Em entrevista ao Em Dia ES, o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, abordou a situação das arboviroses no Espírito Santo, com destaque para a febre do Oropouche e o aumento de casos de dengue no início de 2025. Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) indicam um crescimento de 33% nos casos prováveis de dengue nas primeiras semanas do ano, em comparação ao mesmo período de 2024, e 6.197 casos confirmados de febre do Oropouche até 12 de janeiro deste ano.
O Espírito Santo foi um dos primeiros estados fora da região amazônica a registrar a circulação do vírus Oropouche, identificado em abril de 2024 pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/ES). Hoffmann ressaltou que a resposta ao avanço das arboviroses exige esforços integrados de vigilância, diagnóstico e conscientização. “Trata-se de uma missão constante que exige planejamento, campanhas de conscientização, manejo ambiental, suporte diagnóstico eficiente e uma rede de atenção à saúde preparada para responder aos casos de forma ágil e eficaz”, destacou.
A febre do Oropouche apresenta sintomas semelhantes aos de outras arboviroses, como febre súbita, cefaleia, mialgia, artralgia, tontura e náuseas. “Ao sinal de sintomas, é fundamental procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima”, afirmou Hoffmann. Ele enfatizou a importância de ampliar a vigilância epidemiológica e realizar testagens eficientes para identificar a doença, considerando seu potencial para surtos significativos. Embora ainda não existam inseticidas específicos para combater o vetor do Oropouche, a Sesa tem intensificado campanhas de educação em saúde e ações de controle ambiental para evitar a proliferação do mosquito.
Segundo o secretário, em colaboração com o Ministério da Saúde, o Espírito Santo tem implementado medidas contra as arboviroses que incluem capacitações e oficinas técnicas, monitoramento e controle vetorial e campanhas de conscientização. Além disso, Hoffmann destaca que Estado trabalha para aumentar a cobertura vacinal contra a dengue entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. “Esforços estão sendo feitos para ampliar a cobertura vacinal em 2025, até gradativamente alcançar a meta de 90% de cobertura vacinal com a disponibilização de maior quantitativo de vacinas pelo Ministério da Saúde”, disse.
De acordo com Hoffmann, “Estamos atentos e temos adotado medidas alinhadas às diretrizes nacionais e implementando ações específicas no estado, como a criação do Centro Integrado de Comando e Controle de Arboviroses para coordenar e monitorar as ações de combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, incluindo a dengue. Este centro atua na articulação entre diferentes órgãos e municípios, garantindo uma resposta rápida e eficaz aos surtos”.
O secretário reforçou a necessidade de mobilização coletiva no combate às arboviroses. “Eliminem os criadouros dos mosquitos. Juntos, podemos reduzir o impacto dessas doenças e proteger a saúde de nossas comunidades”, declarou Hoffmann.
Confira a entrevista com o secretário na íntegra!
Em Dia ES Entrevista: Tyago Hoffmann, Secretário de Estado da Saúde
1. Qual é a atual situação das arboviroses no Espírito Santo, especialmente em relação à febre do Oropouche?
Secretário Tyago Hoffmann: As arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, e agora a Febre do Oropouche, representam um dos maiores desafios enfrentados por gestores de saúde pública em todo o país e não é diferente no Espírito Santo.
Essas doenças, transmitidas por mosquitos, principalmente pelo Aedes aegypti, demandam esforços contínuos que vão muito além do enfrentamento sazonal. Trata-se de uma missão constante que exige planejamento, campanhas de conscientização, manejo ambiental, suporte diagnóstico eficiente e uma rede de atenção à saúde preparada para responder aos casos de forma ágil e eficaz. O Espírito Santo registrou 163 mil casos prováveis de dengue em 2024. Em 2025, foram notificados 9 mil casos prováveis (Confirmados + em investigação) até o dia 13 de janeiro.
O Estado vive aumento de casos de dengue nas 2 primeiras semanas epidemiológicas (SE) do ano (em janeiro) de 33% em relação a mesmas semanas do ano passado. Obteve, ainda, aumento de 73% dos casos confirmados, tendo redução dos casos graves. No ES circulam os sorotipos 1 e 2 da dengue, não sendo identificado o tipo 3.
Sobre a Febre do Oropouche, até 12 de janeiro tem-se acumulados o total de 6.197 casos confirmados. Há um óbito confirmado de paciente adulto, sexo feminino do município de Fundão e três óbitos em investigação. Vale destacar que o Espírito Santo foi um dos primeiros estados fora da região amazônica a registrar a circulação do vírus em território, ainda em abril do ano passado, por meio de análises realizadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/ES). Esta ampliação da detecção foi seguida por demais estados onde não são áreas endêmicas. Por meio da metodologia de Biologia Molecular, o Lacen/ES passou a analisar todas as amostras suspeitas de arboviroses negativas para dengue, Zika e chikungunya. Damos total transparência aos dados das arboviroses com boletins estaduais, que podem ser conferidos no site mosquito.es.gov.br
2. O que diferencia a febre do Oropouche das demais arboviroses em termos de sintomas, riscos e impacto na saúde pública?
Secretário Tyago Hoffmann: As manifestações clínicas da Febre do Oropouche são parecidas com o quadro clínico de outras arboviroses, como dengue, chikungunya e Zika, embora os aspectos eco epidemiológicos dessas arboviroses sejam distintos. Os casos agudos de Oropouche evoluem com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. Ao sinal de sintomas, a pessoa deve procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima.
A febre do Oropouche destaca-se como uma arbovirose de risco emergente, com potencial para surtos significativos. É muito importante a testagem para a doença, que nosso Laboratório Central (Lacen) está muito dedicado, para que o melhor tratamento seja aplicado aos pacientes, reduzindo riscos de complicações. Temos o desafio também de investir na ampliação da vigilância epidemiológica, nas campanhas de educação em saúde e no controle do vetor para prevenir a disseminação dessa arboviroses, pois não há inseticida disponível para ser usado nos locais onde o inseto se reproduz.
3. Quais ações práticas estão sendo planejadas pela Secretaria de Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, para conter o avanço das arboviroses?
Secretário Tyago Hoffmann: A equipe da Vigilância em Saúde da Sesa tem orientado os municípios sobre o enfrentamento da arboviroses incluindo a Febre do Oropouche no estado, com a elaboração de protocolos clínicos destinados aos profissionais de saúde, Notas técnicas, realização de capacitações e oficinas técnicas como o Colóquio sobre Emergência de Oropouche na Região extra-Amazônica, em dezembro passado, que reuniu técnicos do País no tema.
Uma das principais recomendações, em especial neste momento com a chegada do verão, período que caracteriza o aumento da infestação do maruim, é evitar as áreas onde há infestação, principalmente para as gestantes, uma vez que a Sesa já identificou a transmissão vertical do Oropouche, além do caso de má-formação congênita em um recém-nascido.
Apesar da vacinação, neste momento, ainda não ser a principal ferramenta para controlar a dengue, o imunizante tem um papel importante na prevenção do adoecimento grave, internação e óbito do público-alvo, que são as crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações por dengue após os idosos (a vacina não foi autorizada pela Anvisa para pessoas acima de 60 anos).
4. Quais são as metas de curto e longo prazo da Secretaria de Saúde no enfrentamento às arboviroses?
Secretário Tyago Hoffmann: Estamos atentos e temos adotado medidas alinhadas às diretrizes nacionais e implementando ações específicas no estado, como a criação do Centro Integrado de Comando e Controle de Arboviroses para coordenar e monitorar as ações de combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, incluindo a dengue. Este centro atua na articulação entre diferentes órgãos e municípios, garantindo uma resposta rápida e eficaz aos surtos.
Temos realizado campanhas educativas em veículos de comunicação de massa, como TV e rádio. No final de dezembro soltamos a campanha publicitária de alcance estadual incentivando a população a combater a incidência das arboviroses eliminando criadouros do mosquito e para adotar medidas preventivas. Contamos ainda com mutirões realizados pelos municípios.
Continuamos trabalhando conjuntamente com os municípios, levando informação para que os pais e responsáveis levem suas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos para a vacinação contra a dengue. Até novembro de 2024, foram vacinadas 109.377 crianças e adolescentes com a primeira dose (D1), com uma cobertura vacinal de 44,34%. Já com relação à segunda dose foram vacinadas 41.250 com uma cobertura de 16,72%. Esforços estão sendo feitos para ampliar essa cobertura em 2025, até gradativamente alcançar a meta de 90% de cobertura vacinal com a disponibilização de maior quantitativo de vacinas pelo Ministério da Saúde.
Apelamos a população que vacine crianças e adolescentes de 10 a 14 anos contra a dengue. Até novembro de 2024, a cobertura vacinal com a primeira dose (D1) estava em 38,70% e com a segunda dose (D2) em 13,11%. Esforços estão sendo feitos para ampliar essa cobertura em 2025, visando reduzir a incidência.
Como suporte aos municípios a equipe da Atenção Primaria tem encaminhado uma planilha semanal com a identificação das gestantes e seu respectivo território, com objetivo de que essa gestante não se ausente das consultas prevista e dos exames solicitados e possa ser monitorada e cuidada em tempo oportuno, bem outras questões como monitoramento dos sintomas através da busca ativa das gestantes e familiares pelos ACS, elaboração de fluxograma de atendimento das gestantes desde o pré-natal até o momento do parto e da sua alta hospitalar, criação de um grupo condutor da Rede Materno Infantil com a participação de profissionais da Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Obstetrícia etc.
5. Como a Secretaria de Saúde está articulando esforços com os municípios do Estado no enfrentamento às arboviroses?
Secretário Tyago Hoffmann: Reconhecemos que o combate às arboviroses é uma luta que não pode ser vencida por esforços isolados. Contamos com o apoio do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS), que desempenha um papel estratégico no enfrentamento das arboviroses, sendo uma entidade que articula e representa os municípios no fortalecimento da saúde pública. Sua atuação é essencial para garantir a implementação de ações coordenadas e efetivas no combate às doenças.
Queremos mobilizar todas as esferas de governo, municípios, agentes comunitários de saúde e, principalmente, cada cidadão, para que juntos possamos reduzir o impacto dessas doenças e proteger a saúde de nossas comunidades. As arboviroses são um desafio constante, mas também uma oportunidade de demonstrar a força do trabalho coletivo e da determinação em superar adversidades em prol de uma saúde pública mais forte e resiliente.
O Governo do Estado está focado na capacitação dos profissionais de saúde, especialmente médicos e enfermeiros, devido à importância do manejo clínico adequado. Até o final de fevereiro, vamos capacitar 1.798 agentes de endemias e aproximadamente 5.031 agentes comunitários de saúde, com ênfase no combate ao Oropouche e à dengue.
Estamos fortalecendo as ações de vacinação com a incorporação de tecnologias como o envio de mensagem de texto (SMS) de alerta aos pais e responsáveis de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que ainda não receberam a primeira dose ou ainda não retornaram para receber a segunda dose da vacina dengue após os 90 dias de intervalo da primeira; estabelecendo parceria com o Programa Saúde na Escola para levar informação sobre a importância da vacinação e capacitando e incentivando os municípios a adotarem a metodologia do microplanejamento, que parte do reconhecimento da realidade local, considerando as características sociodemográficas, econômicas e sociais, bem como as necessidades dos municípios e das suas menores divisões, como a área de abrangência de uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) e da Unidade Básica de Saúde (UBS), fortalecendo a descentralização e a territorialização para planejamento das estratégias de vacinação.
6. Como o Espírito Santo se prepara para lidar com o aumento previsto de casos de dengue em 2025?
Secretário Tyago Hoffmann: É muito importante o controle da proliferação do mosquito. E para isso, temos atuado em colaboração com o Ministério da Saúde (MS), com equipes no campo realizando ações de controle do vetor e investigações epidemiológicas, além de fornecer orientações aos profissionais de saúde. Entre as principais ações em andamento, podemos destacar:
• Instalação de Armadilhas Ovitrampas: Mais de 4.000 armadilhas foram instaladas em 15 municípios, estamos com processo de aquisição de mais 50.000 unidades para distribuição os 78 municípios do Estado.
• Borrifação Residual Intradomiciliar (BRI): Ação realizada em áreas de grande circulação e em prédios públicos, como escolas, visando o controle do vetor transmissor do vírus da dengue.
• Levantamento de Índice Rápido de Aedes aegypti (LIRAa): Apoio aos municípios na realização dessa importante ferramenta de monitoramento.
• Tecnologias de Controle Vetorial: Em diálogo com a Secretária Nacional, Srª Ethel, discutiu-se a implementação de novas tecnologias de controle vetorial, como o uso da Wolbachia, uma bactéria que infecta o mosquito Aedes aegypti e o torna estéril. Contudo, algumas dessas tecnologias ainda não estão disponíveis em escala operacional para todos os estados e municípios, entre outras ações.
7. Há previsão de novas tecnologias ou métodos de controle de vetores, como o uso de mosquitos estéreis ou infectados por Wolbachia?
Secretário Tyago Hoffmann: A Nota Técnica do Ministério da Saúde (37/2023/CGARB/MS) apresenta orientações para implementação de novas tecnologias de controle vetorial, wolbachia – mosquitos estéreis. Entretanto algumas dessas tecnologias ainda não possuem escala operacional para serem disponibilizadas para todos os estados e municípios.
No Espírito Santo, a nossa Vigilância em Saúde optou por disponibilizar inicialmente para 15 municípios piloto inicialmente, o monitoramento por ovitrampas e a borrifação residual em prédios públicos e locais de grande circulação de pessoas – Estratégia BRI. Estamos em tratativas com outros sete municípios para a ampliação da estratégia ovitrampa/BRI e considerando a situação epidemiológica atual, em comum acordo com o MS, iremos disponibilizar imediatamente a estratégia BRI para os 78 municípios do estado. Reforço o apelo a toda a população que faça sua parte no controle dos vetores que transmitem doenças, eliminando os criadouros – a água parada, as matérias orgânicas que ficam nos quintais. Juntos, podemos reduzir o impacto dessas doenças e proteger a saúde de nossas comunidades. Repito, as arboviroses são um desafio constante, mas também uma oportunidade de demonstrar a força do trabalho coletivo e da determinação em superar adversidades em prol de uma saúde pública mais forte e resiliente.
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