Nesta quarta-feira (9), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou a 78ª edição do Boletim de Mercado de Trabalho: Conjuntura e Análise (BMT). O documento revela que a força de trabalho no Brasil chegou a 109,4 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2024, enquanto a população ocupada atingiu o recorde de 101,8 milhões. A taxa de desocupação recuou para 6,9%, o menor nível desde 2014. No entanto, desafios como o desalento e o alto número de inativos persistem, exigindo políticas de inclusão produtiva.
Segundo o boletim, houve um aumento de 1,7% na força de trabalho e de 3,0% no número de pessoas ocupadas, quando comparados ao segundo trimestre de 2023. O emprego formal cresceu 4,0% no mesmo período, com a criação de 1,7 milhão de novas vagas com carteira assinada, de acordo com o Novo Caged.
O crescimento no emprego formal foi observado principalmente nos setores de transporte (7,5%), informática (7,5%) e serviços pessoais (5,7%), enquanto áreas como agropecuária (-3,8%), serviços domésticos (-3,3%) e utilidade pública (-0,1%) tiveram quedas.
A taxa de desocupação de longo prazo apresentou uma queda de 1,5 ponto percentual, enquanto o desalento recuou 0,4 ponto percentual. Apesar dos avanços, o boletim destaca que 66,7 milhões de pessoas ainda estão fora da força de trabalho, das quais 3,2 milhões desistiram de procurar emprego, um grupo que, segundo o Ipea, precisa ser foco de reintegração.
A renda média dos trabalhadores também cresceu, encerrando o segundo trimestre de 2024 em R$ 3.214, um aumento real de 5,8%. A massa salarial real subiu 9,2% em comparação ao ano anterior, atingindo R$ 322,6 bilhões.
Desafios persistem no mercado de trabalho
Apesar dos resultados positivos, os pesquisadores do Ipea alertam para a estabilidade da taxa de subocupação e a necessidade de uma análise mais profunda sobre o elevado número de inativos. As desigualdades regionais e as disparidades de gênero, raça, idade e escolaridade continuam sendo obstáculos no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, o setor agropecuário registrou sua nona queda consecutiva no número de trabalhadores, reforçando a necessidade de políticas de estímulo.
O boletim também chama a atenção para a informalidade e a falta de acesso a proteções trabalhistas, que continuam sendo uma realidade para muitos brasileiros. Embora o número de empregos formais tenha crescido, muitos trabalhadores permanecem vulneráveis devido à falta de vínculo formal.
Outros destaques do Boletim
Além da análise do mercado de trabalho, o boletim traz uma série de artigos técnicos. Um dos destaques é a análise sobre empregos verdes no Brasil, que representam 17% do total de trabalhadores, com estabilidade desde 2012. Outro estudo aborda os desafios enfrentados por refugiados e pessoas que precisam de proteção internacional para se inserirem no mercado de trabalho formal no Brasil, mesmo com a obtenção facilitada de permissões de trabalho.
Há também uma análise sobre a participação no mercado de trabalho entre 2012 e 2022, destacando a recuperação pós-pandemia, impulsionada pelo aumento da ocupação. Na seção Política em Foco, são discutidos temas como o seguro-desemprego, a qualificação profissional, e a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Discussões globais e inteligência artificial
A edição traz ainda uma seção especial com debates do Grupo de Trabalho sobre Emprego (Employment Working Group) do G20, durante a presidência do Brasil no fórum. Um dos artigos analisa a relação entre inteligência artificial e equidade de gênero, destacando como a tecnologia pode tanto ampliar quanto mitigar as disparidades de gênero no mercado de trabalho. Outro ponto analisado é o uso de linguagem de gênero em anúncios de emprego, que influencia a participação e permanência das mulheres no mercado.