecimento da identidade e de ressignificação de vidas. E que essas vidas precisam ser valorizadas”, afirmou.

A cerimônia desta terça-feira reforçou a importância da inclusão e da valorização da mulher negra e periférica no espaço universitário e consolidou um marco na história da Ufes ao reconhecer, institucionalmente, a contribuição de Conceição Evaristo para a sociedade brasileira.

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Atualizado: 16/04/2025 10:40

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