agricultura

Onda de calor afeta produção de café conilon no Espírito Santo

20 dez 2023 - 13:41

Redação Em Dia ES

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Levantamento publicado pela consultoria Climatempo aponta uma queda esperada de de 11,2% da produção de café conilon no estado em relação à safra passada
Onda de calor afeta produção de café conilon no Espírito Santo. Foto: Joa Souza/Getty Images

A recente onda de calor causada pelo fenômeno El Niño provocou temperaturas recordes em calor durantes os meses de novembro e dezembro, que causaram impacto negativo nas lavoura de café conilon do Espírito Santo. Especialistas explicam principais impactos.

Levantamento publicado pela consultoria Climatempo aponta uma queda esperada de de 11,2% da produção de café conilon no estado em relação à safra passada.

A colheita estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) chega a 16,17 milhões de sacas e, mesmo com a redução confirmada, configura a terceira maior colheita registrada para a espécie.

A Climatempo aponta que esse resultado é reflexo da menor produtividade verificada.

“Esse resultado é influenciado pelas condições climáticas adversas registradas no principal estado produtor, Espírito Santo, que impactou parte das lavouras, principalmente em fases iniciais do ciclo. No estado capixaba, a colheita está estimada em cerca de 13 milhões de sacas no total, sendo 10,16 milhões de sacas apenas de conilon”.

A professora do Departamento de Geografia da UFES, Ana Christina Wigneron Gimenes, alerta que o impacto da onda de calor no solo deve ser discutido com urgência, devido aos efeitos negativo que provocam nas safras.

“O desenvolvimento de um cultivo agrícola depende das características físicas do solo, fertilidade, disponibilidade de água, entre muitos outros fatores. Quando qualquer um desses é modificado afetar na produção”.

Na cultura do café, como exemplifica o professor do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da UFES, Samuel de Assis Silva, temperaturas elevadas em períodos reprodutivos, pode significar drástica redução de produção, pois causa o abortamento dos botões florais.

Para essa cultura, as temperaturas elevadas podem significar, também, na redução de qualidade.

“Pois o processo de maturação acaba sendo acelerado e não há tempo suficiente para o acúmulo de açúcares nos grãos, os quais são fundamentais para maior expressão qualitativa”, explica Samuel de Assis.

O especialista ressalta ainda que maiores temperaturas favorecem também o desenvolvimento de pragas e doenças.

“O que expõe os cultivos a ação desses agentes bióticos e todo o tipo de dano por eles causados”.

Principais impactos
Dentre os principais impactos listados pela especialista, estão o atraso no início do plantio com o prejuízo da germinação.

“Isso acontece, pois nos primeiros centímetros do solo, isto é, horizontes menos profundo, é onde a variação térmica é maior e justamente onde são dispostas as sementes”.

O professor explica que as plantas cultivadas se comportam de diferentes formas quando submetidas a estresses térmicos.

“Entretanto, é um consenso que a quase totalidade delas sofre com temperaturas muito elevadas. Desde problemas fisiológicos, até mesmo àqueles de ordem estrutural, os impactos tendem a ser significativos, comprometendo o seu desenvolvimento”.

Neste sentido, o especialista destaca que os produtores rurais são afetados quase sempre pela redução da produtividade das culturas.

“Seja imediatamente no período das altas temperaturas – é o caso de cultivos de ciclos mais curtos e altamente sensíveis – ou mesmo em períodos posteriores a esses, como em cultivos de ciclos longos e/ou perenes”.

Para os cultivos de ciclos mais curtos, os impactos tendem a ser maiores, culminando, em alguns casos, na perda de toda a produção.

“É válido ressaltar que a redução de produtividade quase sempre vem acompanhada de aumento de custos, em especial aqueles para minimizar e, quando possível, reverter as consequências do estresse térmico”, elucida Samuel de Assis.

Dentre o especialista lista as hortaliças e as frutíferas de uma forma gera que são afetadas, tanto no período pré-colheita quanto no pós-colheita, reduzindo a vida de prateleira dos produtos.

Mas não são apenas essas, pois a depender do estágio de desenvolvimento das plantas, elas podem ser mais ou menos afetadas; plantas em períodos reprodutivos, por exemplo, são mais suscetíveis a altas temperaturas e sofrerão mais do que aquelas que estão em períodos vegetativos.

E não é apenas o plantio que é afetado com a onda de calor, a pecuária também sofre impactos.

“Quase sempre esses impactos são imediatos e podem significar na perda de parte do rebanho e/ou de grande parte da produção. Um exemplo disso é a produção de leite onde os reflexos das altas temperaturas são sentidos imediatamente na redução da produção das vacas e na consequente perda econômica por parte dos produtores”, ilustra o professor.

Prejuízos
Os prejuízos quase sempre são financeiros e aqueles indiretos provenientes destes, como explica o professor.

“A redução de produção é o principal e o mais expressivo, pois não compromete apenas aquele período, mas reduz a capacidade de investimento por parte do agricultor, impactando safras e anos posteriores”.

Para algumas culturas, há real risco de desperdício da safra, seja por considerar esse desperdício como perda de quase toda a lavoura ou mesmo por considerar a redução de vida de prateleira dos produtos colhidos.

“Uma vez impactando um segmento da agricultura é de se esperar que todo o setor tenha prejuízos e aqui se inclui, inclusive, os consumidores, pois significa aumento do valor de comercialização do produto”.

Somado aos riscos estão as medidas para driblá-lo que aumentam o custo da produção.

“Com períodos de altas temperaturas as plantas perdem mais água no processo de transpiração e da mesma forma o solo, porém a partir da evaporação. A essas duas perdas analisadas em conjuntos damos o nome de evapotranspiração. Quando seus valores são maiores, maior será a periodicidade das irrigações bem como do volume de água a ser utilizado (maior lâmina a ser aplicada)”.

Além do custo monetário, há também o impacto no abastecimento hídrico, uma vez que o aumento da irrigação significa maior sobrecarga sobre os sistemas hídricos de onde a água é capitada para abastecer os sistemas de irrigação e também os custos, em especial com energia.

Devido à estiagem e à baixa vazão nos principais rios e cursos d’água de domínio do Espírito Santo, a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) declarou, no último dia 8, Estado de Alerta sobre a situação hídrica no Estado.

A Resolução 003/2023 sobre o Estado de Alerta foi publicada no Diário Oficial do Estado e apresenta algumas medidas restritivas a serem seguidas pelos diversos setores usuários da água, dentre eles, a agricultura.

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Atualizado: 29/12/2023 20:14

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