O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (8), em São Paulo, que o Brasil está melhor posicionado que os demais países da América Latina para enfrentar as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos.
“O Brasil tem reservas cambiais, tem um saldo comercial bastante robusto, está colhendo uma supersafra. E está com uma taxa de juros alta e crescendo”, defendeu o ministro
Para Haddad, os graus de liberdade que as autoridades econômicas têm no Brasil não são comuns. “Não é este o caso de nenhum outro país latino-americano, por exemplo, incluindo o México”, completou.
Segundo o ministro, esse “movimento brusco” tomado por Trump vai provocar algum desarranjo global, já que se trata de um “solavanco grande demais para não ter consequência”.
“Mas diante do incêndio, nós (do Brasil) estamos mais perto da porta de saída do que outros países”, comentou, ao participar do 11 Brazil Investment Forum, promovido pelo Bradesco BBI, na capital paulista.
De acordo com Haddad, com essa guerra comercial, os bens produzidos no Brasil podem chegar mais baratos nos Estados Unidos, se comparados a produtos de outros países. Isso, segundo ele, pode fazer com que o país avance “no que eles importam hoje”.
No entanto, ressaltou, o Brasil não está imune aos impactos dessa guerra comercial principalmente porque a China é o principal parceiro comercial do Brasil.
Para o ministro, ainda é cedo para fazer qualquer previsão sobre as consequências desse tarifaço. Por isso, ele ainda defende que o Brasil tenha prudência.
“Essa escalada vai ter um momento de muita incerteza, mas a pior coisa que o Brasil pode fazer nesse momento é sair a campo sem a prudência diplomática que nós sempre tivemos de mediação e também de consideração da nossa situação frente a parceiros que estão comprando cada vez mais no Brasil”, ponderou.
“A sociedade vai ter que pensar como se portar diante desse fato disruptivo. Mas não é o momento de anunciar medidas”, concluiu.
Escalada tarifária entre EUA e China
A tensão comercial entre os Estados Unidos e a China atingiu um novo patamar nesta quarta-feira (9). O Ministério das Finanças da China anunciou a aplicação de tarifas de 84% sobre produtos americanos, válidas já a partir de quinta-feira (10). A medida amplia os 34% já impostos na semana anterior e responde às tarifas adicionais impostas pelo governo americano.
Na mesma data, entrou em vigor nos Estados Unidos uma tarifa extra de 50% sobre importações chinesas, elevando a carga total a 104%. A elevação foi confirmada pela Casa Branca após o prazo final dado à China para recuar das tarifas impostas anteriormente. O governo chinês, no entanto, decidiu manter a retaliação e reiterou que está preparado para “revidar até o fim”.
A intensificação da disputa começou na semana passada, após o presidente Donald Trump anunciar novas tarifas sobre mais de 180 países, variando entre 10% e 50%, incluindo uma taxa de 34% sobre produtos chineses. Em resposta, a China aplicou tarifas extras de 34% sobre todas as importações dos EUA e prometeu manter a retaliação.
A China formalizou sua posição na Organização Mundial do Comércio (OMC), expressando “profunda preocupação” com a medida americana. “A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa profunda preocupação e firme oposição a essa medida imprudente”, disse o governo chinês em comunicado à entidade.
Um porta-voz do Ministério das Relações Internacionais da China afirmou que o país está disposto a negociar, mas exigiu respeito e igualdade por parte dos Estados Unidos. “Os Estados Unidos continuam abusando das tarifas para pressionar a China. A China se opõe firmemente a isso e jamais aceitará esse tipo de intimidação”, afirmou.
EUA minimizam impacto e projetam negociações bilaterais
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, minimizou os efeitos das novas tarifas chinesas, afirmando que a escalada representa perdas maiores para a China. Em entrevista à Fox Business, Bessent disse que a relação pessoal entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping poderia favorecer uma resolução do conflito.
“Um passo muito bom com a China seria eles reconhecerem os precursores do fentanil. Os chineses precisam punir esses exportadores para os EUA”, afirmou Bessent. Ele também indicou que o governo americano negociará individualmente com seus principais parceiros comerciais — Japão, Coreia do Sul, Índia e Reino Unido — para buscar equilíbrio nas relações com a China.
Segundo o secretário, os Estados Unidos manterão a política de dólar forte e devem recorrer à desregulamentação para estimular a compra de títulos do Tesouro por bancos.