Na próxima terça-feira, 1º de outubro, a Escola Estadual Emir de Macedo Gomes, em Linhares, será palco de uma apresentação teatral que promete mexer com as reflexões do público. A peça “A Dança dos Símbolos” vai explorar o debate sobre polarização política e as guerras culturais que vêm dividindo o Brasil nos últimos anos. Em meio ao clima festivo de um bloco de carnaval, progressistas e conservadores se enfrentam em um embate simbólico, questionando o futuro do país.
O espetáculo terá sessões às 14h e 16h para os alunos da escola e uma sessão aberta ao público às 19h30, com entrada franca. Na quarta-feira (2), terá sessões na parte da tarde para escolas convidadas.
A peça foi criada pelos alunos e professores da escola, sob a orientação dos docentes Humberto Rocha da Cunha e Danilo Souza Silva. A produção busca provocar o público a refletir sobre o impacto da desinformação e o uso de símbolos políticos para conquistar eleitores, além de questionar como a sociedade pode lidar com esses desafios em tempos de extrema polarização.
A origem da peça e o papel do teatro na escola
O projeto teatral na Escola Emir de Macedo Gomes teve início em 2019, com a primeira montagem de “A Bolha”, uma adaptação realizada por Humberto Rocha da Cunha, professor responsável pela condução dos trabalhos teatrais na escola.
“A ideia de fazer uma peça teatral aqui na escola começou em 2019, quando o saudoso ex-diretor Jocival Marchiori aceitou a proposta. Na época, tínhamos muitos alunos talentosos e uma estrutura de auditório que poderia ser melhor aproveitada”, relembra o professor Humberto. “Começamos os ensaios de forma voluntária, nas noites de quarta-feira. Aos poucos, o projeto foi crescendo, e vimos que havia muito potencial entre os alunos.”
Depois da interrupção causada pela pandemia de COVID-19, o teatro na escola retomou as atividades em 2022, com uma nova adaptação de “A Bolha” e, em 2023, com a peça “O Vale das Águas”. Segundo Humberto, essa produção foi especial por tratar da memória e da destruição causada pelo rompimento da barragem de Mariana, que afetou diretamente a comunidade local.
“Partiu da construção dos alunos, desde os personagens, o texto, até o desenrolar da história. Tivemos como inspiração o filme ‘Narradores de Javé’, que aborda uma temática semelhante, envolvendo a memória, a importância do patrimônio e da história, além de trazer críticas sobre as indenizações pagas, a sensação de enriquecimento ilusório”, pontuou.
“As pessoas que achavam que tinham ficado ricas com as indenizações da Samarco acabaram ficando ainda mais pobres, pois o principal valor, que era o rio, estava perdido. Foi outra peça que tocou a plateia, fez muita gente refletir, e foi uma obra de autoria dos alunos, em parceria com os professores”, concluiu.
Este ano, a peça “A Dança dos Símbolos” surge como o trabalho mais desafiador. “Estamos tratando de um tema muito delicado, que é a polarização política e a apropriação de símbolos políticos. A ideia é mostrar como essa apropriação se perdeu em meio às fake news e ao ambiente digital. É uma crítica que certamente fará a plateia refletir”, explica Humberto.
A proposta pedagógica e os desafios da polarização política
A peça A Dança dos Símbolos é resultado do esforço colaborativo entre alunos e professores, além de ser um produto educacional desenvolvido no âmbito do Mestrado do professor de Sociologia Danilo Souza Silva.
“Trabalhar a Ciência Política em sala de aula é algo fundamental, especialmente no contexto atual em que vivemos. A peça faz parte do meu projeto de mestrado, que visa justamente discutir a polarização política e as guerras culturais no Brasil”, detalha Danilo.
Ele acredita que a peça pode ajudar os alunos e o público a compreenderem o que está por trás dessa divisão social, sem cair em maniqueísmos. “Esperamos que os alunos tenham uma visão mais crítica e sem estereótipos sobre os dois lados desse embate político, e que o público também possa refletir sobre como os símbolos políticos são usados para fortalecer narrativas e influenciar comportamentos. A escolha do carnaval como pano de fundo para o início da peça é justamente para simbolizar um momento de união, onde todos se misturam e se divertem, mas que depois se transforma em um palco de tensões políticas.”
Danilo ressalta que a peça não busca oferecer respostas prontas, mas sim provocar uma reflexão. “Se as pessoas discutissem política com a mesma paixão que discutem o carnaval, será que o cenário seria o mesmo? A peça faz essa provocação e nos convida a pensar sobre como nos posicionamos diante dos símbolos e dos discursos políticos.”
A importância da peça para os alunos
Os alunos da Escola Emir de Macedo Gomes foram responsáveis não só pela atuação, mas também por ajudar a construir os personagens e as histórias que compõem “A Dança dos Símbolos”. Kayky Cardoso, de 18 anos, interpreta o personagem João, um homem de posses influenciado pela esposa e por discursos políticos contemporâneos.
“Por mais que ele seja um homem completamente influenciado pela esposa, ele não deixa de apresentar carisma diante de seus semelhantes”, explica Kayky. “O desafio para mim foi compreender os ideais e a motivação do personagem para que a construção do personagem fosse autêntica, sem cair em estereótipos.”
Para Kayky, a mensagem mais importante que seu personagem traz é o alerta sobre os perigos da desinformação.
“João transmite uma mensagem clara sobre os desafios da política atual, refletindo as preocupações de muitos com segurança e economia, mas também mostrando o impacto negativo das fake news e da polarização, alertando o público para os riscos de confiar cegamente em discursos políticos e como a manipulação de informações pode dividir uma sociedade”, concluiu.
João Victor Ribeiro Suela, de 17 anos, interpreta Binho Comunidade, um candidato progressista que luta pelos direitos das minorias.
“Binho Comunidade, candidato progressista à prefeitura de Boa Esperança, é um personagem carismático e do povo, decidido em suas posições políticas e a favor dos direitos da minoria”, diz João Victor. “O único desafio que me apareceu foi a questão de dar vida ao personagem. Como ser esse candidato? Qual a mensagem que devo levar?”, continuou.
Para ele, a peça é uma crítica pertinente ao momento político que vivemos, marcado por uma polarização e propagação de fake news. “A peça ajudará o público a refletir sobre os desafios que enfrentamos e a importância de buscar soluções para construir um futuro mais justo e democrático”, concluiu.
O elenco principal ainda conta com as alunas Eduarda Santos, Maria Helena Caliman e Norena Pianca.
O professor Humberto reforça que a peça é uma oportunidade de aprendizado e transformação para os alunos. “Trabalhar com teatro dentro da escola tem sido uma experiência enriquecedora para todos nós. Os alunos estão desenvolvendo habilidades de comunicação, pensamento crítico e criatividade, além de se tornarem mais conscientes sobre o papel da política em suas vidas.”
O professor Danilo espera que a peça gere um debate construtivo na comunidade escolar e no público em geral. “Nosso objetivo é que ‘A Dança dos Símbolos’ faça as pessoas refletirem sobre como a política pode ser transformada e como podemos, enquanto sociedade, encontrar maneiras de superar as divisões e construir um futuro mais justo e democrático.”
Serviço – peça teatral “A Dança dos Símbolos”
Data: 01/10/2024, terça-feira.
Local: Auditório da EEEM Emir de Macedo Gomes (Estadual)
Horário das sessões: 14h e 16h (alunos da escola – turno vespertino); 19h30 (aberta ao público).
Entrada franca.
