Dentro de campo, Jadson é clássico. Domina a bola de cabeça erguida, tem movimentos vistosos, precisão no passe, gosta de estar sempre próximo da bola. Fora de campo, Jadson também é clássico. No futebol de hoje, parece até ter vindo do passado numa máquina do tempo. Sem tatuagens à mostra, brincos ou penteados exóticos, de fala mansa, quase acanhada, e um tratamento formal que assusta quem perdeu os parâmetros de educação.
Jadson é um brasileiro da criação à moda antiga, com base na religião, moral e nos bons costumes. Trata seus técnicos e diretores por “senhor”, não poupa um “bom dia” a quem encontra durante a manhã ou um “por favor” em seguida a qualquer pedido. Evangélico, foi habituado a orar sempre antes de dormir, e até hoje não só mantém a rotina, como também a ensina aos filhos Mateus, de quase seis anos, e Miguel, de dez meses.
– Tento passar a eles o que aprendi com meus pais, o que acho ser o jeito correto. Falar “bom dia”, “obrigado”, rezar o Pai Nosso à noite. Hoje é muito mais difícil criar um filho do que antigamente. Vejo muitos jovens tratando um idoso por você, acho chato, um desrespeito.
No dia-a-dia, os fisioterapeutas e preparadores físicos até reclamam, em tom de brincadeira, de tanta formalidade quando são chamados de “senhor” por Jadson. O meia do São Paulo que conquistou Luiz Felipe Scolari com seu jeitão sério e concentrado só é mais maleável com os filhos em relação ao videogame, brinquedo dos sonhos de sua infância.
– Meu pai dizia que era coisa de moleque vagabundo (risos). Ele dava bicicleta, mas não dava videogame.
Mas o que Jadson queria mesmo era uma bola. Criado em Londrina, interior do Paraná, foi apresentado ao futebol pelo pai, que era amador na cidade, e carregava o filhote debaixo dos braços para vê-lo jogar. Tanto contato fez com que o menino pegasse gosto pela coisa. Ele, então, passou a estudar pela manhã, fazer escolinha de futsal à tarde, e ainda terminar o dia no campinho próximo à sua casa.
A infância de Jadson foi solta, na rua: bolinha de gude, bater figurinhas (o tradicional bafo), bicicleta, pipa… E futebol. Sua família não passou necessidades, mas também não teve fartura. Uma bola, por exemplo, na época era considerada um artigo de luxo. E quando finalmente ele conseguiu ganhar uma, ela não durou nem um dia.
– Quando ele me deu, fui ao campinho. Levava uns 20, 25 minutos pedalando. Era tranquilo, mas ao lado tinha um bairro meio perigoso. Estava anoitecendo, eu era novinho, de repente veio um cara, chutou a bola, saiu correndo e pegou. Fiquei triste durante um mês. Ele sumiu.
Quando começou a jogar pra valer no PSTC, Jadson tinha bolas e mais bolas a seu dispor. De lá foi para o Internacional, onde passou um ano antes de desembarcar no Atlético-PR e fazer sucesso. O interesse europeu era questão de tempo, e veio da Ucrânia. Em 2005, o meia assinou contrato com o Shakhtar Donetsk, e descobriu, então, um dos traços de sua personalidade mais típicos do Brasil: a receptividade.
– Joguei muito tempo fora, e não se compara os brasileiros aos europeus. Eles são muito frios, não se abrem muito. O povo aqui é muito querido, acolhe a todos de braços abertos, e eu sou assim. Trato todo mundo da mesma forma, desde os jogadores que estão subindo da base até os mais consagrados.
De volta ao Brasil após sete anos na gélida Ucrânia, Jadson vem num período de reconquistas. A primeira foi da confiança do torcedor brasileiro. Depois de certa desconfiança, conquistou de vez os são-paulinos e, hoje, é considerado o principal jogador da equipe. Agora quer cravar seu nome na seleção brasileira, de onde sumiu após a Copa América de 2011, em que, sob o comando de Mano Menezes, atuou por apenas 45 minutos, e fez um gol.
– Às vezes ficamos nos questionando sobre as coisas, mas sei que por trás disso tudo há Jesus me abençoando – crê Jadson, evangélico que, por muitas vezes, em razão das concentrações, organiza seus próprios cultos.
– Quando jogo aos sábados consigo ir aos cultos, mas senão eu e minha esposa fazemos algo em casa, lemos a palavra, cantamos músicas. O importante é sempre fortalecer nossa relação com Jesus.
Fonte: Globoesporte.com