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Audiência pública sobre privatização do Maracanã é marcada por protestos

09 nov 2012 - 10:57

Redação Em Dia ES

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O encontro, no Galpão da Cidadania, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, foi marcado por manifestações de estudantes, pais de alunos, torcedores, índios, parlamentares e cidadãos comuns. O protesto foi pacífico, mas teve momentos de tensão, como quando um índio tentou atirar uma sacola com fezes sobre a mesa onde estavam os representantes do governo.

Durante uma hora e meia, mais de 500 manifestantes protestaram com gritos de “vergonha” e “Maraca é nosso” exigindo o cancelamento da audiência, já que, para eles, o que deveria ser debatido era a privatização em si, e não os moldes do edital, que deverá ser divulgado em definitivo pelo governo nos próximos dez dias. 

– É um absurdo. Esse processo deveria ter começado em 2010. Uma audiência pública é feita para ouvir a população sobre o equipamento público. Está claro que esse processo já está com as cartas marcadas. Somos radicalmente contra a privatização. O Maracanã é um espaço símbolo da cidade do Rio de Janeiro, e os torcedores são seus verdadeiros donos. Essa audiência pública não é legítima. Não reconhecemos essa audiência e exigimos que ela seja cancelada. Exigimos que seja convocada uma nova audiência para discutimos se a gestão continuará pública ou será privatizada. É isso que tem que estar em debate. É fundamental que esse tema seja debatido com antecedência. O governo do Estado está fazendo dessa audiência uma farsa, um grande teatro – disse Gustavo, arrancado aplausos dos manifestantes.

Membros do governo encontraram dificuldades para dar sequência à audiência, já que os manifestantes gritaram e vaiaram sem parar, impedindo que a audiência tivesse prosseguimento.

Pais, alunos e professores da Escola Municipal Friedenreich, que deve ser demolida, de acordo com o edital, também estavam presentes na mobilização. As crianças utilizaram nariz de palhaço para protestar contra a privatização. A Friedenreich é uma escola modelo e foi eleita recentemente uma das melhores da cidade.

Sacola com fezes é atirada em membros do governo

Indígenas também marcaram presença no protesto. Eles são contra a demolição do Museu do Índio, que, de acordo com o edital, dará espaço ao novo Museu do Futebol. No local também está prevista a construção de um centro de entretenimento, com lojas e praça de alimentação.

– O Museu do Índio é um território indígena na cidade do Rio de Janeiro. Lá já foi a casa de Darcy Ribeiro e é o local onde foi criado o Dia do Índio no Brasil . O governo não está pensando nos brasileiros, e sim, em empresários – disse o índio Asahninka, morador do Museu do Índio.

Um dos índios, porém, passou dos limites. Ele pegou uma sacola plástica com fezes e atirou sobre a mesa onde estavam os representantes do governo. A bolsa estourou e acertou um segurança e alguns manifestantes que estavam próximos do local.

Após 1h45m do início da audiência, os manifestantes deixaram o local revoltados, chutando cadeiras, e pedindo novamente pelo megafone o cancelamento do debate. A partir daí, os membros do governo começaram a dialogar com representantes da escola, dos índios e dos atletas, que tentavam mudar alguns itens do edital da licitação do Maracanã.

Um grupo de sócios do Flamengo tentou apresentar seus questionamentos sobre o processo de licitação, mas desistiu devido ao tumulto. Eles garantem que o clube não jogará no Maracanã nos atuais moldes do edital e procurará outro local para mandar seus jogos, caso o processo de privatização seja concluído no modelo apresentado pelo governo do Rio de Janeiro.

Mais de duas horas e quarenta minutos após o início da audiência, o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, defendeu o governo e todos os questionamentos feitos pela população.

– Não interrompi a audiência porque a derrotada seria a democracia. A audiência publica é a expressão da pura democracia. Cumprimos o mandamento, e não será uma minoria que não representa o povo brasileiro que irá atrapalhar isso. Em relação aos questionamentos feitos, esclareço que os investimentos previstos no complexo do Maracanã visam dar sustentabilidade ao estádio. Estamos fazendo o que ocorreu nos melhores estádios do mundo. Estamos oferecendo conforto aos torcedores. Não é possível manter o Maracanã da mesma forma que ele era como em 1950. As exigências do mundo são outras.

Sobre a escola Friedenreich, Régis Fichtner garantiu que os alunos só deixarão o local quando um novo colégio, localizado próximo ao atual, estiver concluído.

– O governo tem o maior orgulho dessa escola porque tem bons professores, alunos dedicados, uma boa diretora. Esse desempenho da escola não existe porque está dentro do Maracanã. Ela pode funcionar da mesma forma em um local próximo dali. Isso está sendo decidido em comum acordo com o prefeito Eduardo Paes e com a secretaria municipal de Educação. O local será próximo. A escola será muito mais confortável, terá mais facilidades, terá ginásio coberto. As crianças não deixarão a escola antes de a nova estar pronta para uso.

Após a audiência, Mario Miranda Neto, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), disse que a formalidade foi feita, mas sugeriu uma nova audiência conjunto com outros órgãos públicos do Rio de Janeiro.

– A formalidade da audiência pública foi feita, mas o diálogo não existiu. Acredito que o governo do Rio de Janeiro deveria ter a sensibilidade, depois de tudo o que vimos aqui, e fazer uma audiência pública conjunta, com outros órgãos da sociedade carioca. Isso me parece até politicamente importante para o governo.

O deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ) afirmou que a audiência pública não foi bem organizada pelo governo. Segundo ele, um novo passo será dado para que ocorra uma nova discussão entre os membros do governo e a população contra a privatização.

– Não aconteceu audiência. Isso aqui foi uma bagunça. O governo tentou esconder essa audiência e não se preparou para receber a população. Pelo menos, se uma audiência pública serve para ouvir o povo, a população deixou a sua mensagem aqui hoje. Vamos entrar com uma ação civil no ministério público pedindo uma nova sessão para que possamos realmente discutir com o povo essa privatização do Maracanã – afirmou o deputado.

No fim de outubro, durante a convocação para a audiência pública, o governo do Rio de Janeiro apresentou os moldes do edital. A concessionária que vencer irá administrar o complexo do Maracanã por 35 anos. Os clubes estão proibidos de participar da disputa. O investimento inicial previsto é de R$ 469 milhões. A empresa que assumir o complexo ainda terá que pagar cerca de R$ 7 milhões por ano ao governo. Durante a Copa das Confederações, Copa do Mundo e as Olimpíadas, o estádio será exclusivo dos organizadores dos eventos (Fifa e COI). Vale lembrar também que os valores da concessão não irão quitar os gastos com as obras de reforma do estádio, que ficaram em torno de R$ 850 milhões.

Fonte: Globoesporte.globo.com

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Atualizado: 09/11/2012 10:57

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