A letra, a sonoridade e o visual oferecem uma experiência sensorial ao ouvinte
O cantor capixaba Dan Abranches lança nesta quinta-feira (19) seu primeiro disco de carreira, TITAN (ouça aqui). O álbum contém dez faixas, sendo que três delas, “Sunday Morning”, “Dark Cloud” e “Come”, já haviam sido apresentadas ao público anteriormente.
TITAN é uma palavra grega que significa “gigante”. Foi assim que Dan se sentiu depois de ter passado por um processo emocional intenso, de muitos altos e baixos, por conta da depressão. “Sou uma pessoa trans que só se assumiu aos 28 anos, então eu vinha carregando muita coisa há muito tempo”, ele conta.
Escritas em 2019, as músicas que compõem o disco refletem cada fase de sua vida, percorrendo temas como suicídio, depressão, ansiedade, paranóia, e, agora, culminando no sentimento de libertação. “As músicas foram colocadas em uma ordem que, de fato, conta uma história de altos e baixos. Eu diria que esse álbum foi importante pra eu me libertar também de toda a melancolia que eu trazia há tanto tempo na minha vida e também na minha arte”, reflete o artista.
Depois de finalizar as composições, o cantor foi passar um tempo em Portugal, um lugar que lhe trouxe muita inspiração, principalmente para as músicas mais melancólicas, já que os dias quase sempre eram cinzas e frios. Lá também foi onde ele realizou de forma caseira a pré-produção do disco. Foi nessa época que Dan foi aprovado para participar do programa The Voice Brasil, quando assumiu publicamente a sua transexualidade.
E não só as letras contam histórias. Também produtor musical, Dan buscou experimentar diferentes ritmos e timbres ao longo de TITAN, a fim de permitir que as melodias transmitissem sentimentos por si só. As três canções acústicas de TITAN, por exemplo, representam respiros em meio a intensidade, traduzindo um período mais brando de sua vida. Por isso seus arranjos são mais simples e transmitem tranquilidade.
A construção audiovisual do novo álbum também seguiu pela mesma linha. Criado em conjunto com os diretores da MAGU e a artista visual Flora Fiorio, os vídeos retratam a narrativa contada no disco como se fossem episódios. “‘Sunday Morning’ é a continuação de ‘Dark Cloud’. Em ‘Come’, eu queria água, cachoeiras e a continuação desse percurso de libertação. Em ‘Fake City’, eu queria caos urbano, videogame e a entrada do personagem para um mundo virtual. E os demais vídeos são as passagens de um momento para o outro”, descreve Dan.
Nessa experiência sensorial, gêneros como Blues, R&B, jazz, neo Soul, Rock, Progressivo, Trap, Folk e Emo foram bastante explorados. “Neste trabalho em especial eu não pensei tanto comercialmente, eu deixei as músicas fluírem como eu sentia e sem estipular regras na estrutura, nas letras, nos arranjos e no tempo das músicas”, conta. A produção foi finalizada juntamente com o produtor musical Leonardo Chamoun.
Carregado de representatividade trans, uma das faixas destaque de TITAN, “Fake City” tem participação de MC Afronta, que fala sobre as dificuldades de ser um corpo trans no Brasil. TITAN é um desabafo sincero que representa tanto a tristeza profunda quanto o respiro aliviado de poder ser quem se é. “É um álbum intenso, de se confrontar mesmo, para sentir tudo. Para se perder e também se achar”, conclui Dan.