Será que nossos livros estão perdendo na tradução?
Será que nossos livros estão perdendo na tradução?
Entrar em uma livraria e correr pelos títulos, todos escritos em português, é bastante normal, mas quantos deles são, realmente, escritos em língua portuguesa?
Ao olharmos para a nossa lista de leituras sem muita atenção, às vezes, não notaremos o grande número de autores traduzidos que temos e não há nenhum pecado em tê-los — afinal de contas, dominar um segundo ou terceiro idioma para ler, infelizmente, não é uma realidade do nosso país onde apenas 5% das pessoas falam inglês e somente 1% tem fluência, segundo pesquisa da British Council de 2021. Nesse caso, as traduções se fazem extremamente necessárias.
E isso é para se falar apenas do inglês, que é um idioma de muita abrangência, se pensarmos em autores cujas línguas maternas são o polonês, ou sueco, norueguês, russo etc. perceberemos que a necessidade das traduções é ainda maior. Mas por que será que costuma ser mais comum ver as pessoas lendo livros traduzidos do que livros nacionais?
Eu gostaria de pensar duas coisas com o leitor sobre isso.
Primeiramente, para o caso dos livros escritos em língua inglesa, existe já um mercado bastante aquecido e com um trânsito muito grande. Toda a estrutura de agenciamento de autores e editoração acaba tornando mais comum também os trâmites para traduzir e exportar. Além disso, é visível que para alguns gêneros, muitas editoras têm algum favoritismo pelo que se faz fora do Brasil — o que talvez nos mostre que existem alguns espaços para serem explorados em nosso mercado. Para se ter uma ideia sobre o favoritismo pelos estrangeiros na hora de publicar e divulgar, verifiquei no site de uma grande editora do país, que toda a primeira página do seu catálogo não possui nenhum título nacional. Será que faltam escritores em terra brasilis?
Além disso, e já é até um chavão falar, falta incentivo. Existe no Brasil o Programa de Apoio à Tradução, que tem por objetivo traduzir autores nacionais e auxiliar com que as obras brasileiras cheguem a outros países. Entretanto, o alcance do programa (que já não era grande no início) fica cada vez menor com o passar do tempo. Em 2013, foram dadas 206 bolsas de tradução; em 2015, a metade; em 2019, apenas 53 e entre 2020 e 2021, somente 59. E antes que as vozes que dizem que “se esses livros fossem tão bons assim, eles não precisariam de ajuda do governo para serem traduzidos e divulgados no exterior”, vale lembrar de uma autora polonesa, Olga Tokarczuk, que teve auxílio do programa de apoio à tradução do governo de seu país. O “detalhe” para a escritora é que ela foi a ganhadora do Nobel de Literatura do ano de 2018.
O Brasil ainda não fez um Nobel de Literatura, e pensando nisso, quantos mais argumentos precisamos levantar para defender a necessidade de incentivar nossa cultura para que ela se espalhe por aí?
Até quando a falta de incentivo à cultura vai nos representar mais do que futebol e samba?...
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