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Perto de sair, Patricia revela: ‘Não quero mais me candidatar a nada’

06 dez 2012 - 10:41

Redação Em Dia ES

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Patricia divide com o ex-camisa 10 a culpa da relação estremecida, mas sentiu o peso que é bater de frente com um ídolo do clube.

– As pessoas internamente e externamente mostraram que ele estava com a razão, eu que estava errada. Então, vai ver que eu estava errada.

Patricia afirma que talvez o futebol precise de uma coisa mais bandida. Isso, diz ela, não sabe ser. Além de perder a eleição no Flamengo, ela não se reelegeu vereadora em 2012. Um baque nas finanças de, pelo menos, R$ 15 mil, salário que recebia como funcionária da Câmara. Como presidente do clube, nada ganhava. A partir de agora, quer mudar de rumos:

– Quero trabalhar em causas ambientais, que sou apaixonada, quero trabalhar para quem precisa. Ficar trabalhando em contrato de jogadores que envolvem milhões…

Patricia teve, durante os três anos de mandato – 20 na vida pessoal – a companhia do marido Fernando Sihman. Presente no dia a dia do Flamengo, participando da política do clube, Sihman sempre teve seu passado de torcedor do Fluminense lembrado. E também o poder de decisão comentado nos quatro cantos da Gávea.

– A participação dele nunca foi no futebol, ele não ia ao treino, só ia aos jogos, pagava do bolso, não tinha privilégio. Isso eu sempre dizia: “Não se mete no futebol”. As pessoas muitas vezes procuram o Fernando, ou porque não conseguem falar comigo, ou porque passaram essa imagem do Fernando dentro da administração. Acho que ele foi sempre aquele cão de guarda. Na ânsia de me proteger, muitas vezes pode ter exagerado – afirmou Patricia.

Quem não divide o mesmo teto, mas dividia as canetadas na parte de finanças foi Michel Levy, outro dirigente que marcou a gestão pela atuação além do departamento, e com participação direta no futebol e nas polêmicas. A presidente avaliou a relação com Levy e comentou ainda o fato de seu vice-geral, Hélio Ferraz, e o marido da sua melhor amiga (Cristina Callou) e ex-funcionário do futebol, Luiz Augusto Veloso, terem votado na oposição.

À beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, com céu azul e sol, o Cristo Redentor como testemunha, Patricia brincou ao caminhar por uma ponte que serve para os barcos de remo do Flamengo:

– Fui eu que fiz.

Mesmo com a paisagem e a vontade de trabalhar com causas ambientais, os olhos de Patricia Amorim ainda estão voltados para o outro lado da rua, a sede da Gávea.

Vida pós-Câmara e Flamengo
“Tem muita coisa para fazer. Quero estudar um pouco mais, vou trabalhar no que gosto. Não vou sentir falta da vida política, não mesmo, pois não achei meu grupo, meu time. Mudava de partido, e só decepção. Vim para uma eleição para o Flamengo e não tive apoio de ninguém da política. Vou ver como caminhar, mas não quero mais me candidatar a nada. Não tem volta, apenas como militante, para contribuir para uma gestão, mas não quero mais me candidatar, porque a campanhas também levam dose de demagogia. Gostei de tudo, da vida política, os três anos do Flamengo, não me arrependo, foi muito bom. Mas já foi… Vou fazer 44 anos, quero construir minha vida com coisas prazerosas. Fui uma parlamentar morna, quero ser quente. Fui uma boa presidente, mas acho que sou melhor militante, na colaboração do grupo, isso vou continuar fazendo. Quero trabalhar em causas ambientais, que sou apaixonada, quero trabalhar para quem precisa. Ficar trabalhando em contrato de jogadores que envolvem milhões… Eu gosto é do funcionário do Flamengo, gosto de quem precisa. Os milhões do Fulano… Isso não me encanta. Não tenho dinheiro porque não quis. O que me encanta são as causas ideológicas, ter sido a primeira mulher presidente do Flamengo, ter pago funcionário em dia. Sou gente, essa gente que me interessa. É ensinar natação durante 10 anos para 800 crianças de graça. Passar a vida com emoção, mas contribuindo.”

O futebol
“O futebol é uma grande mentira. Já ouvi de várias pessoas e concordo. Engraçado que eu fiz amigos e tive reconhecimento de pessoas que mandei embora diretamente. Vanderlei, Deivid… É uma loucura. Pessoas que saíram muitas vezes foram carinhosas. Quando você atende interesse as coisas fluem bem, quando não atende, dinamite. Não sei, fiz o que tinha que fazer. A dificuldade no futebol é enorme. Não é o meio do futebol, isso que o Vanderlei e Dorival falam pra mim. Quem escreve e comenta sobre futebol é que não reconhece o que é feito. E talvez não tenha me comunicado com a grande massa. Com quem tinha opinião formada de que eu não servia, não adiantava trabalhar que não ia aparecer. Como o resultado não foi bom. Então… Não acho que fui omissa, pois não me ausentei. Também não fui frágil. Talvez o futebol precise de uma coisa mais bandida. Eu não sei ser. Faltou ingrediente sorte, faltou habilidade na escolha de pessoas ou nos momentos errados. A gente errou, mas acertou também. Não me arrependo, mas claro que faria diferente. Mas gostei muito da experiência. O que não vou sentir falta é do dia seguinte a uma derrota. Seu humor, sua vida, sua respiração dependerem de uma rodada é muito doloroso.”

O clube
” Senti o quanto o Flamengo é construído através do fisiologismo, que eu abomino. Por isso, talvez tenha tido essa dificuldade de governar. Não queria ter obrigação de empregar nem nomear as pessoas que me apoiaram. Impedi muitas vezes que pessoas fizessem alguns negócios, e isso fez com que alguns se tornassem oposição.”

Michel Levy, a personalidade do vice de finanças
” Fica difícil você fazer uma análise da pessoa só por um momento adverso. A virtude foi que ele nunca deixou de correr atrás para pagar em dia, sempre ficou ligado nisso. Ele é responsável pela área que pagou 35 meses de salários em dia, e não tem carinho e reconhecimento, como pode isso? Por muito menos, outros vice-presidentes financeiros tinham o carinho dos funcionários, e não pagavam em dia. Nunca entendi. Mas na convivência você percebe que a forma de se apresentar, de conduzir as coisas, de se relacionar, impediu as pessoas de terem essa aproximação. É uma relação bastante difícil, pois o Michel tem fuso horário diferente, não sabemos que horas ele vai acordar, como vai estar o humor dele, se vai aparecer no clube. A dificuldade do dirigente voluntário, no Michel, era muito perceptível. De todos os vice-presidentes, nele, a dificuldade era maior. A convivência realmente em alguns momentos foi insuportável, em outros superalegre, mas isso não foi o que deu conotação positiva ou negativa. Sou habilidosa, consigo contornar. No final, ele se ocupou de outras coisas que não só a administração de finanças, e aí conturbou um pouco. Muitas vezes ele agia como torcedor, aí quer dar palpite, quer interferir… Isso acontece em todas as administrações. Mas ele poderia, para o bem dele, ter se preservado bem mais.”

Fernando Sihman, marido e conselheiro do Fla
” Foi muito complicado. Fernando é Flamengo. Ele era Fluminense quando o conheci, há mais de 20 anos, e ele, ao longo do tempo, virou Flamengo. Quando começamos a namorar, eu ainda nadava, ele passou a frequentar o clube, conheceu os funcionários, os personagens do Flamengo, porque minha vida todo dia, o tempo todo, era no clube. Não dá para dividir o amor com Flamengo, são amores diferentes, mas o amor pelo Flamengo é primeiro, e é mais forte do que eu posso. Então, para conviver bem com meus filhos, meus pais, marido, é bom que todo mundo seja e esteja no Flamengo, senão não vai ser possível. Ele foi entendendo isso, que a convivência comigo, a nossa vida seria harmoniosa se ele vivesse o Flamengo como eu vivo. Em 98, ele comprou um título de sócio-proprietário, começou a participar, chegou a ser vice-presidente, hoje é conselheiro. Ele realmente virou a casaca. Não tenho problema em falar sobre isso, acredito que nem ele. Até pelas demonstrações que ele já deu pelo Flamengo, isso é uma bobagem. Agora, a participação dele nunca foi no futebol, ele não ia ao treino, só ia aos jogos, pagava do bolso, não tinha privilégio. Isso eu sempre dizia: “não se mete no futebol”. Ele tem, sim, no dia a dia do clube, pois as pessoas muitas vezes procuram o Fernando, ou porque não conseguem falar comigo ou porque passaram essa imagem do Fernando dentro da administração. Acho que ele foi sempre aquele cão de guarda. Na ânsia de me proteger, muitas vezes pode ter exagerado. Mas era de proteção, você não houve falar em irregularidade, desonestidade. Como ele não é como eu, uma pessoa habilidosa no trato, ele chegava entrando de sola, isso trazia desconforto para muita gente. Aí, pronto: “o marido é isso, aquilo…” Conversei com ele muitas vezes, pois ele dava opiniões, colocava os sentimentos e achava que não teria eco. As pessoas não são tão amigas assim. Mas ele tem uma forma diferente de ser. É marido, pai dos meu filhos, uma pessoa que amo muito, mas não vou passar a mão na cabeça dele, acho que ele sabe dos erros, mas quero deixar claro que houve exagero. E, em algumas situações, o exagero, quando ultrapassava o limiar do que é razoável, falar do Fernando virava preconceito, machismo. Muita coisa caiu na conta do Fernando por isso: “Não tenho o que falar dela, é o marido. Ah, Patricia, não, mas o Fernando…”

“A forma como ele viu as coisas não é a forma como eu vi. Lamento, porque quando ele mandou a mensagem que queria sair, faltou conversa. Eu nunca o desrespeitei. De alguma forma, quando você não fala com a pessoa, e não dá a chance da conversa, como não foi me dada a chance, ou da explicação… Então, aí eu acho que não foi justo. Mas ele teve os motivos, eu vou respeitar. Ele talvez esteja com a razão. As pessoas internamente e externamente mostraram que ele estava com a razão, eu que estava errada. Então, vai ver que eu estava errada. Fico muito mexida com as relações. O Zico teve uma postura bacana no dia da eleição, deu parabéns pela forma que conduzi a eleição, ponto para mim. Se estava errada e acertei nisso, que bom.”

Hélio Paulo Ferraz e Luiz Augusto Veloso, duplo lamento
” Lamento pelo Hélio e pelo Veloso. Veloso teve oportunidade aqui, teve voz ativa, foi muito bem tratado, mas ele tomou o rumo que ele achou certo. Lamento. O Hélio é um pouco diferente, pois lá no início, ele se prontificou a ser vice-presidente, eu relevo. Senti ausência do Pedro e Paulo Guimarães, filhos do Dauteli (ex-treinador de Patricia), gostaria que estivessem presentes.”

‘Posso dar um recado final?’
” Queria agradecer às pessoas que trabalharam duro. Cada um faz sua análise, as críticas, não tenho nada contra ninguém, agradeço a todos, os que foram bem ou mal. Gostaria que a torcida tivesse outra visão das coisas, a minha destruição foi feita de fora para dentro, infelizmente. Mas não vou me lamentar, sou jovem, eu reconstruo toda história novamente. Vou escrever um livro bem legal, com bastidores, para as pessoas entenderem a complexidade do cargo. A primeira coisa que falei com Bandeira (Eduardo, presidente eleito) e os filhos – ele tem gêmeos, como eu – foi: “É a família que segura a onda”. Estava andando com meu filhos ontem, e um deles falou: “Mãe, você perdeu, mas a gente ganhou a mãe de novo”. Quero agradecer às pessoas que ajudaram em casa, minha mãe, que passou mal no sábado aqui na Gávea, meu pai por ter segurado a minha mãe. Minha irmã, que é a melhor pessoa que já conheci no mundo, ela é zen, está sempre feliz. Meu irmão botafoguense, que disse que vai poder torcer pelo Botafogo contra o Flamengo. Meu marido, por não ter me deixado, pois tudo a culpa era dele. Nem tudo é sua culpa, Fernando. Cris Lobo (assessora de Patricia), que tratei muito mal, mas sei que ela aguenta. Raquel, minha secretária há mais de 20 anos. Pode colocar tudo isso? O Clécio, meu motorista, que foi babá, conselheiro. Tem muita gente importante. Queria agradecer aos ex-atletas, em especial, ao casal Agnes e Nilton, Zequinha e a Chirica, esses quatro foram bem… Não sei como não me abandonaram. A lista vai ficar muito grande. As pessoas que estão próximas são especiais.”

Fonte: Globoesporte.globo.com

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Atualizado: 06/12/2012 10:41

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