”A literatura representa para mim a certeza de que a vida existe e é possível vivê-la”
A pandemia obrigou Eliseu, mestre em Literatura Africana de Língua Portuguesa, a trabalhar como auxiliar de serviços gerais num condomínio do Leblon, por não conseguir trabalho adequado à sua formação. Ele pretende voltar ao seu país de origem, decepcionado com a falta de sorte em sua estada no Rio. Eliseu Banori, poeta e autor de sete livros, nasceu República da Guiné-Bissau (país da África Ocidental), e está há 12 anos no Rio de Janeiro, próximo de lançar sua mais recente obra literária, “A história que minha mãe não me contou e outras histórias da Guiné-Bissau”, pela Nandyala Livraria e Editora. Será dia 25 deste mês, às 17h, no Quilombo Cultural Casa do Nando, à Rua Camerino, 176, Centro do Rio. O livro reflete as memórias de infância e juventude, com resgate de valores culturais do país onde nasceu esse guineense, voltado para leitoras e leitores juvenis.
“Preocupa-me o problema do preconceito racial que reina aqui no Brasil, além das desigualdades sociais sem limites. Eu já sofri muitos problemas de preconceito aqui no Rio de Janeiro”. Eliseu, escritor que conheci recentemente, é mestre em Literatura Africana de Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Eliseu: “Sempre sonhei fazer Letras e poder estudar num país de língua portuguesa, motivo de minha vinda ao Brasil”.
A pandemia anulou muitos de seus projetos. Já trabalhou como professor na Escola Nílton Braga, na Ilha do Governador e, ainda, na Escola Rubens Braga, em Bonsucesso (RJ). Com as voltas que o mundo dá, Eliseu não se abateu, mas teve que trabalhar como auxiliar de serviços gerais num prédio do Leblon, como forma de sobreviver e ajudar sua família. Ele, que atualmente reside no bairro de Sampaio, decepcionou-se com o Rio de Janeiro e está com o pé nessa estrada, como diria o poeta, digo, com data marcada para voltar à sua cidade natal, no final de outubro deste ano.
Foi um Rio que passou na vida desse escritor de 34 anos, que chegou a aceitar um cargo de auxiliar de serviços gerais, no Leblon, para sobreviver na ‘Cidade Maravilhosa’ A decepção com o Rio de Janeiro, apesar de amar essa cidade, acelerou sua mente a voltar para Guiné-Bissau, porque apesar de ele tentar oportunidades como professor em escolas do Rio, a pandemia engessou seus sonhos profissionais na cidade do Rio. Atualmente, Eliseu trabalha como auxiliar de serviços gerais em um condomínio do Leblon, Zona Sul do Rio, bem próximo do Posto 11, por onde ele gosta de passear e se inspirar para novas histórias, em suas horas de folga. Todos moradores do prédio onde Eliseu trabalha gostam demais dele, de seu alto astral, de sua sabedoria e educação, e de suas respostas práticas à vida, sem lamentações, mas com suas narrativas que encantam a todos, inclusive seus colegas de trabalho. Acontece que os moradores sabem que seu emprego lá no prédio é temporário. Eliseu é de uma família de 12 irmãos, embora somente ele tenha escolhido o Brasil como destino.
Um sonho sonhado e ainda não realizado. Será que o Rio vai deixar que Eliseu rume ao portão de embarque do Galeão, com destino à Guiné-Bissau? Eliseu Banori está com um olho voltado para este lançamento literário, dia 25 deste mês, mas também com outro na passagem de volta para Guiné-Bissau. O consulado de seu país poderia ajudá-lo nas passagens de volta, dele, de sua esposa e do filho de apenas nove anos. Mas as chances são nulas, segundo o escritor. Eliseu disse que recebeu ajuda de sua irmã, mas guardou dinheiro, depositado religiosamente a cada mês, o que lhe possibilitará viajar de avião (somente ele) para tentar emprego como professor em escolas de sua cidade, mas sabe que os salários por lá também não são os melhores, como aqui. Chegou a afirmar que, se tivesse uma oportunidade para dar aula em escola de ensino médio, no Rio de Janeiro, desistiria de retornar ao seu país.
Instagram: @eliseubanori
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