O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome, do chamado grupo NPK
A ministra da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou, nesta 4ª feira (02), que o Brasil tem estoques de fertilizantes suficientes para a agricultura até outubro. Em entrevista à CNN, a ministra disse, no entanto, que não há riscos de desabastecimento. Mas que a escalada dos preços preocupa.
O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome, do chamado grupo NPK: nitrogenados (N), fósforo (P) e potássio (K). No caso do potássio e dos nitrogenados, a dependência externa chega a 95%. A Russia fornece ao Brasil e a outros países todos os 3 produtos. As sanções financeiras que vêm sendo aplicadas a Moscou, por conta da invasão à Ucrânia, devem atingir as exportações de fertilizantes.
Já Belarus é um dos principais fornecedores de potássio. Desde dezembro, o país está sob embargo dos Estados Unidos e da União Europeia, em retaliação às práticas anti-democráticas do presidente Alexander Lukashenko, e, por isso, não vinha exportando pelos portos da Lituânia. Com a guerra, o canal de escoamento que vinha sendo adotado, pelo território ucraniano, também foi bloqueado na Ucrânia.
“Com a sanção da União Europeia, mandavam produtos por países vizinhos, como a própria Ucrânia, e isso não será mais permitido. Então, isso realmente fecha esse mercado de potássio de Belarus, que já estava fechado, mas agora as sanções estão mais fortes“, disse Tereza.
A ministra afirmou que vai embarcar no dia 12 para o Canadá, para negociar aumento de fornecimento de potássio para o Brasil. O Canadá está entre os principais produtores e exportadores mundiais do fertilizante.
“O nosso maior gargalo no Brasil é o potássio. Nós importamos mais de 90% do que nós consumimos. Esse é o produto que temos mais preocupação. Cada vez mais o Brasil e outros países vão precisar desse fornecimento do Canadá“, disse Tereza.
Na 3ª feira (01.mar), a senadora Kátia Abreu disse que o Brasil deveria se esforçar para pedir um cessar-fogo na Ucrânia e que a guerra vai inflacionar os preços de toda a cadeia do agronegócio.
“O setor produtivo agrícola será atingido, na medida em que o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado russo, que correspondem a 65% do total das importações brasileiras da Rússia”, disse Kátia.
O Governo Federal, Ministério da Agricultura, Abastecimento e Agropecuária planejava lançar um Plano Nacional de Fertilizantes em dezembro. Mas até agora a iniciativa não se concretizou. Na entrevista à CNN, Tereza Cristina disse que o Ministério da Casa Civil e o Ministério da Economia estão revisando o texto do plano, que deve ser lançado até 17 de março.
Tereza não deu detalhes sobre o plano, mas afirmou que a produção de fertilizantes no Brasil esbarra em gargalos legislativos, tributários e ambientais.
“Um problema muito sério que são as licenças ambientais, que demoram 5, 10 anos e, às vezes, os investidores acabam desistindo de explorar esse potencial que temos principalmente no potássio, que é lá no Amazonas, na região de Autazes”, disse Tereza.
O Poder360 mostrou, em novembro, que a detentora do direito de exploração da mina de Autazes é a Potássio do Brasil e que, segundo a Embrapa Solos, as restrições socioambientais para o início da produção, que envolvem áreas indígenas, estão sendo superadas.
“A gente espera que Autazes comece as obras em 2023 e a operação em 2025“, afirmou José Carlos, pesquisador da Embrapa Solos, na ocasião.