O dólar turismo alcançou o patamar de R$ 6 na manhã desta quarta-feira (6), refletindo a vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. A valorização da moeda americana, que vinha sendo impulsionada pelas pesquisas favoráveis ao candidato nas últimas semanas, seguiu a tendência de alta com o resultado eleitoral. Especialistas acreditam que o avanço deverá continuar, impactando diretamente o Brasil, que pode enfrentar elevação da inflação e novas altas nos juros.
Por volta das 11h30, o dólar comercial, usado em transações entre empresas, registrava alta de 0,64%, sendo cotado a R$ 5,783. Já o dólar turismo, que serve como referência para o câmbio de viagens, subia 1,26% e era vendido a R$ 6,051. A vitória de Trump, pautada em políticas de viés protecionista, sugere um dólar forte nos próximos meses, o que tem movimentado o mercado global.
“Essas políticas têm o potencial de aumentar o déficit fiscal dos EUA e pressionar as taxas de juros no país”, explicou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Durante a campanha eleitoral, Trump afirmou que pretende aumentar impostos sobre importações, com o objetivo de reduzir a dependência de produtos estrangeiros, uma estratégia que, segundo economistas, impulsionaria o valor do dólar frente a outras moedas.
Movimento do mercado internacional
O fortalecimento do dólar não é exclusivo no Brasil. No mercado internacional, a moeda americana também teve elevação em relação a outras divisas: subiu 1,8% ante o iene japonês, 2,1% frente ao euro e 1,1% em comparação ao dólar australiano. Desde que Trump começou a ganhar espaço nas pesquisas, investidores estrangeiros têm antecipado a compra de ativos em dólares, diante das expectativas de elevação nos rendimentos da renda fixa americana.
O cenário atual se assemelha ao que os especialistas têm apelidado de “Trump Trade”. A expressão reflete o movimento de investidores que buscam ativos denominados em dólar para resguardar seu capital, intensificando a valorização da moeda americana. Nas últimas semanas, essa aposta foi uma das principais forças por trás da alta do dólar em relação a outras divisas.
Histórico de alta do dólar
A última vez em que o dólar comercial se aproximou dos R$ 6 foi em 13 de maio de 2020, no auge da pandemia de Covid-19, quando fechou a R$ 5,90. Na última sexta-feira (1º), o dólar já havia encerrado o pregão em R$ 5,87, segundo maior valor nominal da história, impulsionado por incertezas em relação ao futuro econômico global.
Perspectivas para o Brasil
A tendência de alta do dólar acende um alerta para a economia brasileira, que já enfrenta desafios internos. De acordo com analistas, a moeda americana pode continuar se valorizando até o final de 2024, atingindo o patamar de R$ 6, a depender das políticas implementadas pelo governo Trump e das questões fiscais locais. A incerteza quanto ao orçamento brasileiro de 2026 também tem influenciado a valorização do dólar. Desde a última sexta-feira (1º), o mercado aguarda informações sobre os cortes de despesas planejados pelo governo federal.
Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu-se com ministros para discutir o pacote de ajuste fiscal. Participaram das conversas Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos). Até o momento, porém, não há um plano finalizado.
Declarações de Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou sobre o impacto das declarações de Trump no cenário econômico global. “O dia amanheceu mais tenso no mundo”, disse Haddad, referindo-se às propostas protecionistas defendidas pelo presidente eleito dos EUA. Apesar do tom incisivo de Trump durante a campanha, Haddad demonstrou cautela e espera que as ações no governo sejam mais moderadas. “As coisas às vezes não se traduzem da maneira como foram anunciadas e o discurso [de Trump] após os primeiros resultados já é mais moderado do que o da campanha”, observou Haddad, acrescentando que o Brasil deve concentrar-se em “cuidar da nossa casa”.