Nem todos os caminhos dos boleiros levam à Barra da Tijuca. Fred desviou do endereço oficial de jogadores no Rio. Escolheu Ipanema para morar. Recentemente, ele se mudou para o Leblon, no mesmo prédio de Ronaldo, de quem é vizinho, mas com quem tem relação distante. O atacante tricolor desfruta da vida de garoto Zona Sul: praia na frente de casa, futevôlei, chinelo de dedo, bares e restaurantes badalados. Ídolo do Fluminense e provável titular da Seleção na Copa das Confederações, o atacante está na crista da onda. Dentro e fora de campo. O grito que vem das arquibancadas – “O Fred vai te pegar” – extrapola a relação com os gols. Relatos de amigos e conhecidos não deixam dúvidas do sucesso dele com as mulheres. O menino de Teófilo Otoni (BH), que na infância era chamado de “Topojegue”, cresceu, mudou de visual e de apelido: agora, atende por Don Fredon. Curte a vida intensamente, porém tenta manter a discrição. Mescla o estilo mineirinho com pitadas cariocas. Caiu nas graças de tricolores de todas as idades, homens e mulheres, meninos e meninas. É tido como boa-praça e apresenta um perfil diferente dos boleiros que atuam em solo carioca. É o enredo de “la dolce vita” de Fred.
– Estou mineiroca (risos). Um mineiro adaptado às coisas boas do Rio, onde tem muita vida durante o dia, praia. Mas continuo com meu lado mineiro, tímido, sempre na minha. Em campo, eu acabo deixando o lado mineiro de lado, grito muito, elogio e dou bronca. Fico mais carioca mesmo (risos) – brincou Fred, com o sotaque cada vez mais carioca.
Mais carioca dentro e também fora de campo. Fred ainda mora de aluguel no Rio, mas se mudou da Avenida Vieira Souto, em Ipanema, para a Delfim Moreira, no Leblon, ambas na orla. Enquanto Ronaldo comprou a cobertura do prédio , o atacante tricolor está no segundo andar. Corre à boca miúda no Leblon que o Fenômeno sugeriu uma mudança em toda a fachada do prédio, com custo altíssimo, o que causou questionamentos entre condôminos. O ex-jogador, que atualmente está em Londres, teria bancado a obra sozinho.
A justificativa de Fred para a mudança foi o fato de o Leblon ser mais acolhedor e ter tudo de que precisa por perto. Para ir à praia, ele dá 63 passos para atravessar duas pistas da Delfim Moreira, desce seis degraus e desemboca na areia do Leblon, onde pode ser visto jogando futevôlei, apostando “cenzinho” ou chope. Aquele pedaço de praia virou seu quintal.
– Fred é gente da melhor qualidade. Vive na boa, trata todo mundo na moral, bate a bolinha dele. Os flamenguistas, vascaínos e botafoguenses que param aqui na praia, todo mundo gosta dele, não tem essa de rivalidade. E a mulherada perde a linha mesmo – constatou um dos barraqueiros que trabalham em frente ao point em que Fred para e atrai olhares femininos quando usa o chuveirinho.
Num domingo de folga, no último dia 12, o atacante se fartou de jogar futevôlei. Apostou 10 chopes. E saiu no prejuízo. Ao final, derrotado, teve que ouvir do amigo vitorioso:
– Muito fácil. Tá achando o quê? Apostou, ressuscitou o morto. Agora, paga.
No último sábado, lá estava o atacante novamente batendo sua bolinha na areia, mesmo com o tempo chuvoso. Fred está em casa no Leblon:
– Quando cheguei, escolhi a Zona Sul porque era perto do treino (nas Laranjeiras). Busquei algumas informações sobre estilo de vida e me passaram que dava para fazer tudo andando, bastante familiar. Isso despertou meu interesse. Com um mês de Zona Sul eu não queria sair mais.
De casa até a sede das Laranjeiras, onde treina, Fred tem que percorrer meros 10 quilômetros, e grande parte do percurso é feito pela orla ou pela Lagoa Rodrigo de Freitas.
Antes de morar no Rio, Fred nunca havia visitado a cidade, a não ser quando vinha para jogar. O atacante já revelou que, quando pendurar as chuteiras, pretende se revezar entre Belo Horizonte, onde ficaria durante a semana, e o Rio, de sexta a domingo.
Don Juan no anonimato: gol para impressionar meninas
A fama de Don Juan vai muito além do episódio do selinho no trânsito, quando o jogador soltou a pérola “O que você faz além de sucesso?” e, pela janela do carro, arrancou um beijo de uma jovem de 23 anos que guiava uma moto em uma movimentada avenida de Belo Horizonte. O vídeo virou febre na Internet e propagou a fama de pegador. Mas nem sempre o trânsito com o sexo feminino caiu do céu ou apareceu de moto.
Rodrigo Martins, conhecido como Barriga, é irmão de criação de Fred. E lembra que o atacante roeu o osso antes do filé. Com estratégia e propaganda para fazer sucesso com as mulheres.
– O Fred até que se dava bem quando era moleque. Levava fora também, igual a todo mundo. Isso é natural. É claro que ele não tinha tanta mulher no pé dele, mas também tinha lá suas namoradinhas. Agora, a coisa ficou bem mais fácil para ele, não tem como negar (risos). Tem uma que eu sempre conto. Depois que ele fez o gol mais rápido do mundo (pelo América-MG, em 2003), em todo lugar em que íamos, em Belo Horizonte, ele pedia para que eu chegasse pedindo autógrafo, para todo mundo saber que ele era o jogador do América que tinha entrado para o Guiness Book e impressionar as meninas (risos) – recordou Barriga.
A tática faz parte do passado. Agora, segundo os amigos, Fred pode escolher. É comum ver maria-chuteiras posicionadas estrategicamente nas areias do Leblon, cercando o atacante. O jogador faz sucesso também entre as patricinhas de classes média e alta da Zona Sul.
Na noite do último dia 10, uma sexta-feira, o atacante arrancou elogios do público feminino – a maioria de meninas de Ipanema e Leblon – presente ao bar Belmonte, no Leblon.
Fred tenta manter as conquistas longe dos holofotes, não se encanta com celebridades instantâneas ou mulheres-fruta, mas já foi fotografado em belas companhias no bairro que se transformou em território fértil para os paparazzi.
– Quero me casar um dia. Mas não é fácil. É complicado casar hoje. É complicado namorar, imagina casar. Só depois de parar tudo – disse Fred.
O atacante já foi casado com Amanda Goecking, mãe de Geovanna, sua filha de seis anos. Mas assume que foi um grande amor vencido pela imaturidade do casal ainda jovem.
Longe da bola e do técnico à beira do campo, a atuação de Fred fora dos gramados geralmente é acompanhada por amigos e garçons dos estabelecimentos que frequenta. Não é raro ele chegar a um bar sozinho e sair acompanhado.
– Ele virou um playboyzinho da Zona Sul (risos)! Sou convicto em afirmar isso. Trocou o interior de Minas pela Zona Sul. Quase igual à novela. O apelido dele antigamente era namorador. Quando eu ainda era solteiro, ele chegava e queria bancar o bonitão, falar com as meninas todo certinho, com aquela voz de mineirinho. Mas não tinha jeito, né? O cara é todo grande, bruto para caramba, feio. Tem que agradecer muito à bola e ao futebol – brincou o meia Wagner.
Fred foi um dos responsáveis pela contratação de Wagner, seu amigo desde os tempos de América-MG e que esteve perto de acertar com o Palmeiras antes de o atacante ligar e convencê-lo a se transferir para o Fluminense.
Fábio Braga, filho do técnico Abel, é uma das companhias constantes de Fred nas investidas noturnas. Segundo pessoas próximas, o volante não fica atrás do atacante nas conquistas amorosas. Ficou famosa a história segundo a qual Fábio saiu com uma jovem depois de trocar apenas mensagens pelo Instagram, sem mesmo conhecê-la.
Corre também nos bastidores um atrito entre o camisa 9 e Emerson, depois de o jogador tricolor sair com uma das paqueras do Sheik. Sem entrar em detalhes, o atacante do Corinthians deixa claro que não tem boa relação com o ídolo tricolor.
O sucesso com as mulheres pode ser comprovado no dia a dia. Torcedor do Fluminense, um taxista se interessou ao saber sobre a publicação do perfil de Fred. E revelou, meio a contragosto:
– Minha mulher agora deu para falar: “O Fred é lindo, o Fred é lindo”.
Nem sempre foi assim. Fred lembra o apelido de infância, uma mistura do ratinho Topo Gigio com jegue:
– Meu apelido na infância era Topojegue. Eu era muito magrelo e usava cabeça raspada. Dava uma destacada bacana (risos).
Homem de tantas mulheres, Fred nutre um amor eterno pela mãe Dona Giselda, que morreu quando o camisa 9 do Fluminense tinha apenas sete anos:
– Uma das coisas de que mais sinto falta é a figura da mãe. Tenho traumas desde que era pequeno. Nos grupos da escola para estudar, por exemplo. Na casa de todo mundo tinha um lanchinho, uma mãe cuidando. Mãe é mãe, né? Meu pai não ia fazer isso. Sentia falta desse amor. Hoje, o que mais seria legal era dar uma casinha muito legal para ela.
Pai irreverente
Responsável pela criação do filho, seu Juarez se tornou uma figura folclórica durante a Copa de 2006, durante a qual escreveu um blog. Direto da Alemanha, ele contava sua ressaca depois do gol de Fred contra a Austrália, na primeira fase do Mundial, sua preferência por mulheres louras, seus truques de mágica e suas diferentes aventuras a bordo do “Áudio”, como chamava o carro da marca Audi que dirigia pelo Velho Continente, encerrando cada post com a frase: “De Teófilo Otoni para o mundo”. Em fevereiro de 2012, Juarez causou polêmica ao dizer que o filho simulou uma lesão para não se apresentar à Seleção. Desde então, a assessoria de imprensa do atacante veta entrevistas do pai do jogador.
– Meu pai fala as coisas muito no calor. Ele também fala que eu sou melhor do que o Messi. E aí? É verdade também? Não – disse Fred, à época.
Outra grande paixão do jogador é a filha Geovanna, que vai ao Rio sempre que possível para fazer companhia ao pai-coruja. Na terça-feira, véspera do jogo contra o Olimpia, a menina esteve presente ao treino nas Laranjeiras. Quando está com Geovanna, Fred tenta manter ainda mais sua privacidade, nem sempre respeitada pelos torcedores.
Foto sem bebida, polêmicas e segurança descartado
Para diversão, nada de Barra Music. A casa que virou reduto de boleiros com shows de pagode e funk não conta com o reforço de Fred. Recentemente, para curtir um show do Revelação, ele esteve no Club Praia, uma boate badalada na Lagoa.
Em vez da churrascaria Porcão, o atacante costuma fazer o circuito Leblon-Ipanema, com endereços badalados de lanchonetes, restaurantes e bares “bombados” como o Veloso, onde virou figurinha fácil. Balada, Forneria, Manekineko, Togu, Sushi Leblon, Antiquarius, Victória, Boate Praia e o Baile da Favorita são outros points de Fred.
– Depende da ocasião. Para comer rápido, tomar um suco, o Balada é o meu preferido. Se for mais arrumado, prefiro o Antiquarius, o Gero. Vario muito. Não gosto de ir ao mesmo lugar – disse Fred.
O jogador não esconde seu gosto por um chope gelado ou cerveja. É apreciador de vinho branco, mas passa batido por destilados como vodca e uísque. Mesmo quando está nos seus momentos de lazer, não se nega a tirar uma foto, mas sempre evita ser clicado com copo na mão e entrega a bebida a um amigo antes do registro fotográfico.
Os garçons de bares e restaurantes que Fred frequenta costumam vibrar com as gorjetas generosas do atacante.
– Ele é mão aberta, sempre vai além dos 10%. Ainda mais quando faz um “golzinho” – brincou um garçom do Belmonte, no Leblon.
Fred não costuma sair em semanas de jogos decisivos.
Em 2011, o jogador teve desentendimentos com a torcida do Fluminense ao ser acusado de ir para “noitadas”. Depois de ter sido visto no Astor, bar que fica bem próximo de sua antiga residência, e perseguido por integrantes de uma torcida organizada pelas ruas de Ipanema, ele ameaçou deixar o clube.
Na ocasião, ele defendeu que a vida pessoal deveria ser respeitada e que os atletas têm direito à diversão:
– Não poder ir a um bar, beber minha cerveja, vinho, teatro. Aí fica difícil. Passei isso para a diretoria. Preciso de segurança para viver tranquilo no Rio. Nunca faltei a treino, dediquei minha vida ao clube. Não quero andar com filha, namorada, com três seguranças atrás.
O artilheiro contornou a situação, permaneceu no clube e seguiu a vida, sem recorrer a seguranças particulares, mas com um grupo de amigos que invariavelmente conta com Barriga, considerado irmão de criação; Igor Souto – jogador de pôquer profissional; Leandro Lima – o do “Forró”, que inspirou dancinhas em comemorações de gols; e Francis Melo, que é assessor de imprensa, amigo de longa data e também já começa a ajudar Fred com projetos para depois da carreira.
Wagner exalta a postura do companheiro de time:
– Ele está muito maduro. É um cara que ajuda muito o Fluminense em campo e fora dele. Essa força que ele tem e as conversas com o presidente e a diretoria nos ajudam muito. Fred cresceu muito depois da Copa que disputou. Abriu os olhos dele como pessoa e profissional.
Descontração, liderança e idolatria
No apertado estacionamento do campo das Laranjeiras, o carro de Fred tem local privilegiado, é logo o primeiro apontado para a saída, sem problemas para manobrar. Mas não significa pressa de ir embora do atacante, que não tem histórico de faltas ou atrasos. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, Fred foi um dos últimos a deixar o clube, depois de um treino em que mesclou descontração no aquecimento com seriedade no coletivo. E, no fim, fez a festa de um grupo de torcedores que causou grande alvoroço ao conhecer o ídolo.
ogador mais festejado com os tradicionais gritos de “Fred vai te pegar”, o atacante atendeu pacientemente a pedidos de fotos de meninas, não se incomodou com um torcedor que quase se pendurou no seu pescoço, ouviu outro dizer que veio do Maranhão para vê-lo, mais um que rebateu falando que veio da Patagônia, tirou fotos com um neném, conversou com a mãe da criança, ia embora quando foi chamado de volta, retornou, repetiu uma pose
Hoje, a idolatria do jogador entre os torcedores do Fluminense é indiscutível. Porém, durante a trajetória que começou em março de 2009, alguns momentos de crise marcaram o relacionamento até chegar aos votos de bom casamento e dias felizes como os atuais.
Na final da Sul-Americana de 2009, o atacante deu uma cabeçada no juiz Carlos Amarilla e foi expulso da partida que terminou com o título da LDU. Ao mesmo tempo, foi decisivo na arrancada que evitou o rebaixamento e criou a expressão “Time de Guerreiros”. Na caminhada para o título brasileiro de 2010, desfalcou a equipe em vários momentos. Na virada do turno do Brasileirão de 2011, começou uma curva ascendente e chamou de vez a responsabilidade. Ele repetiu as boas atuações e gols em 2012, e fincou de vez sua bandeira. Fez o gol que garantiu o tetracampeonato nacional, foi escolhido o craque do Brasileirão e voltou a ser convocado para a Seleção. De quebra, tornou-se o maior artilheiro do clube em Brasileiros.
O atacante disputou 165 jogos pelo Tricolor, com 109 gols. No tempo em que está no clube, assumiu o papel de líder e ganhou respeito dos jogadores. Na trajetória, teve alguns atritos com Fernando Henrique, Luiz Alberto e Diguinho, mas tudo contornado. O jogador conta com a confiança do técnico Abel Braga, que publicamente classifica o camisa 9 como “um cara do bem”.
Seja dentro ou fora de campo, Fred está na moda.
Curiosidades da carreira e vida pessoal
– Pelo América-MG, quase não foi para a Copinha de 2003 por indisciplina. Depois, foi expulso na primeira partida, cumpriu suspensão na segunda e marcou o gol mais rápido da história do futebol na terceira: derrota por 5 a 1 para o Vila Nova-GO;
– Na primeira renovação, trocou um salário mínimo por cerca de R$ 10 mil;
– Seu primeiro gol como profissional foi em um jogo com apenas 911 pagantes;
– Foi vice-artilheiro do Mineiro de 2003 com 10 gols;
– Para contratar o jogador, o Flu pagou apenas uma indenização de 400 mil euros ao Lyon. O Tricolor chegou a blefar e anunciou a desistência no negocio para pressionar o clube francês. O Palmeiras era um dos principais concorrentes na negociação. Posteriormente, o Fluminense, com a ajuda da Unimed, comprou 100% dos direitos econômicos que pertenciam ao próprio jogador por R$ 13 milhões;
– O primeiro salário nas Laranjeiras foi de R$ 460 mil. O atual gira em torno de R$ 800 mil;
– Comprou uma patinete elétrica, que usa para se locomover em Ipanema e Leblon;
– Gosta de vinho branco;
– Não costuma sair em semanas de jogos decisivos;
– Tem uma irmã chamada Karina, que cuida de seus investimentos, e um irmão chamado Rodrigo, seu empresário;
– Realizava treinos inusitados na infância sob ordens do pai Juarez. Corria na ponta do pé ao redor do quarteirão (no fim, se molhava para parecer suado e pegava um ônibus para ir mais rápido).
Fonte: Globoesporte.com